[ Continuação de Teorias ... ]
Com o natal chegando perto, a carga horária no trabalho aumentou. Logo, livros e livros tornaram a fazer parte da minha vida. Inclusive estava pensando em escrever um. Provavelmente ia parar na sessão infanto-juvenil gay, um fracasso de vendas. E enquanto imaginava a trama, e da minha vida posso tirar varias, senti um toque no meu ombro.
‘ Oi, você trabalha aqui? Pode me ajudar a procurar um titulo? ’, disse o moreno de terno com um sorriso educado e barba por fazer.
‘ Awn...Claro vamos em um terminal... ’, respondi sem graça saindo dos devaneios literários.
Ele estava procurando um livro sobre a psicogênese da língua escrita e começou a contar como ela levou a teorias construtivistas. Não prestei atenção em uma palavra, só nos olhos deles que não saiam de mim. Ele me pergunta minha opinião sobre o assunto.
‘ Desculpa, não posso ajudar. Só leio livros de arte e romances franceses. ’, cortei antes que ele continuasse sua aula em plena loja.
‘ Romances são fantasias. Existem problemas reais mais interessantes e instigantes para se ler... ’, disse com o desdém de como se fosse achar um exemplar de ‘Sabrina’ nas minhas coisas.
‘ Eu gosto de fantasias. Dão a falsa impressão de que um dia podem acontecer comigo. ’, rebati seco, porem sincero.
Ele abaixa a cabeça e vira ate ficar perto do meu ouvido: ‘Você não acredita que romances podem acontecer?’
Visivelmente sem graça, respondi que não como quem diz sim. Ainda bem perto de mim ele pergunta que horas que saio do serviço.
‘ Desculpa, mas não dou essa informação a estranhos. Especialmente os que não levam livros. ’
‘ Não seja por isso. ’, puxa um livro qualquer da estante, ‘ Embrulhe este pra presente. ’
Quando pego o livro ele me puxa meu braço para centímetros do seu rosto.
‘ Meu nome é Jonas, mas pode me chamar de Jô... Muito prazer. ’
O momento que mais me atrai é sempre o flerte. Há algo na leve dança de olhares que dizem o que as palavras não querem dizer e nas palavras que saem sempre denunciando segundas e quartas intenções que me deixa louco. Ele paga o livro e se vai. Faltava uma hora e meia para que eu saísse.
Não foi surpresa quando sai deparar com ele em um café logo em frente ao lugar lendo o livro que havia comprado. E embora possa soar romântico agora, o que passou na minha mente era que o galante rapaz podia ser na verdade um psicopata maníaco hater de filme americano. Prevenir é melhor que levar coió.
‘ Se incomoda se caminhar com você? ’
‘ Pode, é um país livre. [...] Por acaso você ficou me esperando sair? ’
‘ Não, foi mera coincidência... Eu estava lendo o livro que comprei... ’
‘ ahãm, sei... Assim como é coincidência o caminho da sua casa ser o mesmo que o que eu vou fazer... O que você quer? ’
‘ O que eu quero? Nada, é apenas uma noite agradável e eu estou caminhando nesta direção também. Alias, você não está indo pra casa agora? ’
‘ É, estou... O meu dia foi cansativo e... Hey, você não é nenhum maluco psicótico, né? Porque aviso logo que tenho 8 kilos de livros nessa bolsa e não tenho medo de usá-la!’, “Cem Anos de solidão” e “Dom Quixote” podem ser usados como arma branca.
‘ Uau, me ameaçando... mas foi você que puxou papo na loja. O que VOCÊ quer comigo? ‘, disse, num tom malicioso querendo uma resposta ― que eu não ia dar.
‘ Eu estava apenas fazendo meu trabalho. Reclamação direcione a gerencia. ’
‘ Eu tenho uma reclamação a fazer! Porque você não consegue olhar nos meus olhos enquanto diz isso?!? ’
Pouco a frente de onde estamos meu ônibus chega. Eu queria continuar para ver onde essa conversa ia chegar, mas ele viu nisso uma deixa.
‘ Este ônibus serve pra você, não serve? Porque você não entrou nele? A conversa está interessante assim? Admite o que você quer comigo, vai... ’
‘ Não seja por isso...! ’, disse transtornado subindo no ônibus segundos antes dele partir e ver que ele fazia sinais para o ônibus parar.
E enquanto sentava e imaginava uma rocambolesca cena em que ele entrava em um taxi e dizia ‘siga aquele ônibus’ [o que não aconteceu ], eu recebi uma mensagem de Andre.
Ele sendo simpático e eu dando corda pra outro. Não era uma coisa justa, mas quem disse que a vida é?
Sabia que ainda ia ver Jonas. Mesmo assim, não me animei com ele, assim como não havia me animado com André.
É uma dança das cadeiras injusta, onde duas cadeiras bambas não me fariam sentar tão cedo. Mas a musica continua a seguir.
Para ouvir depois de ler: The Marcels - Blue Moon
Kra... esses flertes maneiros não acontecem comigo! Muito menos com caras gatos! hehehe
ResponderExcluirSei não.. mas acho que vc ainda ouve falar dele, hein?
abs
uau!
ResponderExcluirtaí uma coisa q não acontece comigo
Isso foi realmente de cinema!
ResponderExcluirDigo, por experiencia propria, q isso pode ser muito interessante se vc deixar rolar. Eles nem sempre sao psicopatas.
Parece q vc ficou intrigado...
Psicogênese da língua escrita? Anotei essa cantada.
ResponderExcluirBom ano pra você!
Enfil