terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Season Finale: Cena do crime





I wish I could love you more. I should have loved you best.



Resoluções de fim ano e o que você tem? Existe o cara certo? Não, não existe. Existe o cara errado? Claro, mas quem se importa. Existe o final feliz? Cara, só termine o ano para que tudo possa começar novamente. Acho que não preciso mencionar 2011, ele já está bem claro. Não foi um ano ruim, não. Tiveram coisas boas. Coisas que não consigo lembrar mais tiveram.

Estou em uma editora nova, fotografando, quase me sentindo Peter Parker. A ultima pauta do ano era uma foto meio tapa buraco porque alguma global estava muito ocupada para ser entrevistada. Típico. Meu editor me liga esbaforido perguntando se sabia onde encontrar duas bandas novas para poder entrevistar. Uma abordagem musical, ele diz. Na hora me vem o estalo, Rodrigo. Ele era produtor de banda, deveria conhecer melhor a cena. Ele atende a ligação e concorda em me ajudar se me encontrasse na casa dele. Odeio quando profissional e pessoal se misturam, mas Papai Noel precisava daquela grana.

Só para que saiba, estou trabalhando em São Paulo agora. Então coloque junto nessa equação a vontade insana de terminar tudo e voltar para minha terra carioca. O apartamento dele era no centro da cidade,  lindo o lugar, mas não era da decoração que eu tinha receio. Era de entrar no turbilhão de lembranças que só acontece quando se volta ao local do crime. Tudo estava meio igual, mas ao mesmo tempo estava fora do lugar. Ele abriu a porta usando calça jeans e um cordão e bebendo um uísque. Praticamente um rockstar. Senta onde quiser, sobre o que quer conversar? Faz tempo que não nos falamos. Eu o analisava meticulosamente sem me preocupar com o que respondia. Esperava um bote ou alguma forma ilicita de pagamento pela informação.

“hey... Thiago.... E onde você está?”

"Estou aqui, por que ta me perguntando isso?”

“Faz anos que não nos falamos e nem nos encontramos e você está divagando na minha sala de estar. Não sei se tudo é uma surpresa ou se estou vendo tudo acontecendo de novo.” Devia saber que ter caso com gente de musica era problema. Especialmente quando se estava namorando outro cara. Agora tinha de agüentar isso. Ele se ri e pergunta se quero um drink. Antes que responda, tenho um Martini na minha mão.

“E como vai o doutorzinho?”

“Espero que realmente seja uma brincadeira essa sua pergunta.”

“Sim, eu vi que você e o Edu se seoparam. Não por minha causa, espero. Diga, ainda se falam?”

“Não, e se quer saber nem mencionamos o nome um do outro.”

“Que dureza. Mas se você voltou a falar comigo, porque não com ele?”

“Você quer a verdade?” Ele sorriu meio de deboche, assentindo. “ Já nem sei mais. Às vezes me esqueço que ele existiu, mas às vezes me bate uma besteira. Mais quando tudo está na merda. Como se ainda lembrasse da voz dele me acalmando. Ele me trazia paz. Agora é só lembrar dele que percebo que aquele estudante de medicina que ia me visitar entre as aulas não existe mais. Aquele cara não existe mais. Hoje ele é um feliz doutor, com seu marido novo e seus amigos novos. E eu... Vou me achando. Sou um outro homem também. Mas é assustador de pensar o quanto já estamos distantes. Somos praticamente estranhos.”

“Que bonito, você ainda o ama”, disse sem perder o tom do outro lado da sala.

“Não, não amo. Mas amei. E como todas as coisas do passado, fica aquele medo de que nunca mais volte a amar.”

Silencio.

Já esqueci para que vim aqui. Pego minhas coisas e me preparo para sair.

“Eu podia ter te amado”, ele quebra a pausa com essa. Por mais sincero que fosse não sabia o que ele esperava que eu respondesse. E de repente não é mais preciso. Ele me puxa pelo cós da calça e me beija com a fúria de quem mata uma sede. Sede dele, sede minha. Engolimos o desejo um ao outro e paramos cansados sem nos distanciar. Ele puxa um papel de dentro de uma agenda e coloca no meu bolso.

“Vai...”

Eu devia ter ficado, mas não. Sai do prédio com a impressão de que o passado só serve para nos lembrar das coisas que deixamos para trás. Verdade ou não, Amor ou não, apenas uma coisa que em tudo isso era certa: não foi por falta de amor que as coisas ficaram do jeito que estão. Foi por não saber amar.


Ano de merda

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ele e o outro






Ele não tinha o que fazer então foi lavar louça. Era terapêutico. Seus pensamentos fluíam melhor com sabão. E precisavam fluir. Estava deprimido. O outro não ligava, parecia não se importar e ele estava se sentindo mais só do que nunca. Então lavava.

Toca o telefone da sala. É um trabalho no centro da cidade. Não queria sair, não queria ter coragem de sair, mas saiu. Trabalhos não costumam se oferecer tão facilmente. Para sua surpresa foi algo bom, animador. do tipo oportunidade unica. Animou-se tanto que queria ligar para o outro e contar como foi divertido e compensador[...], mas o outro não o atendia mais. Deprimiu novamente. Sentia falta da rotina dos dois, da vida a dois, de ser dois. Mas ele era um.

Ligou para seu primo que estava na cidade. Um jantar? Pode ser aqui perto? Ótimo. Não haviam muitos com quem conversar, mas pelo menos era uma companhia o fim da noite. Quisera quer as perguntas não fossem as de sempre. O trabalho? Vai indo. Os estudos? Já nem sei. Projetos novos? Deixa para o ano que vem. Namorados? Não quero nem saber. E o outro? O outro? Você não sabe do outro? Era o momento que ele esperava. Juntou os cacos de dor e depressão na melhor narração que pudesse contar. Contou aguras, neuras, loucuras. E se viu, ridículo, mostrando o pior de si. O outro foi traído. sem querer, sem maldade, mas traído. E ele o que sofrera? Algumas ligações não respondidas, algumas mensagens nunca lidas? Eu não responderia nem falaria de novo com ele. Mas você tentou reatar? - perguntou o primo.
Sim, disse ele negando tudo na sua mente.

Ele que foi o traidor, ele que foi o chato que liga. E traição merece perdão? Talvez, mas não tem como consertar. Não volta a ser do jeito que era. E o resto, a vida separa. Eles já não frequentavam os mesmos lugares, não gostavam das mesmas coisas e viviam momentos diferentes. E ele ainda estragou tudo. O outro que está certo em não escrever ou querer ouvir a sua voz. Está certo em conhecer novas pessoas e fazer novos amigos. Ele que não deveria estar aguardando uma revelação divina ou um ato de amor desesperado para que sua vida continue. Não. Deixe passar, cicatrizar.

E no fim da noite, quando o bar estava fechando a dama de dourado sentou-se ao seu lado e vendo o que via perguntou com um sussurro se estava ali por já ter amado. Acho que fui amado, mas já não sei se amei. Será que um dia saberei?


Para ouvir depois de ler: Nina Simone - Wild is the Wind