sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cidade do Pecado



Era abrir os olhos e a noite girava no que restava da minha cabeça. A ressaca com o cheiro de cigarro trazia para o domingo um sentimento estranhamente familiar. Gabriel dormia do meu lado e ao que tudo indicava tinha ido para a casa dele. A primeira noite de volta na velha cidade e eu voltava para os meus velhos vícios. Pelo menos estávamos com a maioria de nossas roupas, o que indicava que estávamos muito bêbados para qualquer coisa.

Passo atrás de passo, tateio os corredores atrás de um banheiro. Não é preciso muito para achar a porta certa. O lugar é gigante. Acho que o meu quarto caberia aqui dentro. Me jogo na privada e acendo um cigarro que estava em cima da pia. Nunca realmente se pára de fumar, eu penso. A cada tragada tento reconstituir a noite anterior. Gabriel. Ele tinha namorado, mas topou sair comigo. Algo sobre ter gostado das minhas fotos. Cinema e bar, que deveriam terminar sociáveis terminaram em alguma festa de um amigo de um amigo e eu o pegando em algum corredor escuro.

Um banho frio, é isso que eu preciso para botar tudo de volta no lugar. A banheira estava cheia de sapatos então tinha que ser no chuveiro mesmo. Ainda bem, porque se deitasse na água provavelmente não voltaria. E enquanto escorriam minhas lembranças, eu organizava mentalmente minhas lembranças o que invariavelmente terminava comigo querendo sair correndo de onde estava. Mas neste caso eu estava em paz. Em paz, ate meu estomago dar sinais de estar vivo ou o meu fígado implorar por misericórdia, mas depois de um tempo se acalmou junto com a estranha consciência de que eu era apenas mais um menino perdido. Perdido e molhado.

Parei um minuto enquanto me secava para ouvir a casa. Nem um som. Não tinha idéia se era muito cedo ou muito tarde, mas definitivamente não estava fazendo cerimônias. Foi quando um pensamento me cruzou. Porque estava ali? Se fosse alguns anos atrás acharia um escândalo, até vergonhoso acordar na mesma cama que alguém que conheci há poucos dias ainda mais sendo ele comprometido, mas não sentia nada. Isso, de certa forma, me chocava, pois deveria sentir algo. Mas estava cansado de tudo. Ele foi simpático comigo, isso bastou.

Quando abriu seus grandes olhos azuis, eu estava na porta olhando ele na cama. Ele levou alguns minutos percebendo o que aconteceu ate que eu dissesse:

“Bom dia, estranho.”

Não custa nada tentar recomeçar.


[...] Obrigado a todos que enviaram seu amor, mas estamos de volta ao Rio. 


Ouça depois de ler*: Lana Del Rey – Blue Jeans

[ * Obrigado pelo comentário, André ]

5 comentários:

  1. sempre muito bom, sempre muito bom!
    me deu saudade de qndo eu vivia essas coisas e podia escreve-las no blog

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  2. É, adventures não são pra todos! haha

    A volta pro RJ é defintiva?
    Abração!

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  3. Cigarro e depois um banho sempre ajudam depois de uma noite 'daquelas'. Ajudam até quem não fuma. rs

    p.s.: fiquei tão feliz quando soube que estavam em SP... rs...

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