sábado, 9 de agosto de 2008

Marcos

Finalmente de volta as aulas. Já estava sentindo falta da minha faculdade querida. Tudo bem, não era das aulas que sentia falta, mas do que acontecia depois delas. A primeira semana é sempre a mais lenta: não se sabe os horários, os trotes animam os veteranos e os professores muitas vezes não vem. Mas isso não impede que se reúna os amigos em volta da mesa do bar.

Luiza, uma amiga de Letras-Grego, sentava-se na minha frente e foi quem me apresentou a eles. Ao lado dela, Matias, de Letras-Latim, contava tudo sobre as loucuras que aconteciam no seu prédio enquanto olhava discretamente o peitoral de Leandro, de Arquitetura, que se limitava a beber, fumar e sorrir.

Três choppes e todos já estão colocando as cartas na mesa e baixando o nível da conversa. ‘Gente, que brincarmos de verdade ou conseqüência?’, propôs Luiza com a visível intenção de ver o circo pegar fogo. Antes que eu pudesse proferir o meu ‘Melhor não, ainda não to bêbado suficiente pra isso... ‘, ele chega por trás dela e lhe tampa os olhos.

No nano-segundo que ele olha pra mim, um filme passa na minha cabeça. Seus olhos, sua roupa, seu jeito de falar e agir, seu sorriso... Tudo tinha aquele quê que me deixou caidinho pelo dito cujo. Definitivamente era a reencarnação cármica de Maurice, eu só não sabia o quanto.

‘Marcos! Que saudade! Vem, vamos brincar de verdade ou conseqüência...’

‘Pow, não sei... ‘

‘Sim, sim! Vamos brincar, sim!’, eu interrompendo a conversa e quase pulando na frente dele.

A brincadeira seguiu, com as mesmas perguntas sexuais de sempre. Eu nem prestava atenção, estava mais ocupado em analisar cada detalhe do ser gracioso na minha frente. Com isso, percebi as diferenças nele, por exemplo, cada vez que me olhava era dentro dos meus olhos, como se procurasse minha alma. Isso era o que mais me incomodava em Maurice, ele não gostava de contato visual. Ele também malhava, estava entrando em Letras-Árabe e tinha acabado de voltar da Inglaterra.

‘Matias pergunta pro Marcos!’

’... o quê?’, eu saindo dos bíceps dele para voltar a realidade.

‘Verdade ou conseqüência, pro Marcos. ’

’... Conseqüência...’

Cochichos e opiniões depois, foi dado o veredicto: ‘Quero que você de um beijo no pescoço do Luis.’ Ele foi rápido e levantou, passando por trás de mim . Nessa hora tudo que eu pude fechar os olhos. Quando senti a respiração dele no meu pescoço, tremi to-do. Tenho um fraco no pescoço e tinha um fraco pelo cara, logo, por pouco não o agarrei ali mesmo, no meio do bar.

Algumas rodadas depois, disse que tinha de ir embora. Luiza também e já que estava de carro, ofereceu carona para os outros meninos. Despedidas e bye-bye’s e Marcos aceitou ir conosco...

Durante o caminho começamos a conversar e perguntei-lhe sobre a Inglaterra.

‘Pow, foi uma época ótima, fiz bons amigos lá... Mas meu visto de estudante venceu e tive de voltar. Eu ate podia renová-lo, mas estava com saudade do meu namorado...’, sabia que era bom demais pra ser verdade, ‘... ele estava lá comigo, mas voltou por causa do visto dele... ia voltar com ele mas ele disse que seria melhor eu esperar o meu visto vencer....então acabei ficando um pouco mais e...’

‘Quanto tempo estão juntos?’, Luzia interferiu vendo meu estado de decepção.

‘Não estamos mais juntos... er... ele me traiu... me largou por um cara de lá... quando voltei pra cá, só encontrei dele uma carta, dizendo que tinha voltado pra Londres atrás do tal inglês rico...’,

'Como assim? E você?’,

’... na hora fiquei com raiva dele, mas sabem como é... foram dois anos juntos e isso é dificil de esquecer... gostar é foda...’

Baque! Como o filme bom que vi na primeira vez que o vi, um revival do pior que ocorreu nos últimos meses com Maurice passaram pelos meus olhos quando ele disse as ultimas três palavras...

Não sei se foi mais medo de ver a possibilidade de um Maurice 2 ou de que iria talvez fosse vê-lo em todos os homens que me interessasse. Só sei que com a quantidade de álcool que estava na cabeça, comecei a me encolher no banco de trás e me deprimir.

Existe cura para coração partido?


Para ouvir depois de ler: Madonna - Beautiful Stranger

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