domingo, 30 de novembro de 2008

Mother Mother

Não tenho vocação pra relacionamentos longos, isso já foi mais do que provado. Namoros sempre começaram com muita animação mas, no momento em que me entediava, preferia terminar a confusão a continuar numa enganação. Talvez por isso me arrependa de algumas coisas impulsivas que fiz, como terminar [duas vezes] com Ale. Hoje, ele já fez bodas com o namorado novo, que não tem nada de especial ou melhor que eu [modéstia à parte]. Talvez mais paciência e vontade de ficar em um relacionamento [o que faz toda a diferença]. De qualquer maneira, mesmo já estando agora com Bruno – aliás, muito bem, obrigado – ainda sou assombrado por fantasmas desse ex. Desta maneira, para não repetir a besteira que fiz com o A, decidi relevar os pequenos sinais do B.

Isso não aconteceu de uma hora pra outra. Fiquei um tempo com isso martelando na cabeça e fiz o que faço quando estou em um dilema amoroso: procuro a mamãe.


Ainda não apresentei Dona Claudia aqui no blog, mas tenho certeza de que todos a adorariam. Para aqueles que são fãs de Queer as Folk [como eu..rs], tirem a militância gay da Debbie e você terá a minha mãe, com o jeito de falar, os cabelos ruivos e tudo mais.
E enquanto ela me servia um café, contei a situação pra ela e mostrei a foto do Bruno.


‘Ah, meu filho, você e esse seu dedo podre pra homem. Não foi de mim quem puxou isso. Parece que você escolhe o mais feio e decide namorar. Esse parece um índio’. Ela sempre critica meus namorados...

‘Mãe? Por favor? Só pedindo um conselho. Bruno não é feio. Tudo bem que ele é legal e tudo, mas é só que, de alguma forma, não nos conectamos. Sabe como conectar é difícil pra mim... digo, ele se conecta muito bem, mas já eu...’.

‘Só uma coisa: conectar não é sinônimo de sexo, né? Sabe que eu não acompanho mais as gírias da moda, então nunca sei o que vocês jovens falam’.


‘Não mãe!!! De personalidade mesmo. Da última vez que saímos, a cada palavra que ele falava, lembrava do Ale. A cada toque na minha mão, do Maurice. E no final do passeio eu já tinha estado com metade dos meus ex na minha mente e não com ele’.

‘Oh, meu querido’, disse me dando espaço no sofá pra sentar no colo dela. ‘Você e o Ale. Você sabe como ele ta? Ah, meu bem, o Ale foi o seu primeiro namorado. Eu gostava dele também. Dele e daquele outro, sarado, forte, moreno...’.

‘Mãe! Foco, por favor’, ¬¬

‘O que quero dizer é que ele foi um bom rapaz. Foi o relacionamento que você mais se envolveu, não foi? E vocês não terminaram porque o amor acabou e sim por causa das circunstâncias. Mas ele seguiu a vida dele e você a sua’.

‘É...Já faz um ano que não nos falamos’.

‘E por isso mesmo, acho que não deve ficar esperando por ele. Se tiver no seu destino, vai acontecer de vocês ficarem juntos, mas não tem de ficar triste por algo que foi tão bom. Seja feliz com o seu índio, assim como ele deve estar sendo feliz com o tal namorado. Viva o seu caminho que, quem sabe um dia, ainda não vai se cruzar com o dele de novo’.

Conversas com ela sempre são estimulantes ou reveladoras. Era obvio que ela torcia para que de alguma forma milagrosa eu terminasse com o Ale e secretamente eu também torcia. Mas enquanto olhava a chuva caindo na janela do meu apê, percebi que por mais que a presença dele me fizesse muita falta, não tinha porque alimentar esse fantasma. Meu presente era com o Bruno, desse certo ou não, e não me custava nada tentar viver esse amor.




Para ouvir depois de ler: The Verônicas – Mother Mother

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pequenos Sinais

Existem pequenos sinais que não são bons em um começo de namoro. Falta de sincronia é um deles. Não que meu namorado tenha de adivinhar o que penso ou desejo [apesar de que seria bom], mas se os sentimentos, interesses e assuntos não estão de acordo, a sensação de desconforto é certa.

Tudo começou na noite em que saímos para a balada juntos pela primeira vez, onde seríamos apresentados para os amigos um do outro.

Logo ao entrar no carro, Bruno dispara:
‘Amor, preciso te contar uma coisa, mas não sei como vai reagir’.
‘Conta, meu bem. Só vai saber quando contar’.
‘Não, vou deixar pra depois’.


Enfim, né... Fazer o que?

Ao chegar na festa, encontrei meus amigos e os apresentei. A cara de ‘que-pessoas-estranhas’ dele foi involuntária, ainda assim tentou ser social. Eu não. A minha reação foi idêntica a dele, mas não tentava conversar com as pessoas aleatórias que ele me apresentava dizendo que eram amigos dele - porque não é possível que aquelas pessoas sejam amigos. Entenda, não é preconceito. Para mim, amigos são leais, independente do que ou de quem gostam. Com isso, tenho poucos e bem diferentes [pra não dizer exóticos] amigos. Ele é o tipo popular em festas, gosta de ficar com pessoas ‘cool’ e fazer carão. Colecionava amigos de Orkut, mas não confiava em ninguém.

‘Amor, queria te contar um segredo’.
‘Conta logo, fica nesse suspense’.
‘Não, depois eu conto, vamos pegar uma bebida’.

Então, a bebida. Ele, virando conhaque a noite toda. Eu, com cerveja, dosando, pra não me deixar levar. Não que eu seja puritano, já tive porres homéricos, mas nunca na frente de namorados. Vamos considerar que isto aconteceu na segunda semana de namoro, então não temos tanta intimidade assim. Ok, relevo a bebedeira, mas me incomodou um pouco.

‘Bebê, você ainda quer ouvir o meu segredo?’.
‘Não, enchi desse suspense. Quer contar, conta. Não quer, não conta’.
‘Ah, ok. Mas era um segredo muito bom’.
¬¬


Mariana vem falar comigo e deixo ele com a brincadeira dele. Há tempos não falava com minha amiga e, enquanto atualizávamos a fofoca e fazíamos nossos comentários do lugar, vi Bruno passar pra pista de dança e começar a dançar. Logo, apareceu um engraçadinho pra dançar junto dele.
‘Luis, tenho de ser sincera. Levei um susto quando me apresentou a ele. Não que ele seja ruim, mas é muito diferente de todos os namorados que você teve. Mas espero que esteja feliz, de verdade’.

Enquanto as palavras dela deixavam mais uma pulga atrás da minha orelha, eu fui tirar satisfações na pista de dança. Não faço o tipo ciumento enlouquecido, sou sutil quando se trata disso. Bruno não estava dando mole pro carinha mas, que o carinha estava com segundas intenções, isso estava. Cheguei no ritmo da musica, fui chegando perto e puxei o garoto de lá, com direito a beijo pra esfregar da frente do abusado.
Nessa hora, meio alto, meio cansado, Bruno joga seu corpo em cima de mim. Segurando seu peso sobre o meu e tentando nos sustentar em pé na pista, ouço ele sussurrar no meu ouvido.

‘amor...eu te amo...’.

Os outros pequenos sinais provavelmente passariam batidos se ele não tivesse terminado a noite com estas três palavras. Era muito cedo, muito precipitado para tal. Não respondi na hora, mas depois, ao me questionar sobre isso [sim, ele lembrava de tudo no dia seguinte e se disse 'lúcido'], eu disse que estava achando tudo muito rápido.



Isso seria um começo pré disposto a dar errado ou eu que to vendo coisas?







Para ouvir depois de ler: Lady Gaga – Eh Eh (Nothing Else I Can Say)

domingo, 9 de novembro de 2008

Efeitos colaterais de começo de namoro

Um início de namoro tem várias conseqüências. Nenhuma que diminua o sentimento no novo BF, mas que trazem um certo momento estranho para quem estava a tanto tempo sem namorar, como era o meu caso.

A começar pela reação dos outros, porque o problema é sempre com eles. Ao mudar o status do Orkut é aquela loucura:

‘Hey! Comassiiiim ‘namorando’? Me diz quem é! NOW!’
‘Lu, pode falar... esse ‘commited’ no orkut é zoação, né?’
‘Ta namorando-o! Ta namorando-o! Ta namorando-o!...’

Claro que houve pessoas mais sutis. Outras mais decepcionadas, mas em geral a aceitação foi boa...
[Ate porque minha fama não é de ter relacionamentos muito longos... =X]

E, apesar de não ter contado ainda para meus pais por mero comodismo, o namoro está bem. Na ligação do dia seguinte, o teste que é um suplício pra mim, conversamos por mais de meia hora sobre absolutamente nada e tudo, e terminamos combinando de nos ver no meio da semana.



Foi ai que me dei conta do segundo efeito colateral de começo de namoro: a fase fofa. Temos apelidos, temos musica-tema, temos depoimentos diários. Isso tudo da parte dele. Por mais que estivesse sendo divertido, não pude deixar de me sentir meio idiota não respondendo a tudo o que ele fazia. Como se eu fosse um diabético no meio da doceria, mas ele não pareceu se incomodar por não aceitar tantos doces.

A campainha toca pra me tirar dos devaneios. Maurice [!] estava na porta. Como quem pega ar antes de mergulhar eu respiro e abro a porta.

‘Vim pegar minha camisa que esqueci aqui outro dia...’.
Camisa devolvida, o convidei para um café.
‘Não, obrigado. Eu só passei pra isso mesmo [...]. Vi que você ta namorando, quem é o cara?’
‘Se chama Bruno, você não conhece...’.
‘Ah, claro... Bem, tudo bem então, só perguntei...’.
‘E a faculdade como ta?’
‘Ta boa. To num dormitório cheio de caras gays, você não imaginaria... Acho que até o faxineiro é gay... blá blá blá fulano me deu mole blá blá blá transei com não sei quem... [ele ficou mais uns dez minutos contando vantagens sexuais pra me deixar irritado – e me deixou].
‘Que bom que você ta conseguindo o que quer...’.
Nessa hora ele para, olha nos meus olhos com cara triste e diz: ‘é.... tô conseguindo mesmo...', baixa a cabeça, se vira e vai.

E ao fechar a porta e chegar à conclusão de que Maurice já tinha perdido todo o significado que tinha pra mim, chego ao terceiro e derradeiro efeito colateral de começo de namoro em que ‘quem está por dentro quer sair e quem está por fora quer entrar’. Haja força de vontade.


Mas no dia marcado, Bruno aparece pontualmente, bem vestido e com o sorriso mais luminoso do mundo. Nesta hora lembrei de algo que um amigo escreveu:

"Sabe aquele abraço que te dá vontade de ficar sempre mais um pouco, e que tu só encontra naquela pessoa que não existe mais? Esse é o sorriso que o tal abraço provocava."

Foi quando vi sentido na frase. E puxei ele pra dentro pra só deixá-lo sair no dia seguinte...







Para ouvir depois de ler: Moldy Peaches - Lucky Number Nine

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

De repente é amor?

Todo dia 15 é a mesma coisa, sento na mesa da sala com o dinheiro recebido de um lado e as contas do outro e passo pelo ritual sofredor de pagar as contas.
Na maioria das vezes pouco sobra para as minhas coisas e, com a ‘profecia de jornal’ valendo para aquela semana, não foi diferente. Depois de tantas subtrações e divisões sobraram exatamente 50 reais até o fim do mês. Não era o fim do mundo, mas podia me valer uma noite de sábado.

money, money, money, must be funny in a rich men's world

E em momentos tristes como este de ver o seu dinheiro se esvaindo, pratico o luxo que me cabe: ligo a televisão para esquecer a pindaíba. E como o destino também vem via satélite, navegando entre canais, acabo por achar uma reportagem sobre um show que teria naquele sábado da banda Vive La Fête, cujo ingresso custava exatamente os 50 reais. Conhecia um pouco a banda e a achava legal, mas ao ouvir o preço e quando seria, achei que era um sinal, ou então muita coincidência.

E num ato de total insanidade financeira comprei o tal ingresso. O pior que depois do meu impulso percebi que nem sabia onde era o evento como nem tinha com quem ir. Bem, tinha de achar alguém para ir comigo, porque a probabilidade de me perder era quase certa. Telefone na mão e liga-se para os amigos. Tive mais pessoas perguntando quem eram eles do que me dando certeza de que iriam. Mas houve uma resposta.
Ok, não foi por telefone e sim por MSN.

Seu nome era Bruno. Ele havia me adicionado há alguns meses atrás sobre o pretexto de que havia me visto numa festa que nunca tinha ido. Já o havia conhecido fora da rede, na parada gay, onde só trocamos palavras e olhares e nos perdemos na massa. Não sabia como isso iria acabar, mas ele me pareceu bem entusiasmado para ir comigo e, além do mais, pelo menos já não estava sozinho para ir ao show.

Na noite em questão, nos encontramos num shopping e seguimos de taxi até lá. Ele estava de terninho e calça skinny, no melhor modelo da moda old London. Ele era um pouco sério, mas aos poucos fomos nos soltando e conversando. Antes de entrar, já falávamos de família e ex-namorados. Era como se fosse uma intimidade natural, onde nos conhecíamos e procuramos nos conhecer mais.

Entramos, bebemos e conversamos ao ritmo dos DJs, que eram ótimos. A decoração estava muito bonita e começavam a soltar a fumaça para dar um clima ao show que iria começar. Já sabíamos o que ia acontecer, mas estávamos indo devagar. Havia aquela lenta troca de olhar, ate que resolvi tomar uma atitude ousada e segurei a mão dele. Tinham muitas pessoas, algumas dançando outras se preocupando em manter a pose.
E, entre a fumaça e as luzes, no balançar da musica e dos meninos com calça skinny florescentes, nos beijamos. Aquele beijo tímido, porem não pesado já que estávamos bem no meio do povo.


‘Desculpa, para algumas coisas não tenho vergonha, mas para outras ainda é meio diferente pra mim...’ disse Bruno, abaixando a cabeça com um pouco daquela vergonha que se confunde com charme. ‘É, um pouco pra mim também. Da última vez que beijei em publico foi com o meu namorado...’, afirmei ao ver uma pseudo-indie quase batendo palmas pra nós.
‘Bem, esta vaga ainda não foi preenchida, foi? E eu bem que estou procurando alguém assim como você...’, oi?!? Da onde veio isso? ‘Isso é uma proposta?’, prendi um pouco a respiração e fui para o meu modo de raciocínio. Ele era um cara ótimo, bom papo, interessante, beija bem... ‘Tudo bem se não quiser aceitar, só sei que to curtindo muito estar aqui com você’. E ele me pegou pela cintura e me deu um beijo de verdade. No meio de todos e ao mesmo tempo com somente nós dois. Eu não ouvi sininhos, mas senti as pernas tremerem.

‘Sim.... minha resposta é sim...’.

E as guitarras começavam a anunciar o início do show e o começo de um namoro.
Seria esta a vez que daria certo?






Para ouvir depois de ler: Kylie Minogue - 2 hearts