domingo, 17 de agosto de 2008

Contra a natureza?

Às vésperas dos meus dezessete anos, mamãe sentou comigo para uma conversa séria. Ela disse: “Não quero ter um filho com vida dupla, mentindo pra mim. Então quero que seja sincero e me diga: você é gay?”

Eu engasguei, tossi e no final não pude mentir. Poder se assumir deste jeito é uma chance de poucos. No começo foi meio tempestuoso: as primeiras festas, os primeiros namorados, a primeira noite fora de casa. No final deu certo e hoje não imagino minha vida sem ser assumido, seja pelas coisas boas ou pelas situações estranhas que ela trouxe.

Na última sexta foi comemoração dos calouros na minha faculdade. Como havia faltado na minha sexta quando fui calouro, decidi aparecer nesta. Os resultados não poderiam ser diferentes: festa de faculdade + bebida liberada = loucuras e arrependimentos no dia seguinte. A vodka e o whisky rolavam soltos e todos muito alegres dançando e cantando e zoando com os calouros. Eu, que não dispenso uma boa festa, entrei na dança, e lá pela quinta ou sexta dose fui me sentar no canto pra me recompor porque já começava a dançar fora do tom.

Nessa hora, Camila sentou do meu lado. Ela entrara no mesmo ano que eu e éramos bons amigos. Fazia o tipo colorida, sempre com uma roupa que combinasse com a cor atual do cabelo, que constantemente mudava. “Posso sentar com você?”, disse sorrindo com seu cabelo verde e casaco laranja, à la Clementine. Além de irreverente na forma de se vestir e engraçada, ela era muito bonita. Conversa vai, conversa vem e com mais uma dose estávamos a centímetros de distância, praticamente com ela sentada no meu colo. Quando percebi a situação, pedi licença e fui dar uma volta. Por mais que rolasse uma vontade estranha de ficar com ela, não seria certo. Nem só pelo fato de eu ser gay, mas também porque a moça era comprometida.

'o que que eu to fazendo?!?'


No caminho de volta, pensamentos como “O que mamãe diria se ficasse com uma menina?”, ficaram na minha cabeça. Mas no dia seguinte tudo o que eu pensava era “Juro que nunca mais vou beber!”


Para ouvir depois de ler: Kate Perry - I kissed a girl

2 comentários:

  1. Nossa Luis, nessa sentada para conversar eu já gelaria. Já passei por isso e neguei. Foi estupidez, mas... eu não consegui.

    E continuo assim. Não conseguindo. Menos estúpido.

    Abração,
    Lucas.

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  2. Ue, nao entendi. O que ha de errado em beijar ou ficar com uma menina sendo assumidamente gay? Eu sou gay e beijo meninas, amigas na verdade, mas n me sinto nem um pouco incomodado com isso. Uma vez fiquei com uma amiga e a gente deixou a coisa rolar num tanto q quase acabou na cama, mas eu disse nao, chega pq eu sei q nao consigo pelo falto se nao me atrair sexualmente, mas o fato de eu ser gay e ter ficado com ela, nao e certo, nem errado na minha opiniao. Nunca escondi dos amigos nem da faculdade que eu era gay; temos q ser sinceros com nos mesmos, nada mais

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