segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Onde liga?



“I just want to be young and silly”
Georgia "George" Lass, Dead like me.




Tudo começa em uma sexta-feira.
Não somos Katy Beth Terry, mas eu, Luis e Marc temos nosso próprio ritual de procurar um bar para desabafar, conversar ou simplesmente falar besteira. O bar que temos ido muito é o Sociedade Secreta na Rua Voluntários da Pátria, uma rua em Botafogo cheia de bares que enchem graças os clubes e a parte cultural que tem em volta.

Um bom happy hour sempre começa com uma polemica a ser discutida. Nem tão polemica, mas Luis contou que tinha terminado com um cineasta que vinha saído a dois meses. Alias, foi através dele que nos conhecemos. Eu trabalho com fotografia, Luis com design e Marc com jornalismo. Juntos alem da dominação global, planejamos editorias, zines, clipes, mas nada que saia muito do terceiro copo e quando eles me chamaram para escrever aqui, o “guilty pleasure” deles era mais para acabar com a discussão entre os dois. Marc chama o garçom pedindo mais uma cerveja para apaziguar os animos.

“A nossa sorte é que não engravidamos, porque o que escolhemos de homem ruim...

“Nós? Ta nos incluindo nisso, é?”, disse Luis enquanto servia.

“Ué, ate onde eu vi algum de nós não está solteiro? E eu pelo menos tenho o Andrezinho, e as senhoras que estão encalhadas?”

“Nem vem com essa, Marc. Sexo casual com um garotinho de 18 anos não é um relacionamento minimamente saudável.”

“Ainda bem, porque estes são os piores que existem.”

“Olha, não sou a favor do cafajestismo dele, mas tenho de concordar com o Marc. A safra de homens bons está ruim, meus caros. Ou saímos com os sapos ou ficamos a imaginar o príncipe sozinho em casa”, repliquei.

“Pois eu ainda acredito no amor, em encontrar alguém e ser feliz.”

“Porque terminou com o cineasta, então?”

A conversa continuou, mas a imagem dos dois opostos na mesa de bar e na vida amorosa ficou na minha cabeça.
Quanta gente interessante e solteira não está aí fora, a procura mesmo depois de decepção depois de decepção? Ao mesmo tempo quanta gente não está criando e destruindo expectativas próprias e dos outros em um eterno jogo de quebrar corações?
Afinal temos de admitir também que a flexibilidade de se ficar com alguém do mesmo sexo permite permutações que mais atrapalham do que ajudam, neste caso. O cineasta foi meu ex e eu já havia ficado com o Luis. Se fossemos heteros, esse tipo de situação nunca aconteceria porque no meio disso tudo ia ter de ter uma mulher no mínimo. Esse tipo de idéia me levou a minha teoria de que nós, gays, ficamos com o pior dos dois arquétipos sociais, pois ao mesmo tempo em que alguns ligam seu coração ao sonho de terem um relacionamento com o cara lindo e rico te levando pra Narnia e te fazendo feliz para sempre, como manda toda boa comédia romântica temos também aqueles que o coração é ligado diretamente ao pênis e que a performance sexual se torna vital, mesmo que ele não tenha vários parceiros. De qualquer forma, nem o que acredita em conto de fada, nem o que acredita na vida como um filme pornô é feliz. E todos contribuem para a roda de frustração e fantasia que terminam em mesas de bar.

“Ah é? Se eu sou o machismo pornográfico e o Lu é o romantismo feminino, você é o que, Thi?”, diz Marc em um meio tom de escárnio.

“Não é obvio? Ele é o que gosta de sofrer... Tem o coração ligado ao cérebro, um curto circuito ambulante. Já passou o que? Um ano, dois e você ainda está nessa do Eduardo?”

“Pois é, eu parei pra pensar nisso esses dias. Às vezes acho que não sinto nada. Às vezes dói um pouco, sabe. Não quero vê-lo, mas sinto sua falta. Talvez apenas tenha de reaprender a viver sem ele...”

“Assim como ele o está fazendo sem você”, disse Luis colocando a mão no meu ombro e levantando seu copo. “Para todos aqueles com coração partido, um brinde. A noite pertence a nós.”



E você? Aonde seu coração está ligado?

3 comentários:

  1. eu nunca liguei o meu coração, ele permanece com selo da loja, virgem, e vazio de experiências.

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  2. são esses sentimentos que nos moldam ao longo da vida. não se desespere, porque só a gente sabe o quanto e quando dói algo em nós. e, o mais importante, a gente sabe que uma hora passa. :)

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  3. Acho que meu coração está ligado nas duas voltagens por isso fico igual a ferro velho: vivo queimando algo.

    Esse lance dos gays serem ligados nessas duas esferas existe, mas um cara hetero pode viver nessa mesma dualidade, afinal, sempre existe aquele lance de 'mulher pra fazer sexo' e a 'mulher pra se casar'.

    Se for ver, nessa história toda a gente nem está tão na pior assim, parafraseando Luisa Marilac.

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