terça-feira, 2 de junho de 2009

Ato final: Gravidez [in]desejada



[ O amor maternal faz-nos ver que
todos os demais sentimentos são enganadores ]
- H. Balzac




Hospitais sempre tiveram um ar estéril para mim. Salas de esperas beges com enfermeiras de jaleco verde lavado e revistas duvidosas disponíveis para os que esperam. O inferno não seria muito diferente. Mas depois de alguns minutos você acaba sucumbindo e pega uma daquelas revistas para não pensar em quanto tempo ainda falta para te chamar.

Trinta e cinco minutos, duas revistas ‘Caras’ e uma receita da Ana Maria Braga depois meu nome é chamado. O médico, que havia sido indicado pelo meu pai, não era bem o que eu esperava. Dois minutos de conversa e eu já o achava um babaca machista, pois somente um escroto pode começar uma frase com “As menininhas de hoje em dia...” quando questionado sobre um possível problema na bolsa escrotal. Calça no chão e o ele faz o seu exame. Ao contrario de alguns filmes pornôs, esta é uma situação extremamente constrangedora, especialmente pela visível cara de nojo do doutor. Ele segura, mexe para cá, brinca com ele e depois lava a mão compulsivamente.

“É, cara, eu to achando que é varicocele, mas só com uma ultra-sonografia para confirmar.”, disse enquanto secava as mãos. Não sei da onde ele tirou intimidade para falar assim comigo.

“Varico... vari.. o que? Bem, eu quero saber como eu consegui isso.”

“É genético. E acontece mais ou menos na sua idade... Ainda bem que você veio cedo quando ainda estava começando...”

Eu respiro aliviado
“Que bom... mas qual o tratamento?”

“Eu preciso confirmar antes com a ultra, mas o tratamento é apenas operatório.”

“Operação? E o que acontece se eu não o fizer? Algum risco de vida?”

“Não, mas corre o risco de infertilidade.”

Convenientemente naquele mesmo andar tinha uma ultra-sonografia — com uma taxa extra, é claro. Mas eu nem me importei, pois a ultima palavra do médico ficou retumbando na minha cabeça. Infertilidade. Infértil. Do jeito que ele falou não pareceu um diagnostico e sim uma opção. E será que eu iria querer ter filhos algum dia? Mesmo sendo gay e por isso quero dizer que biologicamente eu não posso ter filhos com o meu parceiro, ate o momento procriação nunca foi algo que almejasse.

Sai para comer algo antes de enfrentar a fila no ultra-som e enquanto almoçava lembrei que um ex-namorado uma vez me disse que adoraria se seu namorado um dia chegasse para ele e lhe surpreendesse dizendo que esperava um filho dele — se fosse biologicamente possível, claro. Seria um filho do amor deles. Este é um tipo de surpresa que não temos, e juro que quando ele me contou esta historia eu dava graças a deus por não poder engravidar. Mas diante de tudo isso — de filhos de amor, de esterilidade, de almoço... — eu pensei “e se...'s" o que não foi muito difícil, pois quando voltei à sala de espera, esta estava lotada de mulheres grávidas e crianças de colo — o que tornou tudo mais perturbador.

É neste ponto que eu paro para dizer o quanto às mulheres são corajosas e abençoadas por poderem gerar vida. Naquele lugar eu via que mesmo a mais pobre e a mais rica tinha uma relação de tanto amor com o filho que é difícil pensar na quantidade de dores que ela sentiu para tê-lo. E dor é algo que nós homens não estamos acostumados. Pelo menos não como elas. Mas e se os homens pudessem ficar grávidos?

É a minha vez na sala do ultra-som. O lugar se iluminava apenas com a luz da maquina e do banheiro. O técnico me cumprimentou com a cara mais entediada no mundo, o que eu não entendia, já que ele só trabalhava dois dias na semana. Ele me perguntou o problema e pediu a receita do medico. Revirou os olhos lendo o papel e pediu para que baixasse a calça. Calça no chão novamente. Me senti até mal porque nunca um homem foi tão inexpressivo ao me ver pelado. Deita na cama de barriga para cima e besunta-se com um gel gelado. E naquela posição, vendo de soslaio formas fantasmagóricas e impossíveis de se distinguir no monitor que me senti realmente como uma mulher grávida e vou dizer que não senti conexão nenhuma com aquilo. Ainda bem, pois engravidar com vinte anos não ia me fazer bem mesmo.

Sai do exame e liguei para Edu dizendo que tinha saído do ultra-som e que o filho era dele. Ele ficou em silencio por alguns minutos tentando entender o que havia dito ate dizer que quem quer que seja que tinha ligado errado, então eu contei tudo, do médico babaca ao desejo de gravidez. Ele riu. E todo esse pensamento sobre filhos, médicos e gravidez terminou naquela noite, quando passei mal provavelmente por algo que comi no almoço e virei a noite vomitando. O episódio todo me rendeu uma semana de piadas sobre estar grávido. E embora isso tenha passado, eu não ainda não marquei a operação e não sei se vou marcar. Tenho preocupações financeiras maiores agora e isso não vai me matar.




Agora eu deixo você. Obrigado por ter me acompanhado, falado, ouvido ou pensado mas fecho a segunda temporada aqui e me dou umas boas férias. Não será muito tempo, mas o suficiente para que tenha muito mais para contar quando voltar.

Vocês ainda não se livraram de mim. Beijos, L.C.

14 comentários:

  1. Seu leitor assíduo, que conheceu e devorou seu blog em pouquíssimo tempo fica aqui esperando esse retorno. Só espero que ele realmente ocorra! rsrs

    Ahhhhh, boa sorte independentemente do que aconteça e sentirei falta dos seus textos!

    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. adorei oi proposito do post!

    cara, eu ja pensei nisso sim, e ]por mim ficaria doido pra adotar um filho, mas e achar um cara que seja meu marido e que queira isso.

    Só o primeiro item já esta dificil, imagine os dois


    :(

    ResponderExcluir
  3. Eu tenho uma filha (embora não fale muito dela no blog) e, é uma bênção...
    Boas férias e mal posso esperar a proxima temporada!

    ResponderExcluir
  4. Gente.. Logo hj fui ler o blog.. Qdo ele sai de ferias.. Adorei a postagem... E to até agora me perguntando se faria a cirurgia...
    É.. Acho que mexeu comigo...

    ResponderExcluir
  5. Ah, eu quero muito ter filhos.
    Adoro crianças.
    Mas, sinceramente, não queria gerar uma não, rs...

    E, menos mal que é algo simples, né?

    Bjão e boas férias!

    ResponderExcluir
  6. Puxa, ao final, pensemos positivo: menos dindim a gastar com fraldas! hehehe
    Abraço!

    ResponderExcluir
  7. É o sonho de muita gente ter filhos e tudo mais. Casa com cerquinha branca e aquele jardim verde na frente! Nunca ouvi pessoas dizerem que sonhavam em morar em um trailer ou virar hippies mais td bem neh?! AUHAHUAUH Eu tbem kero mto ser pai um dia... vamos ver!
    Abração!

    ResponderExcluir
  8. Oi Lu!

    Ri muito com seu postl... kkk

    Boas férias, beijo !

    ResponderExcluir
  9. Olá! Muito bom a proposta do post.
    Sou mulher e meu sonho (inexplicável) é ter um filho.
    Não agora com vinte anos rsrs mas um dia, quem sabe. Parabéns, você escreve muito bem. Abraços.

    ResponderExcluir
  10. Eu mesmo achei que estava grávido, outro dia. Fiquei preocupadíssimo. Você revê tudo, principalmente a situação financeira. Um horror. Mas não era nada. Graças.

    ResponderExcluir
  11. amei o blog, já me tornei uma seguidora!

    bjo

    ResponderExcluir
  12. Porque estava a água tão azul ?

    Abriu os braços e deixou-se ir. O fundo do oceano chamava-a, num murmúrio silencioso que mais ninguém, para além dela própria, ouvia. Talvez fosse só o rebentar das ondas nos recifes de coral, à superfície; ou o rolar das conchas no fundo de areia, empurradas pela corrente. Ou talvez não fosse nada.
    Um silêncio imenso, azul, tomou-lhe o corpo, enquanto se afundava devagar, contemplando a superfície luminosa das águas a afastar-se, cada vez mais distante, mais distante...
    Era uma forma de partir, tal como outra qualquer.
    Era uma forma de desistir, de renunciar ao sofrimento, de dizer basta à doença, de aceitar... que nem sempre se pode vencer.
    Soltou as últimas bolhas de ar que ainda conservava consigo e ficou a vê-las subir, rumo à superfície... enquanto ela se afundava mais e mais, para uma água cada vez mais azul, rumo à escuridão.
    O médico dissera-lhe: mais seis meses... talvez um ano, se tiver sorte...
    Não era justo.
    Tanta coisa ainda por fazer... tantos projectos inacabados... tantos sonhos por cumprir... e uma doença, seis meses de vida, talvez um ano? Se tivesse sorte?
    Não era justo.
    Mas a vida não tinha que ser forçosamente justa, pensou. Sentira as primeiras dores no mês anterior, e depressa compreendeu o que a esperava, nos tempos seguintes.
    As dores repetiram-se, aumentaram de intensidade. O médico também a avisara disso. O próximo passo seria a cirurgia, a amputação, e depois... nem ela sabia o que seria o depois.
    A falta de ar apertou-lhe o peito.
    À sua volta, um bando de peixes coloridos parecia intrigado, pela presença daquele corpo inerte, afundando-se vagarosamente no oceano.
    A vista turvou-se, misturando formas e cores numa aguarela confusa.
    Deixou-se ir.
    Algo a tocou. Abriu os olhos.
    O que era aquilo?
    Uma tartaruga? Nunca estivera assim tão perto de uma...
    Passou-lhe a mão pela carapaça, lisa e escorregadia. Ela devolveu-lhe o gesto, debicando-lhe o braço frio. Só então reparou, quando a viu afastar-se.
    O pobre animal já sofrera no corpo a investida de algum caçador, faltava-lhe um dos membros inferiores. Nadava desajeitada, em sucessivas curvas, mais devagar do que seria normal... mas mesmo assim, sobrevivera, e ainda continuava viva, nadando...
    Ficou a vê-la afastar-se, rodeada por um séquito de pequenos peixes, como se de uma autêntica corte se tratasse.

    Contemplou novamente a superfície esbranquiçada das águas, cada vez mais longínqua.
    Valeria a pena?

    Não sabia.
    Sabia simplesmente que... tinha que tentar.
    Abriu os braços e apontou à superfície. Podia já não ter ar suficiente... mas valia a pena tentar...

    ( Bom fim de semana )

    ResponderExcluir
  13. E ai Luiz td bem....
    Novato aqui no seu blog cara!

    Primeiro dizer que é sempre bom, ter blogueiros,assim que tem suas opinioes e historias propias..

    segundo que negocio de medico etudo mais conheço bem... aqui em casa é point. mais vamos deixar pra lá

    Terceiro quero fazer mais uma amizade blogueira, e como achei seu blog interessante, Vou te presentear com um Mais um selo, já vi que voce tem alguns nao é...

    Espero que goste.. então é so entrar lá no blog e copiar o "relamentinho" de sempre, e responder as perguntas da sua Playlist queremos saber alguns generos musicais seus cara!!.

    Blzinha. entao té + adorei o Blog.

    ResponderExcluir