domingo, 18 de outubro de 2009

Cafeteria





:Oi, você pode pegar uma colher para mim?

:Sim, toma. [...] Ta tudo bem com você, Luis?

:Ta, ta tudo bem. As coisas só andam um pouco agitadas e... quer um pouco de café?

:Não, obrigado... Mas noticias suas seriam legais.

:Nossa, não sabia que sentia tanta falta assim de mim.

:Não sinto. Mas costumo me perguntar porque as pessoas somem desse jeito.

:Ah, você sabe... O de sempre... São as mesmas velhas desculpas de trabalho, falta de dinheiro e de tempo.

:Ta, isso é o que você responde para os outros. Acho que já conversamos a tempo suficiente para um pouquinho de consideração, não?

:Ok, ok. Desculpe. É só que as coisas loucas de sempre estão mais loucas que de costume. E devo dizer que minha vida andou ocilando para tal nível de drama, que ia competir com as novelas do SBT – o que não era o meu objetivo. Mas nada que merece preocupação. Por exemplo, Fabio voltou com o Jornalista niteroiense, a qual eu já havia falado. Não sei se vai dar certo, mas o fato é que ele parece feliz e eu só posso aplaudir o relacionamento.[...] Henrique também. Ele ainda está com Rogério, mas não sei bem porque cada dia mais a gente se distancia. [...] Minha mãe decidiu lançar suas memórias e me pediu para ser o revisor. O engraçado é que antes do terceiro capitulo o livro já virou burburinho entre os familiares, com alguns ameaçando de processo e tudo. O que só fez o livro se tornar mais e mais interessante. [...]

:Não esquece de me mandar uma cópia. Mas até agora você só falou dos outros. E você?

:Eu? [...] Bem, eu ainda estou um pouco confuso sobre muita coisa. Tinha parado de postar porque estava experimentando coisas novas. Um pouco de ilustração, um pouco de musica, fotografia. E acabei me perdendo nisso tudo. [...] Eu e eduardo fizemos oito meses semana passada. E eu fui para São Paulo. Sozinho. Não foi por opção, mas meio que virou uma crise entre nós. Mas não é nada demais. Nada que possamos solucionar. Mas tenho de dizer que aquela cidade mexeu comigo.

:Ah, não... Vai me dizer que aconteceu ‘alguma coisa’ lá?

:Se esta me perguntando se eu traí o Eduardo eu digo que não, não aconteceu. E não tem nada a ver com isso. Acho apenas que fiquei deslumbrado com o que vi. E olha que eu não vi muita coisa.

:Então é um carioca considerando virar paulista?

: Não me entenda mal. Eu conheci pessoas e lugares com o estilo de vida que eu gostaria para mim. E apesar de achar que as Olimpíadas não vão ajudar nada a cidade, eu ainda amo muito o Rio. Tem pessoas e lugares aqui são insubstituíveis.

: Você realmente é confuso.

: Pois é. É unânime. Mas ainda estou vivo e com muito o que fazer. [...] É só não esquecer de mim que eu volto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Indefinição certa






“Just do it
Because you want it,
Not because you saw it.”

Copacabana Club em Just Do It




Existe uma infinidade de livros, filmes, músicas e blogs que tentam descrever o amor. É o assunto preferido de todos os tempos a ser contado pelas pessoas. Há os que preferem o lado onírico das relações platônicas, com paixões intensas, cavalos brancos e cartões de crédito sem limite. Outros apenas gostam da boa e velha sacanagem. E quando muita gente fala sobre a mesma coisa dificilmente elas entram em conceito. Há os que encontram o amor na fila do pão, há os encontram nos dark roons. Há os que vivem se esbarrando sem nunca sossegar e ainda os que nunca o vão encontrar. Mas mesmo os que já tiveram a decepção do primeiro amor ainda esperam uma historia romântica vinda depois de muita superação pessoal, falas piegas e potes de sorvete. Afinal, qual é a graça da vida sem uma batalha final, sem obstáculos intransponíveis e muitas montanhas para escalar? Mas o que você faz depois de vencer a batalha? Onde você guarda suas armas? Onde você guarda sua vontade de subir quando chega no topo?

A verdade é que eu sentia falta da vida de solteiro. De sair com os amigos para falar mal dos ex namorados, tomarmos umas cervejas e sairmos para a noite; de todo o jogo de sedução que pode rolar: das cantadas baratas dos caras bonitos que não precisavam dizer um oi às cantadas dos caras que mesmo se dissessem tudo não iam levar nada; de paixões descartáveis e de quebrar corações.[...] Isso hoje parece tão distante. Mas o namoro não muda tudo. Não. Passa-se apenas a fazer trocas. Programas a dois são mais interessantes e existe a tentativa de conciliar os espaços na agenda com os amigos [coisa que eu ainda não consigo fazer direito, fato.]. Assim, o que antes era divertida agora parece distante e estranha. A noite, por exemplo, perde sua função, já que só se sai para beber e ouvir musica coisas que se pode plenamente fazer em casa.



Era um sábado a noite de uma semana conturbada de trabalho. Saio às 18 horas e ligo para Edu. Ele havia sido convidado para um brunch metido a coquetel em um clube na praia e estava saindo de lá naquela hora. Mesmo cansado, saímos para comer no Uno Duo no centro e decidir o que iríamos fazer. Ele queimado de praia, eu com olheiras profundas. Que casal encantador. Os meninos iam para uma festa no Cine Ideal,que só valia a pena por ter bebida liberada, e tinham colocado nossos nomes na lista. Por um momento pensamos em ir e então partimos para Copacabana. A praia a noite era inspiradora e pareciam que ate as musicas nas rádios contribuíam para uma noite agradável.

“Lu, hoje tem Ultra Love Cats também, sabia?”

“Sei... Colocaram nossos nomes lá também. Mas acho que seria sacanagem irmos para lá e não termos ido para o Cine.”

“É, eu sei... Não ia querer entrar também, to meio cansado. Mas bem que poderíamos dar uma passadinha na frente antes de irmos para casa, não?”


Havia algo de masoquista naquilo, mas fazer uma social nunca fez mal a ninguém. Achamos Laura saindo de um bar. Laura era uma caloura minha, mas que já conhecia anos antes da faculdade. Era uma party girl completa e estava planejando a sua própria festa. “Vai ser foda! Só vou chamar gente conhecida...” Obviamente ela cantou a gente para entrar na festa, mas já estávamos de saída. Bebemos uma com ela e pagamos a conta. Mas havia algo no sorriso dela quando contava da loucura da festa da noite anterior que me fez lembrar da minha época de festas nonstop. Quando foi que me perdi de mim mesmo? Por que deixei de freqüentar os lugares e falar com as pessoas? Ali eu era um peixe fora d’agua.

Atravessamos a rua e encontramos mais pessoas da faculdade. Luan fazia cena com seu cabelo novo. “Como assim você não vai entrar?!?”, espantou-se. Saímos a francesa e fomos para casa.

“Você sabe... Eu não gosto muito do Luan...”

“Não gosta?”


“Não é ódio. É só porque... sei lá, ele me dá um sentimento que não sei explicar. Ele é simpático, mas não posso deixar de sentir pena dele e dos amigos dele...”

“Olha, de certa forma eu ate te entendo [ate pelo fato de já ter ficado com o Luan], mas porque pena?”


“Não sei... De certa forma eles fazem parecer que a noite é como uma droga que apenas injeta a felicidade que ele precisa para continuar sua infeliz vida.”

Não soube direito o que dizer. Na conversa ficou subentendido que aquilo era ruim, mas que não sabemos o dia de amanha em que nosso relacionamento pode acabar e teremos de estar de volta na pista. E era sempre assim quando conversávamos e um assunto respingava em nós. Havia sempre o que ficava subentendido e eu não sabia o que dizer. Me disseram que amor não era um sentimento, mas uma habilidade. Habilidade que precisava ser trabalhada, aperfeiçoada. Por isso, mesmo neste caminho de duvidas eu escolhi continuar. Não era questão de desistir ou seguir em frente, amar ou não, mas de simplesmente não tentar definir algo que ninguém ainda conseguiu.





Para ouvir depois de ler: Florence and the machine - I'm not calling you a liar

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vinte um

"Eu não sou tão triste assim,
é que hoje eu estou cansada."
Clarice Lispector







“Depois dos vinte um os anos voam, meu filho. Já você pisca e tem 30 anos. Já, já tem cabelo branco. E já sabe que se precisar dividir tinta para cabelo pode contar comigo.” Disse minha mãe, depois de contar parabéns algumas horas antes. Vinte e um anos. Vinte e um anos e o que para esperar? Nessas horas a gente sempre se pergunta se chegou ao ponto que gostaria estar. E vê que não chegou nem na metade e que apenas está ficando velho. Velho. Velho. Odeio fazer aniversário. Pior que nem sempre eu odiei. Existiu uma época em que eu gostava dos presentes que ganhava, da festa e das pessoas, mas isso tudo se perdeu. Acho que foi quando minha própria vida começou a me sufocar. Mesmo com a gripe suína aumentando minhas férias, eu ainda assim não tive um dia de descanso.

O telefone toca pela quarta vez e eu ignoro. Já sei que é o Henrique. Já sei que ele vai querer que eu arrume alguma coisa para comemorar o meu aniversario. Mas não quero. Já comi o bolo em casa, já ganhei um casaco novo e tenho certeza de que não vão me dar nada para ir para lá. Na sexta vez, eu atendi. Pizza, bolo e cerveja. Com pessoas interessantes tende a ser um bom programa.
“Luis, tem uma festa em Botafogo que dá vip de graça para aniversariante e um acompanhante. Colocamos o seu nome e do Edu lá, porque não vai com a gente?”

No dia seguinte chequei na internet e meu nome aparecia em pelo menos três festas neste mês sem que eu soubesse. No banco de trás de um carro seguimos para lá. Rindo, bebendo, cantando. Uma decepção ao chegar e ver a festa merda que era. Antes da uma da manha tossi minha ida para casa.

“Amor, é o seu aniversario. Vamos passar a noite juntos?”

Consenti. Edu, assim como meus amigos e meus leitores daqui, têm tido muita paciência comigo. Muitas vezes é por causa de trabalho, muitas vezes é por minha causa mesmo, mas já peguei o costume de desaparecer da minha própria vida as vezes.

Quatro e quarenta e cinco da manha. O chão gelado do banheiro de motel parece feito de gelo puro quando não se está vestindo nada. Eu termino de fumar escondido aquele cigarro que deixei no fundo da mochila para que Edu não veja e entro no chuveiro. A água parece mais do que só me lavar, ela me deixa mais leve. O outro há muito dormia e nem reparou que havia saído. Eu não sei como ele conseguia dormir. Era desconfortável, era frio, era até sujo. Mas pelo menos não era solitário. Mesmo assim não conseguia dormir. Era meu aniversario e o cigarro não era a única coisa que eu tinha escondida do meu namorado. Parabéns para mim.


[continua]


Para ouvir depois de ler: Imogen Heap - Canvas

sábado, 11 de julho de 2009

Brasil, um país de todos



Minha cabeça está em parafuso. Sabe quando a bagunça do seu quarto se mistura com a bagunça da sua vida e tudo parece tão fora do lugar, tão desarrumado, tão errado que tudo o que quer fazer é gritar e fechar os olhos na esperança que tudo aquilo suma por si só? É isso. Mas nada some se você só gritar e fechar os olhos. Neste caso você só tem duas coisas a fazer ou arregaça as mangas e faz você mesmo ou paga para fazerem para você. E para isso eu tenho Maria. Maria é a empregada que todo final de semana vem para limpar minhas coisas. No começo ela levava um susto quando chegava no meu quarto, onde também trabalho, mas hoje acho que já está acostumada.

Enquanto tomava um café e reclamava de ter acordado 6 da manha em um sábado para terminar uma ilustração, ela começou a contar a historia dela. No interior de Minas, de onde ela veio, as pessoas acordavam às três da manha para trabalhar na roça o dia inteiro, não serem pagas e viverem exploradas por fazendeiros. Ela já tinha seus 60 anos e não se arrependia de ter saído de lá aos quinze anos para trabalhar no Rio. Ela não teve estudo e sempre trabalhou como empregada. Hoje tinha duas filhas, ambas em faculdade. É uma historia comum se tiver pensando em novelas da Globo, mas para mim foi estranho olhar para uma personagem da vida real.

Em um cotidiano em que a cada momento coisas novas no mundo acontecem e você tem de estar atualizado, onde toda a informação é rápida, vital e precisa ; era estranho me ver de frente do Brasil antigo que me foi ensinado no colegial. A vida hoje gira a 100 por hora todo momento e esquecemos que fora da cidade grande ainda existe um Brasil arcaico, onde coisas como “voto de cabresto” e “trabalho semi-escravo” são coisas que são presentes na vida de muito brasileiro. E em uma semana onde funeral virou show mundial e a discussão política do momento é se um presidente olhou ou não a bunda de uma mulher, a pergunta que bate mais e mais na minha cabeça é que tipo de mundo é esse que está se formando? Sabemos em tempo real o que está acontecendo a quilômetros, mas não vemos os problemas do nosso próprio país? Que tipo de pessoa é o brasileiro que lê religiosamente o twitter para esquecer o quão quebrado e vergonhoso é o seu próprio país? E quem sou eu, Luis, no meio de tudo isso? O mico do “#forasarney” mostrou o quanto nós somos imaturos em questão de administrar o nosso país, porque não gostamos de quem está no poder, mas não fazemos nada contra ele a não ser pedir ajuda para quem nada pode fazer. Acho que é bom vermos a tecnologia a nosso favor para conhecermos pessoas novas e nos divertirmos, mas se não temos a mesma força de vontade para fazer a diferença, para promover coisas boas, para arrumar nosso próprio país como podemos reclamar dos direitos pessoais?

Quando vi a bagunça era maior do que a própria Maria podia arrumar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mesure your life in love


“No girl should ever forget that
she doesn’t need anyone
who doesn’t need her.”

Marilyn Monroe








Um amigo que lê o blog me ligou e disse que recomeçar falando que ia recomeçar era uma puta sacanagem. E é. Mas as coisas aqui ainda não estão no seu devido no lugar. Sobram papéis espalhados, cartas sem remetente, desenhos sem rostos; nunca que em um mês eu colocaria tudo em dia. Com um ultimo trabalho para fechar o período, eu resolvi me trancar na minha bagunça particular para fechar pelo menos esta pendência. Mas como é solitário o mundo dos livros. Um romance de vez em quando anima os espíritos, mas pesquisas maçantes, analises rasas e desinteressantes são tudo o que você não quer para o final de semana. Vinte minutos depois de fechar a porta do quarto já estava tacando um livro pela janela.


[meu tipo de pesquisa]

E quando toda a pesquisa parece enfadonha apela-se para o guru da falta do que fazer: Orkut. Felizmente para mim, Fabio tinha deixado um recado pedindo para ligar para ele. Apesar de no momento em que escrevo aqui já faz duas semanas que não nos falamos, considero Fabio Braum um bom amigo. Nos conhecemos há um pouco mais de um ano quando ele namorou Henrique, meu melhor amigo. O namoro durou uma semana e quatro dias, mas ele entrou para o grupo desde então. E o tempo só trouxe mais intimidade para falarmos de nossos casos. No caso, ele ainda estava mal por ter acabado o seu relacionamento com Marcos, o jornalista niteroiense. Na minha sincera e cruel opinião o menino era, de longe, o espécime mais desprovido de beleza a passar pelo currículo amoroso de Braum, mas eles pareciam se entender e Marcos conversava bem. O caso deles ia para segunda semana, a semana decisiva para o Fabio, quando em uma festa ele recebeu um presente de dia dos namorados atrasado de um ex que não sabia que era ex. Marcos obviamente ficou puto, deixando a festa para não brigar com o namorado e deixou também o caminho livre para o outro, que acabou sendo mais um idiota-querendo-impressionar-um-cara-com-dinheiro. Antes de mais nada devo pontuar que não tenho nada contra caras com dinheiro querendo se mostrar, mas daí a achar que com um drinque e uma caixa de ferreiro rocher podem nos levar para cama estão muito enganados. É preciso pedir por favor. [Mentira, não é tão fácil assim] Moral da historia: Marcos viajou para Campinas para esquecer Fábio e está lá ate hoje. Fabio por sua vez se voltou para a única coisa que era fiel a ele: o seu trabalho. Passou pela fase “odeio todos os homens”, “o que eu fiz de errado” e “bem feito pelo diploma dele não valer de porra nenhuma” nos primeiros cinco minutos de “All by myself”, que ele sempre coloca como um ritual Bridget Jones pessoal, sendo que a personagem do livro tinha 30 e tantos anos e ele, 18. O drama não durou muito também, porque depois disto sua chefe encheu a mesa com a programação do Viradão Carioca que queria dizer que para terminar tudo aquilo a tempo ele teria que fazer um viradão no trabalho.

Na mesma hora em que chorava lagrimas e venenos com Braum, Eduardo, meu namorado, estava em um restaurante com Sabrina, sua melhor amiga desde o fundamental. Sabrina era uma dessas novas lésbicas, que tem os dois pés bem firmes no armário, na cabeça os sonhos de ‘felizes para sempre’ com o primeiro caso de balada e o discurso de que ‘ainda pode ficar com homens’, mesmo já tendo abolido da vida esta possibilidade. Ela bebe um gole de chopp e segura a mão do amigo. Falava da ironia da vida em voltar para o mesmo ponto, de que ninguém queria nada com nada, que ia cair na putaria e blarblarblar. Como todo mundo que se descobre mas não quer sair do armário, Sabrina era adepta das salas de bate papo. Foi lá que ela conheceu Augusta. Depois de dois encontros em festas de meninas e lugares duvidosos, elas começaram a namorar. Nós quatro já havíamos almoçado juntos e no segundo que coloquei os olhos na outra eu pensei que aquilo não ia acabar bem. Sabrina era elegante, inteligente e estava deslumbrada com a primeira namorada. A outra era uma caminhoneira bronca, desbocada e tinha aquele problema de auto afirmação de que precisava dizer aos quatro ventos que era sapatão. Eu não via nada de casal ali, mas preferi não comentar. Afinal, era amiga do Edu. Semanas depois desse almoço, Augusta pediu um tempo porque estava chateada com ela sem motivo aparente e porque estava tendo problemas em casa também. E assim que desligou o telefone decidiu que ir para a The Week com os amigos era o que precisava para afogar as magoas. Tudo bem que se ela foi para a The Week mesmo ela não ficou com ninguém, pois alem dela não ser muito atraente aquele lugar é conhecido por ter 25 homens gays descamisados para uma mulher que invariavelmente era a garçonete. Mas a sacanagem estava feita. Então Sabrina chorava com Eduardo o triste fato de se ver novamente solteira e sozinha e o amigo nada podia fazer para consola-la a não ser pedir mais uma porção de batatas.

No fim do dia, depois de concluir a minha pesquisa, encontrei com Edu em um bar na praia. Ele me contou que estava preocupado com Sabrina pelo seu pessimismo com a vida, que parecia para ela que a solteirice era sinônimo de solidão. O que me fez lembrar da ligação de Fabio e das mensagens posteriores dizendo o quanto estava se sentindo sozinho. Os dois eram bonitos, inteligentes e absolutos, mas então porque estavam tão assombrados com o fantasma da solidão? Porque gays tem tanto medo de ficar sozinho? “Luis, é complicado. Meu medo é de chegar aos 60, 70 anos e me ver sem familia ou amigos. E família já é difícil já que naturalmente não temos filhos e muitos dos gays são excluídos das suas famílias.”, disse Edu dando a sua opinião. Eu achei aquilo furada. Se o gay é excluído da família então a família não o ama como ele é. Não que seja uma situação fácil ou confortável para todos aceitarem, mas onde existe amor existe compreensão e, quem sabe, um final feliz. E ter filhos hoje não é nenhum problema [mérito que preferimos não entrar porque já tínhamos discutido tudo sobre nossos filhos quando eu fiquei “grávido”]. Posso estar sendo radical, mas para mim você deve sentir medo da solidão quando você não ama as pessoas. É o tal equilíbrio. Para ser amado, é preciso amar e com isso não quero dizer apenas ao seu companheiro, mas sua família, seus amigos e todos os que cruzarem sua vida. Amar sem esperar nada em troca. Então a conversa começa a esquentar. Ele diz que teve amigos que investiu muito e quando souberam de sua opção lhe viraram as costas. Eu digo que eles não estavam prontos e não sabiam amar, mas que um dia poderiam e perceberiam o quanto perderam. E a conversa vira debate e o debate, discussão. Ate que eu paro, seguro o rosto dele e digo “Olha, seu cabeça dura, eu amo você” E o beijo no meio do bar.

“Amor, nossa eu acho que tenho de casar com você. Eu ouço palmas quando a gente se beija.”

“Eu também, mas acho que não é porque nos beijamos. É a mesa no outro canto do restaurante, ta vendo?”

“Ah, então ta, eu tiro o pedido de casamento. Mas será que as palmas foram para nós?”

“Não deve ser aniversário de um deles.”

As palmas e assobios eram para nós. A mesa tinha umas seis pessoas, a maioria homens. Eduardo fechou a cara achando que eram homofobos zoando “os viadinhos no canto”.

“Amor, relaxa. E se for? Deixe eles... Deixe os urubus passeando a tarde inteira entre os girassóis.”


Ele se acalmou e eu saí para ir ao banheiro. Eu tinha acalmado ele, mas não concordava muito. Não estava perto da Farme, mas era Ipanema, não precisava me preocupar. Certo? Não. Era ruim demais o pensamento de que pessoas te odeiam deliberadamente sem te conhecer e podem faze-lo livremente na internet, na igreja, na rua, naquele bar ou em qualquer lugar. Lavei o rosto e me olhei no espelho pensando em toda aquela conversa e os assobios. É ruim o bastante já termos medo da solidão, medo que assumo que já tive, mas pior ainda é temer quando já não estamos sozinhos. É muito difícil para o mundo entender dois caras que se amam? E no final a gente ainda tem que ‘escolher’ entre ficar sozinho e triste ou junto e escondido?!? Não mesmo! Eu sou lindo, absoluto, tenho um namorado gato e não devo nada a ninguém. Quem me ama sabe quem eu sou e os que não me conhecem tem mesmo é de bater palmas para mim. Ajeito o cabelo e saio pisando firme com o meu ego lá em cima para não dar chance para os “homofobos”. Até porque para chegar na minha mesa eu tinha que passar pela mesa deles.

Eis que quando eu passei um deles me chamou, meio escondido, meio envergonhado.

“Olha, só queríamos falar que vocês dois são muito bonitos juntos. E ainda se beijando em publico! Parabéns!”, disse um senhor atrás de seus óculos de aro grosso. Logo todos os outros da mesa vieram me cumprimentar. Falaram que acharam demais, tiraram fotos, pediram e-mail. Eduardo, percebendo que eu não voltava foi atrás de mim e ao chegar naquele grupo tão alegre ficou desconcertado por achá-los homófobicos. Eu ria de nervoso, também não esperava por aquilo. O grupo era de sua maioria gay e se reuniam todos os domingos naquele bar para conversar e falar besteira. Inclusive nos chamaram para nos unir a eles. A gente já estava de saída, mas deixamos o nosso contato para sairmos uma próxima vez. E saimos rindo, sem medos do que estava por vir. E de Crossfox.




*Queria aproveitar e agradecer a galera que comenta, a galera que não comenta mas segue e a galera que não comenta nem segue, mas sempre vem dar uma olhadinha aqui. Ainda to me organizando, mas daqui a pouco volto com força total respondendo os recados de vocês. beijos, L.C. *


Para ouvir depois de ler: Little Boots – New in town

domingo, 28 de junho de 2009

Rise



"A maquilagem diz-nos mais que o rosto" (Oscar Wilde)




Oh, As férias! Às vezes seria interessante se durante a vida pudéssemos dar paradas estratégicas para organizar os pequenos problemas, como quando você a arrumação de armário que sempre é deixada de lado ou quando resolve colocar em ordem os livros e dvd’s na estante. É preciso tempo, um som ambiente muito bom e força de vontade para não deixar a arrumação pela metade. Não foi bem por isso que parei de postar. Meus dvd’s ainda estão desarrumados. Acontece que às vezes me dá vontade louca de trocar tudo do lugar, tirar as fotos, de fechar todos os textos mazomenos, de fazer algo diferente ou ser diferentemente igual... É loucura, é TOC, o que seja! Mas depois de um mês sente-se falta, né. E é sempre mais difícil voltar. Não se sabe onde parou, o que já se fez ou o que ainda falta fazer. O mais estranho é como as coisas mudaram neste meio tempo.

Fábio, por exemplo. Agora ele dorme no trabalho para economizar tempo. Não nos vemos mais. Ele só sai do escritório para beber na Lapa e pedir a comida pelo China Inbox – orgulha-se da sua recém adquirida habilidade com os pausinhos. E cada vez mais sente que havia vendido a sua alma, infelizmente por um preço muito a baixo do mercado. Mas enquanto ocupasse a sua cabeça com trabalho pelo menos ganhava algo em troca. Diferentemente do seu ultimo relacionamento com um jornalista niteroiense, que ocupou a sua cabeça, seu tempo de trabalho e uma gaveta no seu armário para terminar com uma ligação malcriada. Tempos difíceis, mas que iam melhorar. Tinham de melhorar.

Já Henrique figurava o lado oposto. Desempregado, sem faculdade e com um namorado endinheirado. O sonho de todo gay? Não. Mais e mais ele ficava dependente de Rogério. “Vamos sair?” “Não sei, deixa eu perguntar para o Ro.” Foi o final de pelo menos três ligações com ele. Também já estamos há algum tempo sem nos ver. E por mais que ríssemos do seu momento víamos que ele não parecia feliz daquele jeito – até porque a culpa era exclusivamente dele. Era falta de oportunidades, mas esta situação também ia melhorar. Tinha de melhorar.


Não posso dizer que não tenha desperdiçado nada, pois a minha distancia também foi devida a causa de financeiro-amorosa. Na verdade foi uma epifania, um insight de lucidez. Era a saída do trabalho na livraria, quando um colega me dá carona para casa e fecho a porta atrás de mim e faço um jantar e durmo. Isso acontecia praticamente toda a noite mas nesta em especifica ao fechar a porta eu me vi dentro do meu maior medo. Era uma rotina. Não a rotina produtiva, mas a rotina confortável do “é esta é a minha vidinha e estou ok com isso.” As portas dos meus vinte e um anos e eu me vejo ganhando dinheiro com algo completamente diferente do que eu tinha planejado. Não era este o Luis que eu via quando era criança, ou antes de entrar na faculdade. Não era este o caminho que eu queria tomar, então porque eu deixei as coisas continuarem o mesmo rumo? Sei que na ultima temporada havia falado sobre o ensino que lobotomiza e não inspira. Mas quando o rumo que se toma vai em um caminho diferente do que traçou você senta e deixa as coisas rolarem? Bem, eu não. Dá comichão, pinica. Então abri-se um projeto paralelo e fecha-se outro. Tudo para ver a minha situação melhorar. É a vida.


Então sem mais delongas eu volto a vida online com meus posts semanais neste curto-logo post de retorno e apresentando a vocês a temporada 3 deste blog:


Para quem é carioca, Ipanema não é só um lugar é um estado de espírito. E a minha vizinha tem sido palco de boas historias então nada mais justo de homenagear a ela.







Para ouvir depois de ler: The Gossip – Heavy Cross

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ato final: Gravidez [in]desejada



[ O amor maternal faz-nos ver que
todos os demais sentimentos são enganadores ]
- H. Balzac




Hospitais sempre tiveram um ar estéril para mim. Salas de esperas beges com enfermeiras de jaleco verde lavado e revistas duvidosas disponíveis para os que esperam. O inferno não seria muito diferente. Mas depois de alguns minutos você acaba sucumbindo e pega uma daquelas revistas para não pensar em quanto tempo ainda falta para te chamar.

Trinta e cinco minutos, duas revistas ‘Caras’ e uma receita da Ana Maria Braga depois meu nome é chamado. O médico, que havia sido indicado pelo meu pai, não era bem o que eu esperava. Dois minutos de conversa e eu já o achava um babaca machista, pois somente um escroto pode começar uma frase com “As menininhas de hoje em dia...” quando questionado sobre um possível problema na bolsa escrotal. Calça no chão e o ele faz o seu exame. Ao contrario de alguns filmes pornôs, esta é uma situação extremamente constrangedora, especialmente pela visível cara de nojo do doutor. Ele segura, mexe para cá, brinca com ele e depois lava a mão compulsivamente.

“É, cara, eu to achando que é varicocele, mas só com uma ultra-sonografia para confirmar.”, disse enquanto secava as mãos. Não sei da onde ele tirou intimidade para falar assim comigo.

“Varico... vari.. o que? Bem, eu quero saber como eu consegui isso.”

“É genético. E acontece mais ou menos na sua idade... Ainda bem que você veio cedo quando ainda estava começando...”

Eu respiro aliviado
“Que bom... mas qual o tratamento?”

“Eu preciso confirmar antes com a ultra, mas o tratamento é apenas operatório.”

“Operação? E o que acontece se eu não o fizer? Algum risco de vida?”

“Não, mas corre o risco de infertilidade.”

Convenientemente naquele mesmo andar tinha uma ultra-sonografia — com uma taxa extra, é claro. Mas eu nem me importei, pois a ultima palavra do médico ficou retumbando na minha cabeça. Infertilidade. Infértil. Do jeito que ele falou não pareceu um diagnostico e sim uma opção. E será que eu iria querer ter filhos algum dia? Mesmo sendo gay e por isso quero dizer que biologicamente eu não posso ter filhos com o meu parceiro, ate o momento procriação nunca foi algo que almejasse.

Sai para comer algo antes de enfrentar a fila no ultra-som e enquanto almoçava lembrei que um ex-namorado uma vez me disse que adoraria se seu namorado um dia chegasse para ele e lhe surpreendesse dizendo que esperava um filho dele — se fosse biologicamente possível, claro. Seria um filho do amor deles. Este é um tipo de surpresa que não temos, e juro que quando ele me contou esta historia eu dava graças a deus por não poder engravidar. Mas diante de tudo isso — de filhos de amor, de esterilidade, de almoço... — eu pensei “e se...'s" o que não foi muito difícil, pois quando voltei à sala de espera, esta estava lotada de mulheres grávidas e crianças de colo — o que tornou tudo mais perturbador.

É neste ponto que eu paro para dizer o quanto às mulheres são corajosas e abençoadas por poderem gerar vida. Naquele lugar eu via que mesmo a mais pobre e a mais rica tinha uma relação de tanto amor com o filho que é difícil pensar na quantidade de dores que ela sentiu para tê-lo. E dor é algo que nós homens não estamos acostumados. Pelo menos não como elas. Mas e se os homens pudessem ficar grávidos?

É a minha vez na sala do ultra-som. O lugar se iluminava apenas com a luz da maquina e do banheiro. O técnico me cumprimentou com a cara mais entediada no mundo, o que eu não entendia, já que ele só trabalhava dois dias na semana. Ele me perguntou o problema e pediu a receita do medico. Revirou os olhos lendo o papel e pediu para que baixasse a calça. Calça no chão novamente. Me senti até mal porque nunca um homem foi tão inexpressivo ao me ver pelado. Deita na cama de barriga para cima e besunta-se com um gel gelado. E naquela posição, vendo de soslaio formas fantasmagóricas e impossíveis de se distinguir no monitor que me senti realmente como uma mulher grávida e vou dizer que não senti conexão nenhuma com aquilo. Ainda bem, pois engravidar com vinte anos não ia me fazer bem mesmo.

Sai do exame e liguei para Edu dizendo que tinha saído do ultra-som e que o filho era dele. Ele ficou em silencio por alguns minutos tentando entender o que havia dito ate dizer que quem quer que seja que tinha ligado errado, então eu contei tudo, do médico babaca ao desejo de gravidez. Ele riu. E todo esse pensamento sobre filhos, médicos e gravidez terminou naquela noite, quando passei mal provavelmente por algo que comi no almoço e virei a noite vomitando. O episódio todo me rendeu uma semana de piadas sobre estar grávido. E embora isso tenha passado, eu não ainda não marquei a operação e não sei se vou marcar. Tenho preocupações financeiras maiores agora e isso não vai me matar.




Agora eu deixo você. Obrigado por ter me acompanhado, falado, ouvido ou pensado mas fecho a segunda temporada aqui e me dou umas boas férias. Não será muito tempo, mas o suficiente para que tenha muito mais para contar quando voltar.

Vocês ainda não se livraram de mim. Beijos, L.C.

sábado, 23 de maio de 2009

Ato II: Valores Pessoais


[ "O medo tem alguma utilidade,
mas a covardia não.
O medo é a maior das doenças,
porque paralisa o corpo e a mente.
Minha força está na solidão."

- Clarice Lispector ]







Há certas semanas que parecem anuncio do seu inferno astral. É o seu professor que passa um trabalho para o dia seguinte quando no mesmo dia você tem que chegar mais cedo e sair mais tarde do trabalho e não ganhar nada mais por isso. É ter de quebrar as expectativas dos amigos que chamam para sair a um mês e nem para um chopp você sai ou porque está muito cansado ou porque não tem dinheiro mesmo. Ou então é quando aquele cliente pede o absurdo, para um tempo impossível e quer pagar o inviável para a sobrevivência humana e acima de tudo quer que você o faça sorrindo. Não tem como não ficar no mínimo perdido entre as informações, lições de moral e picuinhas de menor importância que a todo o momento tiroteiam na cabeça. O que dói mais nisso tudo é a falta de reconhecimento alheio. É a vontade de gritar “Hey, tem sangue, suor e lagrimas saindo aqui! E a humanidade, onde fica?”. Mas aí que se pára e pensa: quando foi a ultima vez que demos valor as pessoas que te ajudaram. ... Então, pois é.

São tantos alvos. Tantos erros. Tantos acertos. Tanto que deveria ser dito e o que não devia se dizer. Tanto o fazer antes do sol se pôr ou depois que ele nascer. Tanto, tanto que a insegurança cria um mundo de pensamentos intrusivos que giram e giram e, pasme, em geral nasce de um ponto pequenininho que você achou que nem ia te fazer mal. E como havia dito no ultimo post, o meu era bem pequeno mesmo. Meio centímetro de diâmetro aproximadamente, acima do testículo esquerdo. E no meio daquele turbilhão escrito ali em cima tudo o que eu queria era jogar tudo para cima e ficar só. Muito Greta Garbo, mas sabe que sempre gostei de um drama.

Tinha ligado para o medico, mas ele só poderia me receber no final da semana seguinte o que me deixava com 9 dias inteirinhos para pensar nos mais variados diagnósticos para “isto” [foi como eu passei a chamá-lo]. A primeira coisa que se pensa é em DST. É inevitável. Será que foi naquela vez que não usei camisinha? Será que não sei me proteger? Será que passei para o meu namorado ou recebi dele? (...) Aí entram os pensamentos conseqüentes. Será que se contar para alguém ele vai pensar que sou um “gay promiscuo”? Porque essa é a imagem que as pessoas tem. Será que minha família pensaria isso? E minha mãe? E o meu namorado? (...) Então, recorre-se aos santos. O Dr. Drew naquele programa de sexo no Multishow, o Google, A Vida do Bebê do De Lamare, Discovery Channel, Health Channel, History Channel(...). E com as pesquisas eu me acalmo, pois não estava com nenhum sintoma a não ser “isto”. Havia certo desconforto, mas nada de pus, feridas, gânglios ou tosse [sempre que tem uma doença terminal nos filmes pode apostar que tem tosse]. Com isso, o fantasma da DST tinha ido, mas comecei a pensar no grande C. Tudo bem que o mais perto da medicina que cheguei era ver dr. 90210, E.R. e House, mas acho que eles me dão embasamento suficiente para suspeitar que era o Grande C. É sempre culpa dele. Comecei ate a tossir depois disso.



“E o Eduardo, como reagiu a isso?”, perguntou minha mãe depois que contei para ela, entre a vergonha e a repetição contínua que eu tinha me prevenido e não tinha chance de ser DST.
“Eu ainda não contei a ele.”
“Meu filho... Não precisa se preocupar, se você diz que se preveniu e que não tem nada demais então pode ser outra coisa, né...” Disse esticando o olho como quem diz ‘se é para contar algo então conta agora’ “Se acalme. Você já marcou o médico. Mas talvez seja bom comentar com ele, pois se ele pode ter a mesma coisa... fora que é um bom teste para vocês. Que “isto” seja uma besteira: será que o namoro de vocês resistiria a uma doença?”

Claro, como se eu não tivesse dores de cabeça suficiente. Para quem já estava com pulgas atrás da orelha, o que é mais uma, não é mesmo? Adoro quando minha mãe faz isso.

Então no dia seguinte marquei com ele na praia para conversarmos, onde definitivamente eu não iria entrar pois odeio areia, mas que gosto de me acalmar olhando o mar. Cheguei uma hora antes e fiquei a olhar o horizonte. A brisa marinha sempre me inspira. E começo a pensar em formas e maneiras de contar para ele com a clara idéia de que na hora h esses ensaios seriam inúteis e iria falar algo completamente diferente.

Ele chega ofegante pela calçada contando que conseguiu se perder no curto caminho entre General Osório e o posto 9. Estava com uma roupa meio de surfista e havaianas, completamente in no ambiente praiano e eu de camiseta e calça jeans visivelmente não pertencendo aquele lugar. Sentamos em um quiosque, pedimos algo e começamos a conversar. Ele ficou um tempo em silencio depois que contei. Bebeu um gole de água de coco, me olhou e disse “Ok, Luis. Eu tinha te notado um pouco distante, mas pensei que fosse por causa do seu trabalho. Pelo que esta falando, “isto” pode ser varias coisas, meu bem. Acho improvável que seja o... como foi que falou? O grande C? É isso... Dificilmente é câncer, mas também não deve ser DST. Sai lá, acho que você pode estar preocupado a toa. Já marcou o medico, não foi? Então relaxa e vamos curtir a praia.” A resposta carpe diem dele realmente me fez curtir mais o dia, mesmo que no dia seguinte ele tenha vindo com uma lista de possíveis diagnósticos que ele tirou dos seus livros de faculdade e da internet.

Nunca se sabe quando estamos entrando em uma prova ou quando estamos colocando os outros em teste. Achar o seu lugar de paz no meio de turbilhões e ver as coisas na perspectiva certa podem ser de grande valia quando se está sob provas, mas é preciso também muita paciência e maturidade para ver os resultados dos testes dos outros. Pode vir a resposta que não espera, a que não queria ou exatamente aquilo que faltava. A única coisa que é certa nessa vida é que nada se passa sem uma razão. Existe um mundo de possibilidades para se escolher, e nada nessa vida é irreversível. A morte, talvez, mas até ela pode ser amenizada. E apesar de não ter mais medo do que pudesse vir, sabia que se viesse o inesperado ou o que não queria eu teria alguém para segurar a minha mão. E acho que poder ter alguém assim, seja o namorado, a mãe ou a amiga e dizer para eles o quanto eles significam é dar valor à esse sentimento.



“E então, a gente vai entrar na água, né Lu?”
“Awn... não.”

“Ué, mas você me chamou para praia, disse que íamos caminhar na areia e tudo!”
“E estamos. Você ta vendo a areia do outro lado do calçadão? Então, estamos caminhando e aquela é a areia!”
¬¬



[continua]



Para ouvir depois de ler: Regina Spektor - Fidelity

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ato I: Limites Derivados




[ Eu vim pra confundir, não pra explicar ]
Chacrinha







Previsibilidade nunca foi algo que gostasse. Sempre achei graça na diferença, no incerto, no errôneo. Fui contrário às convenções e clichês ou sempre os usei do lado avesso. Gosto de pensar que posso tocar o céu ou você, sem nunca saber o quão distante ambos realmente estão de mim. Mas a realidade, dura como pedra, é preciso enfrentar e para se alçar vôos mais altos submete-se a certas convenções. Como os famigerados ‘horários’, ‘prioridades’ ou ‘refrigerantes de baixa caloria’. Ok, não tem problema. Acorda-se cedo, toma café e entra na rotina do trabalho/curso/faculdade e a vida começa a girar na velha roda da fortuna.

Então contra as amarras da fortuna montamos os sonhos. O meu era mudar o mundo. Talvez não o mundo todo, mas pelo menos o mundo de alguém. Com uma palavra, um desenho, uma expressão que fizessem povos se enfrentar, que fizesse verdades caírem, que fizesse o silêncio mais barulhento registrado pela humanidade. Foi assim que escolhi a minha escola de vida. E me decepcionei nela. Não se estuda mais a essência das coisas, mas sim o que será pratico para ganhar dinheiro; não se fala mais de inspiração, apenas de ferramentas de trabalho; paixões passaram a ser cartazes de filmes e amores, produtos de beleza. E o horizonte vai ficando minguado, em tons de cinza mecânico. E em algum ponto as coisas se perdem. Perde a paixão, a inspiração, a beleza. Perde a vontade, o amanha e passa a ser prioridade conseguir mexer no programa de último tipo que vai salvar 10 horas de trabalho manual ou então a comprar um presente em uma data que você nem sabe qual é apenas porque as lojas têm promoções imperdíveis e você não pode perder. E são coisas miúdas, miúdinhas que acabam por fazer da vida algo mazomenos, que dá para levar. Pequenos estímulos e pequenas conquistas. Sem surpresas, porém estável e seguro. E previsível.

O cotidiano já dormia do meu lado quando tudo começou. E ao acordar tudo o que eu mais queria era ter tempo de dormir durante o banho. Saia de casa rezando para que ainda tivesse dinheiro para ir na faculdade assistir aquela aula chata-porém-importante e esperando o final de semana chegar para descansar mais, mesmo que nunca descanse realmente no final de semana. A faculdade, antes o lugar onde eu estava perto do sonho, hoje era um lugar de chateação, tédio e pessoas nocivas. E apesar de Sartre dizer que o inferno são os outros, era inegável como aquilo me afetava. Possessão talvez fosse demais, mas um Ebózinho pelo menos tinha de ter. Era como se qualquer centelha de emoção em se aprender se esvaísse no segundo em que pisava lá e tinha de encarar minha turma. E nesse caso o inferno se tornava eu.

Como a professora de Tipografia havia definido que éramos uma “turma estranha com gente esquisita”, aspas com dedos. Metade dela eram grafiteiros, com uma parte que já ganhava para comprar os mais caros livros de referência - e acreditem, livros de arte e design não são baratos - e a outra parte se contentava em rabiscar a parede e conseguir um baseado. Na outra metade da turma estavam as meninas cinéfilas, as pessoas alternativas e aqueles que dormiam no fundo da sala. E tinha eu. Pessoalmente eu prefiria as cores do art noveau, conheço pouco de filmes cult, odeio hipsters e, na medida do possível, tento assistir as aulas sem dormir. Logo, eu era o ser estranho de lá, mas quando eu não fui? E podem achar engraçado, mas quando tudo começou, éramos todos muito simpáticos uns com os outros. Simpáticos, até nos conhecermos.

Ver que pessoas que deveriam saber a diferença entre rótulos e bons conteúdos fazendo picuinhas por causa de estereótipos é a real decepção do lugar. Porque vocês sabem que o amigo é bom quando te traz algo, quando te indica. Me diga com quem andas que te direi se vais fazer sucesso. A união faz a força, mas se tiver problemas já sabemos os culpados. E uma serie de outras lições de hipocrisia moderna vistas no microverso de uma sala de aula onde o papel de gay assumido se torna extremamente difícil se não se quer cair nas graças de um personagem.

E aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo de cima do muro. Separado de sua turma, entediado com sua vida e com o caminho que ela estava levando. Mas tem coisas que estão além das nossas mãos. Porque mesmo aquele que se submete a rotina está passível de uma surpresa da vida, que pode ser uma festa de aniversario, um bilhete de loteria ou perceber um nódulo no testículo durante um banho antes de dormir.


Infelizmente eu não ganhei na loteria e meu aniversario ainda não passou, mas pode se dizer que já não sou mais aquele que estava em cima do muro...



[continua]




Para ouvir depois de ler: Rita Lee – Hino dos malucos

domingo, 10 de maio de 2009

Metalinguagem

[ Say good bye to the world you thought you lived in ]
Mika






O telefone toca.
“Você ainda se lembra de mim, Luis.”, disse Henrique forçando a voz e tentando não rir, “Ah, mande um beijo para Dona Claudia por mim, ok? Agora, você não sabe o que aconteceu ontem à noite...”

Monossilábico com as respostas, eu ouvia as últimas peripécias de uma noite em que eu mais uma vez estava ausente. Ausência. Ela tem sido algo constante para mim. Ausência com meus amigos, ausência com meus pais, ausência com meu namorado.

Ausente comigo mesmo.

Estive ausente aqui também. Meus últimos textos não fazem sentido nem para mim. Pelo menos não com o que esta acontecendo. Temo que esteja ficando reclamão e amargo demais com as coisas. Mas o ”Crônicas” não nasceu para ser um blog de desabafo do seu autor. Ele é brecha entre o autor e o personagem que quer mostrar que nem todo mundo está sozinho nesta terra...

Por isso, ao invés de simplesmente jogar tudo aqui e esperar que o retorno das pessoas dessem alguma luz para os acontecimentos, decidi contar como cheguei aqui da maneira certa, com o espaço para que pare e pense o quanto isto não está distante de você. Porque no final é por isso que esta pagina existe. Abrir um espaço entre a ficção real e a realidade ficcional que aparece todos os dias, sem linhas mensuradas, ponteadas e revisadas, mas com a simples idéia de passar uma idéia.

Este deveria ser o primeiro post do blog, mas como na vida acho que há sempre tempo para se reinventar.



[continua]




Para ouvir depois de ler: Midnight Radio – Hedwig and the angry inch

sábado, 2 de maio de 2009

Um salto de fé por cima da lua






[Don't speak. I know just what you're saying.]


O objetivo da viagem era eu não ter um ‘nervous breakdown’ e abstrair os pequenos problemas. A overdose de natureza e incenso fez o seu trabalho e voltei para a cidade grande. Não estava bem, mas parecia bem. Segunda cinza, terça vazia, quarta amarga, quinta ex-plo-são. Eram dias que eu passava dobrando minhas vontades, engolindo a verdade alheia e esquecendo do que realmente importava nessa historia: Eu. E se solta os cachorros na frente da família/amigos/patrões. E é uma briga daquelas. Meia noite com gritos de culpados e dedos apontados e ameaças que não seriam cumpridas. E choro, muito choro. O soluço que subia a garganta trazia consigo toda a renuncia, sapo ou mentira que estava dentro e que tinha de sair. Foi o que estava precisando quando eu estava precisando.


[Vá atrás da sua voz, menino.]

Abro os olhos, mais leve do que no dia anterior. E cedo, feriado e estou sozinho. Não. Não estou sozinho, tenho coisas a fazer logo cedo é uma questão relativa. Voltar para o trabalho, para minha arte, para minha pintura, minha fotografia, o texto e finalmente a mim. Eduardo, que andou ocupado com trabalhos passa em casa e me acha com duas latas de tintas, uma tela e metade do chão pintado de magenta e amarelo.

‘Achei artístico.’, ele comenta e saímos depois de eu tomar banho. Não sabia que programa íamos fazer ou o que estava acontecendo de bom na cena, mas sabia que ‘estar fora de casa’ e ‘Eduardo’ eram a base de uma boa sexta a noite.

‘Hoje tem Maratona no Odeon.’
‘Hoje tem festa do dj tal na Matriz.’
‘Hoje tem aniversario daquela amiga no Sindicato do Chopp.’


Podemos simplesmente seguir o vento?



Acabamos novamente no ‘Arco Íris’, com direito a Fabio e seu novo caso de três semanas conosco. Rimos, discutimos, brincamos como uma boa noite deve ser. RENT estava no mp4.

‘…To jump over the moon
Only thing to do is
Jump over the moon


A leap of faith.’



Pessoas passam na nossa vida todo dia. Mas nem toda historia que se cruza com a sua pode te trazer algo bom. Existem os que só querem te deixar para baixo porque tem vontade. Existem os amargurados, existem os egoístas e até os psicopatas. E por mais sincero/honesto/decidido que você for, esse tipo de gente vai deixar algo com você. Uma lição do que não fazer ou simplesmente te fodem. É a vida. E quando essas coisas pequenas e grandes ficam guardadas fazem volume, fazem mal. O negócio é jogar fora e não se esquecer que existem também aqueles que se importam, que ouvem, que olham no olho. Existe a possibilidade de ser feliz a apenas um salto de distância. Um salto. Um salto de fé por cima da lua.





Para ouvir depois de ler: Paolo Nutini – These streets

domingo, 26 de abril de 2009

Fugere urben

"Porque protegê-las,
porque ter saudades,
porque amá-las?"

InuYasha








‘Oi, boa noite.’

‘Boa noite.’

‘Foram vocês que chegaram hoje?’

‘Ah, sim . Vamos passar a semana aqui pelos feriados, sabe.’

‘Que legal... É a primeira vez de vocês aqui em Visconde de Mauá?’

‘Não, não... Na verdade nós já viemos algumas vezes, mas a última vez faz sete anos, então tudo está bem diferente para a nós...’

‘Entendo... Eu e minha família estamos aqui pelo menos três vezes ao ano. Eu adoro a serra e a natureza. E os chalés daqui são ótimos, não?’

‘É, claro... Bem, já que conhece o local, o que poderia indicar para nós?’

‘São só vocês dois?’

‘Oh, não, não. Além de mim e do meu marido tem meus dois filhos, Luis Carlos e Luis Augusto... Depois de certa idade é difícil fazer os filhos ficarem junto com você, mas em viagens sempre fazemos programas juntos.’

‘Eu que sei. Tenho uma filha de 17 que já não viaja mais com a gente. Arranjou um namoradinho e preferiu passar o feriado com ele. Olha, um lugar que acho muito bonito aqui é a Cachoeira da Saudade. É uma propriedade particular logo após do Acantilado que é deslumbrante. Acho que vão gostar. Alias, qual o seu nome?’

‘Ah, desculpe. Nem me apresentei. Meu nome é Claudia.’





Visconde de Mauá era o refugio hippie onde os meus pais faziam planos de morar quando eu e meu irmão saíssemos de casa e estivéssemos por conta própria. Eu estava tendo uma semana ruim ate que a viagem apareceu como uma chance de não ter um ataque de nervos. Eu tinha pressões no trabalho da livraria, problemas de greve de professores na faculdade e a velha falta de dinheiro que batia a minha porta mais uma vez.Precisava sair para colocar a cabeça no lugar.

O carro balançava violentamente por causa do chão de pedras e buracos, mas eu estava em outro lugar com o meu mp3 tocando. A paisagem verde passava com suas vacas e cavalos e brejos e de vez em quando eu parava para tirar uma foto e esticar as pernas. Meus pais haviam pego uma informação com um vizinho do hotel sobre um lugar onde, segundo este, o lugar era ‘uma linda cachoeira com um bar do lado’. Babaca. Mas pelo menos era um programa melhor do que ficar no quarto vendo televisão ou procurando uma lan house em uma cidade do interior.

Chegamos ao tal Acantilado há 6 km do local onde nos hospedávamos e pedimos informações. A Saudade ficava a 8 km da onde estávamos. Mas para mim estava a mais. A saudade estava com Edu. Tentei ligar para ele, mas estava sem serviço. Como ele estaria sozinho no Rio? O que estava fazendo?

‘Luis, vamos.’, grita minha mãe. ‘Você parece distante, o que acontece?’

‘Nada... Acho que ainda não entrei no clima da viagem...’

‘Meu filho, a gente só entra no clima no último dia, quando temos de voltar... Mas tenta aproveitar esses dias de Cinderela que quando voltarmos é de volta a ser abóbora, trabalhando e pagando contas...’
, um solavanco a interrompe. O primeiro de muitos. O chão acidentado era um convite a toda a sorte de problemas no carro.

Depois da primeira porteira da propriedade, meu pai começa a ouvir um barulho estranho no carro e o estaciona em um descampado para ver se tem algum problema.

‘O chão está muito esburacado, deixe o carro aqui e vamos andando. Não deve ser muito longe.’
Trinta minutos depois.

‘Já sei por que chamam esse lugar de Saudade.... Esta joça é tão longe que sentimos saudade de casa, da civilização... Ah, a civilização, o trânsito, o gás carbônico!’ ‘Realmente é impossível ser feliz na natureza.’

Chegamos a segunda porteira. Meu pai e meu irmão já estão cansados e decidem ficar perto do rio enquanto eu e minha mãe seguimos. Foi a melhor coisa que eles poderiam ter feito.

Passamos por casas abandonadas, mais vacas, mais cavalos e mais cachorros e para melhorar ainda estava frio. Eu e minha mãe pouco falávamos. Estávamos mais preocupados em não pisar em merda ou pedras pontiagudas e quando falávamos era para amaldiçoar o maldito que deu a idéia de irmos lá.




Uma hora e vinte e cinco desde que deixamos o carro.

A última porteira. Ao longe uma ponte com a primeira cachoeira apontava. Nossos chinelos já estavam nas mãos. O bar ,que era depois de uma insalubre escadaria, era feito de tocos de madeira no lugar de mesas e cadeiras. Uma decepção só pior do que a atendente muda, que nem era solidária com a nossa dor.Sentamos e pedimos algo para beber. Mas decidimos não pagar 4 reais para ter de subir as cachoeiras.

‘Estou com saudade do Edu. Sei lá, fico pensando no que ele ta fazendo nessa semana e fico distante de tudo.’, desabafei entre um gatorade e uma skol.

‘Luis... Sabe, antes da viagem eu estava falando com o Alex, meu amigo, e ele me contou que estava meio que obrigado a morar com o ex-namorado porque não tinha dinheiro para um lugar só dele. Ele tem 35 anos e tem de se submeter a uma situação incômoda para ficar no Rio ou voltar para casa dos pais no interior... Ele quando ele me disse que se arrependia de ter namorado durante a faculdade de arquitetura e não prestado atenção na profissão, eu lembrei de você. Você é muito inconseqüente com o seu dinheiro e sinceramente acho que você já não ganha mais nada estando naquela livraria. Você trabalha muito, ganha pouco e deixa o seu sonho de designer em segundo plano. Eu raramente te vejo tão empolgado com um projeto ou com algo que te dê dinheiro, só com festas, roupas e namoro. É uma questão de priorizar. Agora, eu sei que você esta sentindo falta do Edu, mas não seria o momento de parar e pensar qual o rumo da sua vida?’




Ela é a rainha de fazer isso. Colocar o dedo na ferida quando menos se espera. Voltamos conversando ainda sobre isso. E mesmo achando que ela faz um pouco de pressão para que eu caminhe eu não posso negar que é sempre para frente que ela me empurra. Mas parando para pensar eu estava confuso e sem prioridades. Trabalho para pagar meu celular, minhas saídas e bebidas e o resto das contas jogo no colo dela. E meu ultimo plano era pensar o que eu tinha de cortar para passar um final de semana em São Paulo com o meu namorado. E embora ainda soe como um plano bom, o presente não é o que eu deveria ter como meta. E daqui a dez anos o que seria? Eu teria de me submeter ao meu namorado/marido para poder fazer o que eu gosto ou quero ou então voltar para a casa da mamãe? Não era este o futuro que eu queria para mim. Embora tivesse saudade e bem querer, para que tudo fosse para frente era necessário que os dois andassem com as próprias pernas. Se o meu futuro é com o Edu é algo questionável, mas que este futuro não deve depender de ninguém isso é um fato.

A noite, já deitado eu recebo uma mensagem dele: ‘Miss u, sweetie. Luvya...’

E com o ponto pulsante da pagina de resposta eu vi que tinha de abrir meu espaço, respirar. As duvidas finalmente saiam de mim, mas pousavam em outro canto. Mas prefiro deixar as duvidas para quando houverem problemas.








Para ouvir depois de ler: Jordin Sparks – One step at a time

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Três Palavras

"As grandes paixões,
aquelas que chegam de repente,
sempre trazem consigo as suspeitas".

Cervantes





Resumos da noite anterior são difíceis de sintetizar. Deus sabe que esta é a terceira versão do texto e que foi difícil de sair. Não porque algo precisasse ser inventado, mas porque dentro de um mundo de acontecimentos e pessoas tentar focar no que realmente importa é algo que ainda tenho dificuldade de fazer. Tanto por escrito quanto na minha vida.

No dia seguinte da festa, sou acordado pelo telefone às 15 horas. Minha cabeça dói e tendo a ser mal educado quando sou acordado. Era Fabio que queria marcar de ir ao shopping para conversarmos sobre a noite e talvez pegarmos um filme. “Nem fudendo eu saio da cama hoje.” Jogo o telefone na parede e ele silencia, mas já não consigo dormir. O que foi da noite anterior? Fabio bebeu demais e dançou “Single ladies” melhor que o cara que se apresentou no concurso. Henrique ficou puto com o namorado que se cansou lá pelas três da manha e queria ir embora. Marcos, um amigo nosso que eu quase não vejo, havia gamado em um cara muito feio, mas que morava perto dele e ia levá-lo de carona. Noite com três palavras: Pessoas Muito Loucas.




Café, computador e Cibelle. Vícios de sempre. Acho incrível a velocidade das pessoas para coisas inúteis. Já havia fotos da noite anterior no Orkut. Típicas. Pessoas suadas e acabadas se abraçando. Pessoas com passos duvidosos e caretas sem fim. Pessoas se pegando em fundos escuros do lugar. Por isso que eu nunca tiro fotos depois de entrar. O telefone toca. Mamãe. “Estou indo passar aí, meu filho.” Ótimo, eu precisava mesmo da mamãe.

Entrei na festa com pelo menos três latinhas de cerveja, uma caipirinha e muito papo cabeça dentro de mim. Já estava mais pra lá do que para cá. Mas estava curtindo, me divertindo, rindo. Entramos e ficamos na pista, dançando. Tudo estava ótimo, ate que começo a sentir algo estranho. Não era ânsia, pois havia comido algo antes de entrar. Era só aquela incomoda sensação de estar sendo observado, como se o meu telefone fosse tocar e o assassino fosse perguntar qual o meu filme de terror favorito. Sei lá. Começaram as apresentações e o Dj desandou a falar. Resolvemos sair e sentar um pouco nas mesas do lado de fora. Nesta hora, Henrique aponta para a porta e diz “Ih, olha o Alessandro saindo ali!”. Abaixo a cabeça unicamente para pensar “Putaquipariu!”

Sentamos e conversamos, mas meus olhos insistiam em acompanhar aquela figura estranha, que ate então não tinha me percebido na festa – Graças a Deus! Estranho, pois não me lembro de conseguir focar direito nessa hora. Henrique, reparando na minha cara, me chama ao banheiro.

“Luis, você está sendo idiota e espero que esteja sendo por causa da bebida.”, disse Henrique se olhando para o grande espelho no banheiro, “Olha, eu te entendo. Sei do que você está com medo. Está com medo de o Alessandro chegar e estragar de alguma forma o que ta rolando entre você e o Edu. E sinceramente isso é burrice...”

“Pára, Luis....”, minha mãe interrompe minha narração. “Você acha que ta enganando quem? É obvio que você não estava com medo disso. Até porque o que ele diria ou faria para estragar o seu relacionamento? Você está é com medo do Alessandro chegar junto e você não saber o que fazer! Ficar na duvidazinha entre ele e o Edu. Que coisa mais juvenil! Pára de ficar olhando para trás. Vira essa página, menino, porque ele com certeza já virou!”

“Não, mãe... É só que...”, comecei a responder, mas me detive. Pensei. Não estava totalmente errado. “Eu não vou dizer que isso não passou na minha cabeça... Mas não é preciso muito para ver que isso é babaquice. Até porque foi como o Henrique disse lá no banheiro...”

“O Alessandro não teve nem coragem de se assumir por você, você acha que ele vai ter coragem de vir falar com você?”, disse sério através do espelho, tão sério que nem ele mesmo acreditou que pudesse. Voltou-se para o seu cabelo e terminou “Além do mais ele não iria mexer com você, porque se ele vier a gente se junta e mete a porrada nele. Vamos, to pronto.” Rimos e saímos.

Rogério estava do lado de fora com um refrigerante para o namorado.
“Vocês demoraram... Está tudo bem?” “Sim, papo de menina no banheiro.”, e voltamos para pista.


Mas a má impressão ainda não tinha saído. Momento com três palavras: Guilty as charge

A música nos embala e começamos a zoar e tudo vai bem. Ate que começa a apresentação de alguém e A passa por nós com seus amigos. E o desconforto volta com força total. Então decido abrir o jogo com Edu. O chamo para comprar bebida conto tudo na fila da perseguição, do medo e do fato que tava meio bêbado e podia ta falando demais.

“ ...E sei lá, eu sei que é ridículo, mas fico com receio dele estragar nossa noite...”

Ele me puxa para o lado de fora e sentamos no canto das escadas, o mesmo em que ficamos horas conversando quando ficamos na primeira vez.

“Luis, isso realmente é ridículo. Não a nada, nem ninguém aqui que possa estragar nossa noite, só nós mesmos. E o mesmo acontece com a gente. Olhe para mim. Vamos fazer três meses juntos. Desde que estamos juntos todos os nossos encontros, mesmos aqueles que terminam com algum problema, são ótimos. É ótimo estar com você. E ninguém, ninguém pode mudar isso, só a gente tem esse poder.”

Eu não esperava isso dele. A verdade é que sempre me surpreendo com ele. Nos beijamos e pedi desculpa. Normalmente sempre esperei que o outro fizesse algo de errado para decretar o fim do relacionamento – e em muitos isso aconteceu. Mas nunca parei para pensar que a falta de confiança em mim mesmo poderia ser ruim. E apesar de nunca ter sido inseguro assim,vi que estava sendo imaturo diante de alguém que não merecia isso.

Voltamos para pista, desta vez com a intenção de nos divertirmos. E dançamos e rimos e cantamos e fizemos da noite mais um dia memorável para nós. Não precisava de ninguém, nem de mais bebida, nem de mais pessoas. Tinha meus amigos e tinha ele. Eu tinha ele.

No ouvido dele, três palavras: Eu te amo...

Ele me abraçou forte e disse que me amava desde o dia que me viu no jantar em que nos conhecemos. Me senti mais conectado com ele do que nunca. Tanto que nem dei importância ao esbarrão que dei em A ao sair do banheiro, algumas horas depois. Mas o comentário do Edu foi definitivamente o melhor da noite: “Luis, ele ta melhor nas fotos que pessoalmente, hein...”







Para ouvir depois de ler: Amy Winehouse – Will you love me tomorrow?

sábado, 11 de abril de 2009

A Liga do Bem contra a Legião dos Ex-namorados Excrotos

"É mais fácil pedir
perdão do que permissão."

Calvin e Haroldo






Quinta-feira, Lapa. O bar Arco-íris já está virando um ponto nosso. Depois de um dia inteiro fora com Edu paramos lá para beber e resolvemos chamar os meninos. Os amigos do Edu já tinham programa, então só restaram os meus amigos. No telefone eu relutei um pouco, mas por causa do programa de sábado [hoje] resolvemos nos ver antes.

Bem, para entender o porquê do meu receio eu tenho de atualizá-los do que andou acontecendo entre nós três. A começar por Fabio que se desiludiu com o X, que realmente era um idiota que só pensava no trabalho e no seu relacionamento passado, fazendo com que o meu amigo voltasse para onde ele se sentia a vontade: à noite. Fabio saía, bebia e reorganizava sua agenda de contatos e amantes. Ate um dia nos encontramos não por acaso no Arco-íris também e depois de um pouquinho de álcool e filosofia entramos em uma discussão homérica sobre felicidade/amor/sexo onde, segundo ele, eu usei a palavra ‘infeliz’ umas duas vezes para me referir a ele e ele ameaçou quebrar a garrafa na minha cabeça umas três. Tudo na maior fraternidade, claro. Na hora eu pensava que estava fazendo uma intervenção a um amigo, mas para ele e para os demais presentes aquilo ficou como ofensa totalmente gratuita. E é claro, quando duas comadres brigam acaba sobrando para a terceira, que ao tentar apartar acabou como objeto de critica dos dois. O problema de amigos perto é que apesar deles serem aqueles que te ajudam também são aqueles que eles vêem nossos defeitos e não hesitam em colocar o dedo na ferida. Quando é um toque amigo do tipo ‘acorda para a vida’ ele pode ser bem vindo. Mas às vezes eles vão mais fundo do que deveriam, e foi o que eu havia acabado de fazer.



“Está aqui. Três ingressos para a Ultra Love Cats.”, disse Henrique batendo os ingressos na mesa com força. Demos o dinheiro pelos ingressos adiantados e ficamos em um silencio incômodo ate que Edu e Rogério, os namorados, quebrassem o gelo e começassem a conversar sobre algo qualquer só para que alguém falasse. Ai eu que não agüentei.

“Ai, desculpa eu não posso ficar nisso de fingir que não tem nada acontecendo. Me deixa falar!”, interrompi o que quer que estava acontecendo e tomei a atenção da mesa. “Meninos, vocês sabem que eu adoro vocês e se é para ficarmos emburrados um com o outro prefiro não ir nesta festa.”

“Eu concordo”, disse Fábio, ”Eu nem estava querendo ir nesta droga. Alem do mais é um concurso de coreografias, já imaginou a merda? ”

“Mas a idéia de irmos era justamente para zoarmos as pessoas dançando, bebermos e curtimos a noite porque o Luis não sai mais com a gente...”

Minutos de tensão e ninguém falando nada.

“Já que ninguém quer falar eu falo...”

“Luis, se você me chamar de infeliz mais uma vez essa garrafa vai voar na sua cabeça, viado!”

“Não, Fabio, escuta. ... Me desculpa se fui um pouco invasivo e...”

“Invasivo, incoveniente, futriqueiro... awn... que mais?”, enumerou Henrique.

“OK, ok... eu entendi. Não sou perfeito para ficar apontando os defeitos dos outros nem para ficar dando lição de moral, já entendi. Só não quero que a gente fique assim.”

[...]

Amizade, assim como namoro, passa por seus momentos de turbulências e excessos. Nós nos gostamos, mas não somos super-amigos-fofos sempre. Às vezes é necessário uma D.R.’s entre amigos para resolver os mal entendidos que aparecem. Abraços e risos depois já voltamos a falar besteiras e os namorados respiraram aliviados.


Saímos de lá e enquanto andávamos para algum ponto voltamos a comentar da festa. Estávamos animados de novo com a possibilidade de nós três como nos velhos tempos e já estávamos pensando na pré-festa...

“... porque eu não quero chegar sóbrio meeesmo naquela festa...”, eu disse.

“Valeu, bebum.... Mas porque isso, Lu?”

“Vocês deram uma olhada na lista amiga da festa? Vai ter mais ex por metros quadrados que em qualquer festa! Praticamente a volta dos mortos vivos!”

“Sim, sim!”, Fabio se identificou, “Cara, eu to com muito medo disso... Ate o X vai nessa drouga dessa festa, Eu estou com medo de fazer alguma besteira.”

“Ainda bem que eu não tenho esse problema porque sou de família e não solta na vida que nem vocês duas...”, ironizou Henrique.

“Ah, vai a merda, Henrique...” e recomeçou a briga das candinhas.

Quando a brincadeira parou, Henrique deu a noticia que eu não queria ouvir.

“Lu, você viu que o Ale está na lista, não é?”

Eu fiquei em silêncio e olhei para o Edu que fez uma cara de quem entendia o meu receio, mas na verdade não entendia. Nessas horas amaldiçoava o fato de ser o primeiro namorado dele e não ter ninguém que fisicamente pudesse ser colocado em contraponto ao A. Mas principalmente tinha medo do que poderia acontecer, de como eu iria reagir ao vê-lo novamente. Era um medo irracional e sem sentido que na minha cabeça, só o álcool poderia esconder.

“Lu, não se preocupe! ”, disse Fábio segurando meu ombro e olhando para o infinito como Buzz Lightdear “ Seremos a Liga do Bem contra a Legião dos Ex-namorados Excrotos! Vamos ser tão bafônicos e fechativos que todos morreram de inveja e eles de raiva!” Rimos por uma meia hora e a conversa descambou para outro lado. Mas agora, horas antes de sair para me encontrar com eles de novo, isso voltou a minha cabeça.




O que a noite reserva para nós?








Para ouvir depois de ler: Duffy – Rain on your parade