domingo, 28 de junho de 2009

Rise



"A maquilagem diz-nos mais que o rosto" (Oscar Wilde)




Oh, As férias! Às vezes seria interessante se durante a vida pudéssemos dar paradas estratégicas para organizar os pequenos problemas, como quando você a arrumação de armário que sempre é deixada de lado ou quando resolve colocar em ordem os livros e dvd’s na estante. É preciso tempo, um som ambiente muito bom e força de vontade para não deixar a arrumação pela metade. Não foi bem por isso que parei de postar. Meus dvd’s ainda estão desarrumados. Acontece que às vezes me dá vontade louca de trocar tudo do lugar, tirar as fotos, de fechar todos os textos mazomenos, de fazer algo diferente ou ser diferentemente igual... É loucura, é TOC, o que seja! Mas depois de um mês sente-se falta, né. E é sempre mais difícil voltar. Não se sabe onde parou, o que já se fez ou o que ainda falta fazer. O mais estranho é como as coisas mudaram neste meio tempo.

Fábio, por exemplo. Agora ele dorme no trabalho para economizar tempo. Não nos vemos mais. Ele só sai do escritório para beber na Lapa e pedir a comida pelo China Inbox – orgulha-se da sua recém adquirida habilidade com os pausinhos. E cada vez mais sente que havia vendido a sua alma, infelizmente por um preço muito a baixo do mercado. Mas enquanto ocupasse a sua cabeça com trabalho pelo menos ganhava algo em troca. Diferentemente do seu ultimo relacionamento com um jornalista niteroiense, que ocupou a sua cabeça, seu tempo de trabalho e uma gaveta no seu armário para terminar com uma ligação malcriada. Tempos difíceis, mas que iam melhorar. Tinham de melhorar.

Já Henrique figurava o lado oposto. Desempregado, sem faculdade e com um namorado endinheirado. O sonho de todo gay? Não. Mais e mais ele ficava dependente de Rogério. “Vamos sair?” “Não sei, deixa eu perguntar para o Ro.” Foi o final de pelo menos três ligações com ele. Também já estamos há algum tempo sem nos ver. E por mais que ríssemos do seu momento víamos que ele não parecia feliz daquele jeito – até porque a culpa era exclusivamente dele. Era falta de oportunidades, mas esta situação também ia melhorar. Tinha de melhorar.


Não posso dizer que não tenha desperdiçado nada, pois a minha distancia também foi devida a causa de financeiro-amorosa. Na verdade foi uma epifania, um insight de lucidez. Era a saída do trabalho na livraria, quando um colega me dá carona para casa e fecho a porta atrás de mim e faço um jantar e durmo. Isso acontecia praticamente toda a noite mas nesta em especifica ao fechar a porta eu me vi dentro do meu maior medo. Era uma rotina. Não a rotina produtiva, mas a rotina confortável do “é esta é a minha vidinha e estou ok com isso.” As portas dos meus vinte e um anos e eu me vejo ganhando dinheiro com algo completamente diferente do que eu tinha planejado. Não era este o Luis que eu via quando era criança, ou antes de entrar na faculdade. Não era este o caminho que eu queria tomar, então porque eu deixei as coisas continuarem o mesmo rumo? Sei que na ultima temporada havia falado sobre o ensino que lobotomiza e não inspira. Mas quando o rumo que se toma vai em um caminho diferente do que traçou você senta e deixa as coisas rolarem? Bem, eu não. Dá comichão, pinica. Então abri-se um projeto paralelo e fecha-se outro. Tudo para ver a minha situação melhorar. É a vida.


Então sem mais delongas eu volto a vida online com meus posts semanais neste curto-logo post de retorno e apresentando a vocês a temporada 3 deste blog:


Para quem é carioca, Ipanema não é só um lugar é um estado de espírito. E a minha vizinha tem sido palco de boas historias então nada mais justo de homenagear a ela.







Para ouvir depois de ler: The Gossip – Heavy Cross

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ato final: Gravidez [in]desejada



[ O amor maternal faz-nos ver que
todos os demais sentimentos são enganadores ]
- H. Balzac




Hospitais sempre tiveram um ar estéril para mim. Salas de esperas beges com enfermeiras de jaleco verde lavado e revistas duvidosas disponíveis para os que esperam. O inferno não seria muito diferente. Mas depois de alguns minutos você acaba sucumbindo e pega uma daquelas revistas para não pensar em quanto tempo ainda falta para te chamar.

Trinta e cinco minutos, duas revistas ‘Caras’ e uma receita da Ana Maria Braga depois meu nome é chamado. O médico, que havia sido indicado pelo meu pai, não era bem o que eu esperava. Dois minutos de conversa e eu já o achava um babaca machista, pois somente um escroto pode começar uma frase com “As menininhas de hoje em dia...” quando questionado sobre um possível problema na bolsa escrotal. Calça no chão e o ele faz o seu exame. Ao contrario de alguns filmes pornôs, esta é uma situação extremamente constrangedora, especialmente pela visível cara de nojo do doutor. Ele segura, mexe para cá, brinca com ele e depois lava a mão compulsivamente.

“É, cara, eu to achando que é varicocele, mas só com uma ultra-sonografia para confirmar.”, disse enquanto secava as mãos. Não sei da onde ele tirou intimidade para falar assim comigo.

“Varico... vari.. o que? Bem, eu quero saber como eu consegui isso.”

“É genético. E acontece mais ou menos na sua idade... Ainda bem que você veio cedo quando ainda estava começando...”

Eu respiro aliviado
“Que bom... mas qual o tratamento?”

“Eu preciso confirmar antes com a ultra, mas o tratamento é apenas operatório.”

“Operação? E o que acontece se eu não o fizer? Algum risco de vida?”

“Não, mas corre o risco de infertilidade.”

Convenientemente naquele mesmo andar tinha uma ultra-sonografia — com uma taxa extra, é claro. Mas eu nem me importei, pois a ultima palavra do médico ficou retumbando na minha cabeça. Infertilidade. Infértil. Do jeito que ele falou não pareceu um diagnostico e sim uma opção. E será que eu iria querer ter filhos algum dia? Mesmo sendo gay e por isso quero dizer que biologicamente eu não posso ter filhos com o meu parceiro, ate o momento procriação nunca foi algo que almejasse.

Sai para comer algo antes de enfrentar a fila no ultra-som e enquanto almoçava lembrei que um ex-namorado uma vez me disse que adoraria se seu namorado um dia chegasse para ele e lhe surpreendesse dizendo que esperava um filho dele — se fosse biologicamente possível, claro. Seria um filho do amor deles. Este é um tipo de surpresa que não temos, e juro que quando ele me contou esta historia eu dava graças a deus por não poder engravidar. Mas diante de tudo isso — de filhos de amor, de esterilidade, de almoço... — eu pensei “e se...'s" o que não foi muito difícil, pois quando voltei à sala de espera, esta estava lotada de mulheres grávidas e crianças de colo — o que tornou tudo mais perturbador.

É neste ponto que eu paro para dizer o quanto às mulheres são corajosas e abençoadas por poderem gerar vida. Naquele lugar eu via que mesmo a mais pobre e a mais rica tinha uma relação de tanto amor com o filho que é difícil pensar na quantidade de dores que ela sentiu para tê-lo. E dor é algo que nós homens não estamos acostumados. Pelo menos não como elas. Mas e se os homens pudessem ficar grávidos?

É a minha vez na sala do ultra-som. O lugar se iluminava apenas com a luz da maquina e do banheiro. O técnico me cumprimentou com a cara mais entediada no mundo, o que eu não entendia, já que ele só trabalhava dois dias na semana. Ele me perguntou o problema e pediu a receita do medico. Revirou os olhos lendo o papel e pediu para que baixasse a calça. Calça no chão novamente. Me senti até mal porque nunca um homem foi tão inexpressivo ao me ver pelado. Deita na cama de barriga para cima e besunta-se com um gel gelado. E naquela posição, vendo de soslaio formas fantasmagóricas e impossíveis de se distinguir no monitor que me senti realmente como uma mulher grávida e vou dizer que não senti conexão nenhuma com aquilo. Ainda bem, pois engravidar com vinte anos não ia me fazer bem mesmo.

Sai do exame e liguei para Edu dizendo que tinha saído do ultra-som e que o filho era dele. Ele ficou em silencio por alguns minutos tentando entender o que havia dito ate dizer que quem quer que seja que tinha ligado errado, então eu contei tudo, do médico babaca ao desejo de gravidez. Ele riu. E todo esse pensamento sobre filhos, médicos e gravidez terminou naquela noite, quando passei mal provavelmente por algo que comi no almoço e virei a noite vomitando. O episódio todo me rendeu uma semana de piadas sobre estar grávido. E embora isso tenha passado, eu não ainda não marquei a operação e não sei se vou marcar. Tenho preocupações financeiras maiores agora e isso não vai me matar.




Agora eu deixo você. Obrigado por ter me acompanhado, falado, ouvido ou pensado mas fecho a segunda temporada aqui e me dou umas boas férias. Não será muito tempo, mas o suficiente para que tenha muito mais para contar quando voltar.

Vocês ainda não se livraram de mim. Beijos, L.C.