sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Sobre frutos

Eu costumo analisar pessoas. Sou daqueles que, a partir de um fato não mais que comum, começo a viajar em teorias, lembranças e histórias.

No começo da semana, entrou uma mulher um pouco mais velha que eu no ônibus e sentou na minha frente. Com ela, duas crianças muito novas. O recém nascido no seu colo fixou o olhar em mim de forma constrangedora e ficou a rir com aqueles grandes olhos negros e brilhantes. A outra, com quatro anos acredito, pulava, brincava e sorria. Mas o que me prendeu mesmo na cena foi que, apesar de estar limpando meleca de uma e pedindo para a outra sossegar, a mulher tinha no rosto o mais sincero sorriso, aqueles de felicidade verdadeira. Como se até as pirraças e doenças das crianças fossem algo fascinante.

'eu odeio germes'

Nunca parei para pensar na possibilidade de ter filhos. Na verdade até achava uma bênção ser gay e não ter de me preocupar com engravidar do meu namorado, mas vendo aquela cena não pude deixar de sentir uma pontada de tristeza por mim e felicidade por ela. Comentei isso com meu melhor amigo de todas as horas, Henrique, que sempre consegue definir bem as minhas confusões e confissões sentimentais:

“Eu senti a mesma pontada quando tava namorando o Diogo. Parecia que, por maior que nosso amor fosse, jamais daria frutos. A idéia de não ter frutos do amor, só frutos do coração, na época, me deprimiu. Iria adorar a surpresa de ouvir dele que estava ‘grávido’ de mim ou de ver que nosso filho teria os meus olhos e o sorriso dele. Mas o fato nunca me fez me arrepender da minha condição de gay.”

Henrique é um romântico ao extremo, o que faz da sua opinião algo questionável. Entretanto, sua idéia não parou de martelar na minha cabeça. Como seriam meus filhos com os homens que amei?

Com filhos ou não, a única verdade é que agora, definitivamente, não é o momento para se ter um.

Filhos demandam estabilidade financeira e um companheiro de verdade, coisas que no momento ainda me faltam.

Mas quem sabe um dia...


Para ouvir depois de ler: Madonna – Papa Don’t Preach.

Um comentário:

  1. Nossa, vc escreve muito bem, sabia? Amei esse post. Eu, ate mudar de pais achava q estaria confinado a ser um gay sozinho e triste, e pior, sem filhos. Moro na Irlanda ha 3 anos,amo um irlandes ginger(pintadinho e todo vermelhinho), e sim, penso seriamente em ter filhos; ta , ja aceitei q a adocao seria nossa, digamos, unica opcao, mas n sinto mais essa falta de ter um pirras com a cara dele ou com meu cabelo, haha. Nos queremos amar alguem juntos como amamos um ao outro e e isso o q importa. Eu sou um gay feliz e quero ficar ao lado do meu ginger e ter filhos com ele
    beijos
    ro

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