terça-feira, 28 de outubro de 2008

Profecia de jornal [Interlúdio]

Para imprimir trabalhos da faculdade sempre vou ao mesmo lugar. La tem uma senhorinha sempre muito atenciosa com uma sala de espera bonitinha. Pelo dinheiro que eu pago a sala tinha de ser bonitinha mesmo e com o tamanho dos meus últimos trabalhos passo cada vez mais tempo esperando naquela sala, que se tornou praticamente uma terceira casa depois da faculdade. E enquanto olhava o relógio cuco que enfeitava a parede pensava no Rodrigo, do post passado. Era mais um relacionamento sem emoção, sem comoção, sem interesse. Não tinha vontade de revê-lo, muito menos de ligar pra ele. Lonely boy again...



‘Meu bem, as copias do seu banner ficam prontas em um instante. Você aguarda um pouquinho’ – era a senhorinha me tirando das divagações – ‘Leia uma revista enquanto isso...’.
E ela jogou para mim um exemplar de uma revista desconhecida, mas sua data indicava ser daquela semana. Vinte minutos depois já tinha lido ate o editorial. Ela não tinha dito só ‘um instante’? Ao jogar a revista na cadeira ao lado ela cai aberta na sessão do horóscopo [que eu nunca leio por achar uma baboseira]. Mas como estava com tempo e não tinha lido aquela parte, pensei “Whatahell!?!”

Leão: Reconciliação no amor.
A semana será proveitosa em todos os sentidos. Só no setor financeiro que encontrará obstáculos, mas tudo acabará se ajeitando. Deixe as decisões mais difíceis para o final de semana. Vá atrás dos desejos, mas com a sacola vazia. Deixe para trás as lamentações, culpas, mágoas.


Após ler a ultima palavra, a senhorinha brotou da terra com o meu trabalho. E a conta.

É, parece que a parte dos obstáculos financeiros se cumpriu porque essa conta era maior do que o dinheiro que tinha levado.

Devia eu me preocupar com o que viria esta semana...?

[continua...]







Para ouvir depois de ler: Nikka Costa - Like a feather

domingo, 19 de outubro de 2008

Pride

Mais um ano e mais um dia de orgulho gay. Não que eu tenha ido a muitos, este foi o meu terceiro. Ele aconteceu no domingo dia 12, onde os gays cariocas se juntaram em Copacabana [teoricamente] para reivindicar direitos, embora muitos estivessem lá para beijar e dançar. Admito que no meu primeiro foi assim também. Causei, dancei e bebi, mas depois que os trios passam o panorama não era avanço e sim de decadência. É como o que acontece com as boates gays, só que mais evidenciado.
Apesar dessa triste conclusão, mesmo assim segui neste domingo de sol para apoiar a causa. Ta bom, ta bom... Não sou tão altruísta, havia um motivo egoísta. Tinha um trabalho de faculdade para fazer, um vídeo que precisava de uma cena com multidões então lá seria perfeito. Entretanto, com receio de roubarem meu material de filmagem não o tirei a câmera da bolsa conseqüentemente não filmei tanto.

Os travestis engraçados estavam lá. As ‘tres cervejas por 5 reais’ também. A música alta, os trios com descamisados, os amigos atrasados e aqueles que não esperava encontrar. Tinha Carlos Minc dando a louca no trio e gringos dando a louca com as drag queens, muitas delas de ‘Madonna’ . Eu vi a festa chegar ao auge, mas mantive minha cabeça na maldita bolsa vendo tudo de uma distancia segura. Queria beber e enlouquecer com a massa, mas também não estava à vontade para isso.




Quando já estávamos com um grupo relativamente grande de amigos e semi-conhecidos, começamos a andar no meio da rua de encontro aos trios. Pessoas se aglomeravam nas calçadas esperando roupas inusitadas e atitudes afetadas dos passantes, o que dava ao evento um triste ar de circo onde nós, gays e lésbicas, éramos a atração principal.

Rodadas de bebida começam ser pagas e finalmente relaxo quanto ao equipamento andando comigo. Tinha de aproveitar um pouco também. E como é de sempre, quando a bebida sobe as coisas esquentam... O que neste caso não foi bom.
Sabia que Henrique gostava de mim, mas já havíamos conversado que o sentimento não era correspondido. Tenho por ele uma boa amizade, mas ela se tornou complicada quando no alto das bebidas ele começou a insistir a me beijar. Podia ser onda, podia ser brincadeira, mas para mim pareceu como alguém que dizia a verdade, ate pela insistência dele. Mas a minha verdade era uma só.

‘Você sabe que eu te amo, meu amigo. Mas não posso te amar do jeito que você quer.’

No minuto seguinte, ele dá um perdido no grupo e aparece depois nos braços de um ex a quem ele não gostava. Me senti de mão atadas, pois qualquer sinal de amizade poderia ser entendido de outra forma então foi melhor deixar a musica rolar.

Lá pelas tantas, conheci Rodrigo. Ele estava no grupo desde o começo mas não tinha reparado nele. Mas ele tinha reparado em mim. Quando estou preocupado com outras coisas meu radar apaga total, não vejo nem o flerte mais descarado. Mas diante da situação anterior e sendo o rapaz uma graça resolvi ficar com ele. E ficamos juntos o evento to-do. Se você nunca foi num evento destes, eu coloco um comparativo para que entenda o quão impressionante é isso. Marina, por exemplo, que também estava no evento e me confidenciou que pegou 25 pessoas. O gênero destas foi difícil determinar então preferi não insistir... Enfim, o moço era engraçado, comprou pipoca pra mim e fez do evento algo bem mais divertido do que eu achava que seria estando como um casal.

Já dentro do metrô a caminho de casa, descansávamos abraçados ainda conversando e rindo de besteiras. Ate que de um grupo de travestis sentados ao nosso lado, uma delas virou e disse:



‘É bonito ver uma casal assim. Estava comentando com as meninas justamente que todos os dias poderiam ser assim, com gays, lésbicas e heteros se amando sem medo de preconceito. Não tem jeito, não vamos mudar a mente deles de uma hora pra outra. Pelo menos hoje fizemos nossa parte e mostramos que somos pessoas de verdade.’






What have you done today to make you feel proud?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

No meio do caminho tinha uma pedra

Ao me deitar no domingo à noite, logo após o ultimo post [leia Outra historia começa?] tinha comigo que a minha vida amorosa iria melhorar. Estava de coração aberto para isso. Acontece que às vezes o acaso pode ser mais rápido que você. Pois, logo na segunda de manhã, ao pegar um ônibus para ir à faculdade, uma chance apareceu.

Ele era um daqueles tipos tímidos, entrando no ônibus agarrado a sua pasta. Com um casaco listrado de cinza e preto ele vem e se senta ao meu lado. Já tinha visto aqueles olhos verdes algumas vezes, mas sempre em desencontro. E, bem, num ônibus cheio, dificilmente se é romântico. Mas milagrosamente neste dia o ônibus se encontrava vazio.

Começava então a parte do relacionamento que acho mais excitante: o flerte. Ok, estávamos tímidos, mas isso não me impediu de reparar no rapaz. Na pasta dele estava escrito ‘Letras/Faculdade Z’, então já sabia que ele ia descer antes de mim. Mas me incomodou um pouco, pois ser de letras não era um bom indício. [Luan e Jorge que o digam em “ The last love-cat”].

Entretanto, antes que qualquer coisa pudesse ser dita, milhares de pessoas adentram o ônibus de forma animalesca e ele ficou lotado. O contato com as outras pessoas se torna impossível e entre nós, se torna tenso. Mas o bom de ser gay é que temos habilidade de levar o flerte a um nível não verbal não compreendido pela maioria. Sendo assim, passamos a viagem toda o mais encostados possível, não por falta de espaço mas naquele roçar quase permissivo. Haviam semi-olhares tímidos e encostar de mãos. Ele arriscou até um carinho no meu braço. O ponto dele estava chegando perto. Ele puxa o celular com tanta pressa que cai no chão. Achei bonitinho, ele estar nervoso. Pegou o aparelho e começou a digitar um numero. Imaginei que fosse o seu e memorizei. Ele desceu, mas não sem antes dar aquela ultima olhada pra trás. Assim que o ônibus começou a se mover, escrevi o numero.

'I got your name. I got your number...'

Pra ser sincero, não pretendia ligar. Ele era interessante, mas eu não estava desesperado [nem queria parecê-lo] e tudo pareceu se encaixar perfeitamente no que eu havia escrito anteriormente sobre esperança, como uma providência divina. Mas, depois de tomar um café mandei um ‘;)’ para ele.

Mensagem vai, mensagem vem. Disse que se chamava Beto e fazia Letras. Não dei muitas informações pra ele também. ”Se você for naquele ônibus pra faculdade amanhã, podemos conversar um pouco no caminho. Pretendo pegar o ônibus de 6H 55. Dá pra ser?” Claro que dava. Era um encontro pra 7 da manhã, mas era um encontro. Como é bom começar o dia assim.

Bem, acabo de chegar da faculdade e, apesar dos trabalhos e pendências, uma ponta de curiosidade me cutucou para saber quem era o boy. Lancei-me no Orkut a procura dele, então. E pensei que fosse ser mais fácil... Pesquisei por Beto, Roberto, Alberto, Adalberto e nada. Quando já estava quase desistindo lancei o ultimo nome, Humberto. E lá estava ele. O primeiro da lista...

Um sorriso escapou de mim... Vamos ler:

Humberto X
Quem sou eu: [uma música engraçadinha, mas tosca]
Idade: 27 anos [nossa, parecia mais novo...]
Orientação sexual: gay [pelo visto é assumido, que bom...]
Paixões: Desfiles das Escolas de Samba [muito carioca, mas nada a ver comigo...]
Esportes: Pedalo e malho todo dia [hmm... boa forma pelo menos...]
Atividades: Doutorado em Língua Portuguesa [...e inteligente...]
Relacionamento: casado(a) [WTF?!? Casado!?!?!? Comassim casado?]


Morri!

E o sorriso que apareceu, se apagou. Imediatamente meus olhos caem nos depoimentos. Quatro do mesmo cara dizendo que o ama mais que tudo. Procuro no álbum, e vejo sete fotos de épocas e lugares diferentes com eles se beijando. E a cada nova descoberta, uma raiva crescente do canalha com um misto de vingança. Não vou ao ‘encontro’? Vou e sacaneio ele? Havia necessidade disso, se ele era comprometido?

Quando já estava com pensamentos malignos, me sentindo a própria Betty Davis, parei e respirei. O acaso parece que gosta de ironias no campo do amor comigo e eu cansei delas. Abre-se o peito e coloca-se uma plaquinha do lado de fora: ‘Fechado pra balanço’.


Será que com jogo eu tenho mais sorte?


No dia seguinte, nem mexi no celular. Peguei minhas coisas como de costume e sai. A chuva, que sempre está presente nestes momentos dramáticos, estava forte. Ao passar perto do ponto de ônibus dele, um grande relógio marcava ‘7:01’. ‘Merda, ainda cheguei a tempo do encontro...” mas subiram vários e nada dele. Confesso que fiquei feliz de não ter de começar o dia falando poucas e boas pra alguém. Foi então que eu percebi que em pé na minha frente estava um rapaz moreno, com roupas meio playson daquele jeito que eu gostava [Maurice]. Ele também me percebeu e começamos o jogo mais uma vez... Já falei que eu adoro esse ônibus?

Deixa eu guardar essa placa para outro dia...





Para ver depois de ler: Love lied – Pink Vice

domingo, 5 de outubro de 2008

Outra historia começa?

Alguns amigos meus já encontraram meu blog. Embora alguns deles tenham dito que era legal e tudo mais, outros que leram ate o fim disseram que pareço muito melancólico em certas partes. Para deixar claro, gosto muito de elogios, mas aprendi a dar valor às críticas quando elas são construtivas. Entretanto, quanto a melancolia não tenho muito remédio, sou mesmo chegado a uma tragédia, das gregas as mexicanas, com direito a nomes compostos e dublagem ruim, então o que fazer para burlar a mesmice de sempre dizer que sinto falta de X ou Y ? Contar outra historia...



Fabio é um bom amigo que a internet me trouxe. Junto com Henrique e Marina eles estiveram presentes nas minhas primeiras festas e presenciaram meus principais romances. Por essas e outras os tenho com muito carinho, mas por algum motivo do acaso ou da falta de tempo, eu e Fabio nos distanciamos. Apenas pela internet vi seu relacionamento começar e somente nove meses depois disso nos reencontramos e finalmente conheci o príncipe, o que aconteceu no último sábado a noite.

Bem, o encontro foi estranho no começo, primeiro porque muito do que conversávamos se perdeu durante o tempo e segundo porque eu estava meio que de vela para os dois. Mas depois de algum tempo e alguns chopps já estávamos com discussões teóricas e papos nerd. Para variar perguntei como haviam se conhecido, pois adoro essas historias de começo de romance.
Resumindo, o príncipe escrevia em um blog a qual Fabio se tornou leitor. Houve o primeiro contato, o primeiro cinema, o primeiro beijo. Mas conto isso só pra situar vocês. O que era realmente interessante neles era como o contavam. Sentados lado a lado na mesa ao mesmo tempo em que narravam, se implicavam e estavam preocupados em arrumar a camiseta desarrumada em um ou um papel grudado no outro.
Ok, admito que estou carente ultimamente, mas eu achei essas pequenas demonstrações a coisa mais linda. Era a prova de que o namoro deles já tomara forma e gosto próprios, e que de fato eram íntimos.



Papo de banheiro:
“Luis, é normal odiar o namorado de vez em quando?”

“Meu amigo, faz parte de um relacionamento. Se fosse só amores você morreria de tédio. Aproveita as brigas, mas principalmente as reconciliações.”


De lá, passamos numa festinha e então voltei pra casa. Fiquei feliz de pelo meu amigo ter encontrado alguém assim e durante o caminho não pude deixar de pensar filosoficamente e concluir que amor verdadeiro é algo que existe. É complicado, doloroso às vezes, mas no final vale a pena.

E então sorrio noite adentro ao perceber que a esperança burlou minha própria melancolia e que outra historia feliz como esta pode começar.





Para ouvir depois de ler: Kylie Minogue – The One