sábado, 27 de setembro de 2008

A garrafa da discórdia

Com uma garrafa girando em cima da mesa e alguns copos girando em nossas cabeças eu e meus amigos jogávamos verdade ou conseqüência mais uma vez. Numa dessas surgiu a pergunta: ‘quantos namorados você já teve?’ e a polemica foi instaurada.


Alguns nem precisaram contar.
‘tive dois, que juntos não valiam meio...’
‘tive um só. Cinco anos felizes e dois meses horríveis...’

E alguns precisaram contar. Eu era um deles. Felizmente só precisei dos dedos das mãos, ao contrario de outros que precisaram de mãos pra ajudar.
‘Péra! Uma rapidinha conta?’
Coro: ‘vadiaaaaaaaaa’

E as brincadeiras rolaram noite adentro. Mesmo assim, no dia seguinte, além de uma puta dor de cabeça, fiquei pensando: ‘Será que com o meu numero eu posso ser considerado vadia? Quem vai ser o próximo namorado? Onde eu estou e porque eu estou usando a camisa do Carlos?... Enfim, o que seria um número ‘normal’ de namorados?’

Então, na segunda-feira seguinte resolvi fazer uma pesquisa de campo e perguntei para os meus amigos gays e não-gays. Surpreendentemente as respostas foram parecidíssimas com alguns com poucos grandes amores e outros contando ate nos pés quantos namoros tiveram. Provavelmente nem estaria escrevendo aqui se não tivesse ouvido uma reposta que me deixou ainda mais perplexo. Justamente da Camila [a mesma do post ’Contra a natureza?’ ]...



‘eu já perguntei pra Fê, pra Lu, pra Na e agora pra você: quantos namorados teve?’
‘...er... um só.’
‘Um?!?... tipo, só com um cara mesmo?
‘é, porque?!? Quantos você teve?’
‘ah... uns *piiii* só’ [censurado!]
‘Ah, mas isso não quer dizer nada... quantos desses *piii* você amou de verdade?’
[pausa constrangedora]
‘ o meu namoro durou dos 14 aos 18 anos e terminou porque já não tínhamos mais coisas em comum... você alega ter mais relacionamentos que eu, mas quem de nós dois você acha que sabe mais o que é namorar?
[mais uma pausa constrangedora]


Eu fiquei nesta última pausa por alguns minutos pensando no que responder. Certo que amei alguns, mas grande parte não merecia nem a alcunha de namorado [como por exemplo Dr. D em Químicas Perigosas ] E como quem puxa um fio solto do casaco, este pensamento me levou a outro que levou a outro que me levou de volta pra garrafa do começo, jogada embaixo da mesa da sala, onde numa cena digna de filme joguei tudo pro ar e disse:

“Foda-se! Namoro agora só com amor de verdade!”


Gire a garrafa para a próxima pergunta...



Para ouvir depois de ler: Solange Knowles - I decided

domingo, 21 de setembro de 2008

The last Love Cat

Sábado à noite. Durante toda a semana as pessoas esperam por este momento para poderem esquentar as pistas de dança e cometerem todas as loucuras que a escuridão pode trazer. E, considerando que já estava há um mês sem sair de casa, eu estava pegando fogo. Claro que não vou pra qualquer lugar, o pagode da esquina não era uma opção. Mas com um telefone e os meus amigos a esperança de terminar bem à noite ainda existia. Infelizmente, com todos sem dinheiro por causa da Madonna ou sem tempo por causa do vestibular as minhas opções de companhia diminuíram. Mas, na ultima hora, Henrique me liga avisando que coincidentemente uma Ultra Love Cats ia rolar naquela noite. E eu, que tinha jurado não mais pisar lá, tive de rever minha promessa até por não lembrar porque a tinha feito. Ah, e por ter sido ‘subornado’ com caipirinha de graça também.

Antes de seguir, uma recapitulação. Depois do dilema da última semana [ler ‘Vontades não realizadas’] decidi que, mesmo se não ficasse com Rafael, não iria continuar com Luan só porque era confortável. Então na sexta chamei-o e fui sincero. ‘Não posso te dar esperanças em algo que não vai ter futuro’. Ok, pode me bater, mas prefiro uma verdade cruel a uma mentira ilusória. Mas o que me surpreendeu foi o fato dele não reagir negativamente, mas sim de dizer que ‘tudo bem, você sabe que eu sempre gostei de você...’ Preferia que ele me xingasse. E o fato dele com certeza estar na festa foi um dos motivos pra eu não querer ir, mas a vontade de dançar falou mais alto.

Então lá fomos eu e meus amigos para mais uma Love Cats. O inicio foi chato, mas depois de algumas bebidas já estávamos dançando e zoando como sempre fazíamos. De repente Luan brota do nada na pista e vem se aproximando dançando e olhando pra mim de jeito quase hipnótico. Ao chegar perto, sussurra no meu ouvido um ‘desculpa se fiz alguma coisa pra você não gostar de mim... adoro muito você’... E por um segundo vacilei ou pela proximidade e calor do momento, ou por estar pra lá de marrakesh pela caipirinha do Henrique, mas o fato é que terminamos nos beijando. Depois desse segundo, meus pensamentos voltam e começo a me deprimir por aquela situação de dar corda pra algo que não iria pra frente.

Em horas como essa o acaso se faz presente e prega sua peça. Meu celular começa a tocar. Como quem consegue a deixa perfeita, digo que vou atender do lado de fora e saio correndo. Já na luz vejo o que estava escrito: ‘Maurice chamando’. Perdi a respiração por mais um segundo e quando ia amaldiçoar o acaso percebo que ele estava na minha frente, rindo da minha cara de apressado.
‘Oi! Sabia que você estava aqui! Desculpa ter atrapalhado você, com o garoto lá...’
‘Não tudo bem, [foi ate melhor assim...] Mas o que você ta fazendo aqui?!?’
‘Vim com uns amigos da faculdade, acabamos caindo aqui...’

'coração na mesa, decepção com certeza...'

Henrique, de longe nos vê conversando e chega junto. Como meu melhor amigo e escudeiro, ele conhece a historia e o cara e o dramalhão que ele me fez passar.[se não conhece leia ‘Maurice’]
Então, assim que ele se despediu pra se juntar aos amigos, meu amigo me encostou na parede e disse ‘Nada de ficar com ele!! Amigo, Maurice NÃO!!’.
E antes que eu pudesse falar um ‘mas...’, já tava todo mundo a minha volta falando pra eu não fazer o que o meu tesão dizia pra fazer. Nessas horas é bom circular.

A música continuou, o DJ se animou e as pessoas começavam a perder a linha. E no meio da animação acabei esbarrando com Thiago. O esbarrão seguiu com uma troca de olhares 43, quase como num documentário de caça no Discovery Channel. As presas se encaram, se apresentam, começam uma leve corte [que não dura muito] e partem para o bote. Só pra deixar registrado foram só beijos. E foram ótimos. Thiago era um cara muito legal, passamos o resto da noite juntos. Entretanto, lá pelas tantas tocou uma tal música [que não lembro agora] que ele adorava. Me puxando pela mão ele me leva para dançar na frente do DJ. E, assim como na primeira vez, Luan brota novamente de sei-lá-onde e, vendo que tava acompanhado, faz cara de cachorro pidão. Com a musica agitada, Thiago se desvencilha do meu braço e começa a dançar enquanto Luan tenta insistentemente segurar minha mão. As pessoas em volta já não estavam entendendo nada. E eu, me achando numa comédia meio trágica e vendo o caráter explosivo daquela situação soltei a mão dos dois e fui pro bar... Na duvida, meu bem, pede mais uma cerveja.

'last dance, last chance for love...'

Entre idas e vindas, só fui embora quando a ultima musica tocou. Já tinha me esquecido como era voltar pra casa de manhã. No caminho de volta me lembrei porque tinha prometido não mais voltar naquela festa, o que fez todo sentido na voz do Henrique:

‘Esta pista já está muito manchada com os corações partidos e paixões não correspondidas’





Para ouvir depois de ler: ABBA - Mama Mia

sábado, 13 de setembro de 2008

Vontades não realizadas

Escrevi este post há três dias com lápis de desenho. Isto é para que perceba o quão sem tempo estou. As primeiras provas chegaram e os prazos começam a ser delimitados. Com isso passa-se mais tempo na faculdade e menos em casa. O lado bom é que a mente fica constantemente ocupada não deixando espaço para besteiras. Mas o lado ruim é que a convivência forçada com meus coleguinhas de classe trouxe-me mais confusões pessoais. Parece que não consigo ficar fora de um bom dilema emocional. Bem, vamos aos fatos.
Há duas semanas estava saindo com um garoto de letras, Luan. Ele era desafeto do Jorge [vide post ‘George e Jorge’] e nos conhecemos graças a uma reviravolta novelesca quase mexicana e que não vale a pena ser mencionada. O que precisam saber é que no final eu fiquei com Luan e Jorge ficou com um mandado de segurança. Luan é um cara simpático, atencioso, assumido e possuía lindos olhos azuis. Ok, as coisas entre nós não eram flores, mas o problema era comigo. Desde o começo achei tudo muito aguadinho entre nós, mas nossa relação acabou se tornando algo confortável e conveniente para mim, já que sempre estava ocupado. [nota pessoal: me senti um cafajeste ao escrever isto... ].
Os dias vão passando e nada demais aconteceu: Lu me mandava mensagens, saiamos pra beber e dançar e me distraía. Até que as provas começaram e, além da falta de tempo, me deparo com um aluno novo, Rafael. Ele era um garoto típico e por isso mesmo, ideal: moreno, com cabelos compridos e olhos escuros que sorriam e sempre estavam a brilhar. Gostava de mágica, malabares e revistinhas.
Ate a última aula de Historia da Arte, era apenas mais um rosto que me dava bom dia. A aula em questão era um tédio. O professor, gago, passava slides numa sexta após o almoço. Desnecessário dizer que todos estavam quase dormindo. Nesta hora Rafael chega, atrasado como sempre. Ao abrir a porta, ficou procurando dentre os vários sonolentos da sala ate me encontrar e, sorridente, vir em minha direção. E naquele caminhar em slow motion algo na minha mente fez um click, numa daquelas conclusões quase obvias que acontecem: Rafael era perfeito. É claro que eu já tinha reparado que ele era bonitinho, mas nunca o tinha visto daquela maneira. Era como se de repente ele se tornasse não só atraente, mas pudesse ser tudo o que eu queria em alguém. Por exemplo, das poucas vezes que conversamos, percebi que ele se interessava pelo que eu gostava e ele sempre me fazia rir [...]. Ele sentou na minha frente e ainda sorrindo disse: ‘Perdi muita coisa? Depois me passa suas anotações...’. Eu não estava anotando nada. ‘Claro, eu passo a limpo e te entrego’. O professor pigarreou censurando nossa conversa. Imediatamente viramos pra frente, mas não sem antes ele piscar pra mim.

'my neck, my back...'

Meio abobalhado com minha descoberta e com a aula ainda desinteressante, passei a analisá-lo. Ele tinha a nuca mais bonita que já vi. Já me imaginava beijando-a naquele momento, quase sentindo meus lábios e seus arrepios. Subiria até sua orelha onde sussurraria uma besteira qualquer e passando meus braços envolta dele terminaríamos nos beijando como namorados. É claro que não fiz nada disso, mas quando dei por mim estava com uma puta ereção em plena aula de historia. E eu só tinha visto a nuca dele.
Sem jeito, corri para o banheiro para esfriar a cabeça, com perdão do trocadilho. No caminho, encontrei Camila, a mesma da primeira chopada [post ‘Contra a natureza’] que era da turma dele, então comecei a lhe fazer perguntas sobre o moço.
Como disse no começo, este não é um caso de final feliz e sim de confusão sentimental. Acontece que não só Rafael era hétero como ele namorava há dois anos uma menina, Luiza. Meu queixo foi ao chão, mas me segurei o suficiente pra dizer ‘Hetero?!? Que desperdício...'.
A aula seguiu comigo tentando não ficar reparando nele [como se fosse possível], mas a angústia gerada por essa paixonite relâmpago me colocou em cheque: estabilidade conveniente e aguada com Luan ou tento a chance com o hétero que me é só sorrisos?

'desliga a televisão e vai ler um livro...'

Sinceramente.... Acho melhor voltar para os estudos...



Para ouvir depois de ler: Vanessa da Mata - Amado