segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Ele e o outro
Ele não tinha o que fazer então foi lavar louça. Era terapêutico. Seus pensamentos fluíam melhor com sabão. E precisavam fluir. Estava deprimido. O outro não ligava, parecia não se importar e ele estava se sentindo mais só do que nunca. Então lavava.
Toca o telefone da sala. É um trabalho no centro da cidade. Não queria sair, não queria ter coragem de sair, mas saiu. Trabalhos não costumam se oferecer tão facilmente. Para sua surpresa foi algo bom, animador. do tipo oportunidade unica. Animou-se tanto que queria ligar para o outro e contar como foi divertido e compensador[...], mas o outro não o atendia mais. Deprimiu novamente. Sentia falta da rotina dos dois, da vida a dois, de ser dois. Mas ele era um.
Ligou para seu primo que estava na cidade. Um jantar? Pode ser aqui perto? Ótimo. Não haviam muitos com quem conversar, mas pelo menos era uma companhia o fim da noite. Quisera quer as perguntas não fossem as de sempre. O trabalho? Vai indo. Os estudos? Já nem sei. Projetos novos? Deixa para o ano que vem. Namorados? Não quero nem saber. E o outro? O outro? Você não sabe do outro? Era o momento que ele esperava. Juntou os cacos de dor e depressão na melhor narração que pudesse contar. Contou aguras, neuras, loucuras. E se viu, ridículo, mostrando o pior de si. O outro foi traído. sem querer, sem maldade, mas traído. E ele o que sofrera? Algumas ligações não respondidas, algumas mensagens nunca lidas? Eu não responderia nem falaria de novo com ele. Mas você tentou reatar? - perguntou o primo.
Sim, disse ele negando tudo na sua mente.
Ele que foi o traidor, ele que foi o chato que liga. E traição merece perdão? Talvez, mas não tem como consertar. Não volta a ser do jeito que era. E o resto, a vida separa. Eles já não frequentavam os mesmos lugares, não gostavam das mesmas coisas e viviam momentos diferentes. E ele ainda estragou tudo. O outro que está certo em não escrever ou querer ouvir a sua voz. Está certo em conhecer novas pessoas e fazer novos amigos. Ele que não deveria estar aguardando uma revelação divina ou um ato de amor desesperado para que sua vida continue. Não. Deixe passar, cicatrizar.
E no fim da noite, quando o bar estava fechando a dama de dourado sentou-se ao seu lado e vendo o que via perguntou com um sussurro se estava ali por já ter amado. Acho que fui amado, mas já não sei se amei. Será que um dia saberei?
Para ouvir depois de ler: Nina Simone - Wild is the Wind
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saberá, ah, saberá...
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