sábado, 17 de janeiro de 2009

Alvorada pessoal

Distância é uma faca de dois gumes. Ela faz perdoar os inimigos, ela intensifica as lembranças e cicatriza feridas que não deviam fechar. Estar longe pode deixar as idéias mais claras ou afundar na escuridão. Quando deixamos algo para trás — e sempre deixamos — ao olhar o quadro geral muitas vezes veremos apenas aquilo que gostaríamos de ver. Mas quando as peças se juntas e as distancias desaparecem, é fácil perceber para onde seguir.

O telefone toca. É meio dia e ainda estou na cama. Tateio por entre a bagunça que virou o meu quarto depois da milésima reforma e acho o barulhento dentro da caixa de revistas. Katarina, a sino canadense, acabava de voltar de uma viagenzinha em que fora visitar seus parentes norte americanos e estava vindo ao Rio para me ver. ‘Ótimo!’, pensei, ‘ Preciso mesmo sair daqui’.
Uma hora mais tarde, eu já estava dentro de uma piscina em um condomínio na Barra e com um drink na mão. Era o tipo de vida besta que eu gostaria de ter, mas não tinha. Mesmo só tendo pego o fim da tarde ainda consegui ficar bronzeado [na verdade, vermelho, porque eu já não fico mais bronzeado – saco]. Conversas, martinis e camisetas da Gap depois decidimos almoçar no shopping e ver um filme.

Katarina é muito espirituosa. Falou da sua faculdade de veterinária, de que maconha não deveria ser considerada droga, da moda americana decadente, de Marley e ela e, finalmente, de Maurice, assunto que não poderia faltar. Ele estava congelando o traseiro em uma montanha no Colorado em um Work Experience furado.
Não pude deixar de sentir pena. Então ela começa a relembrar das nossas escapadas, de como éramos um casal bonito e tudo mais. Tinha de concordar. Lembrei dele dançando pra mim escondido na sala dos professores. Foi uma coisa boa. Espera. Foi uma coisa boa? Como em um vomito de tanto beber, coisas e momentos ruins de nós começam a aparecer apagando a memória fofa e bonitinha que tivemos. Maurice foi um cara legal, mas ele me sacaneou e eu merecia coisa melhor. Isso tudo foi antes dos traillers começarem. O caso era que ainda não estava bem comigo mesmo. Eram ainda os fantasmas do final do ano, mas não que fossem me abater agora. Só me deixavam apático para sentimentalismos baratos.

Acendem as luzes. O filme foi uma bosta. Não importa. O dia seguiu com o clima divertido de reencontro. Ela queria ver bolsas e eu, livros. A livraria Travessa era mais perto então a carreguei para dentro. E estou no meu paraíso. Pego uns vinte livros as quais não vou levar nenhum e me sento com ela no café para continuar as conversas e beber cappuccino. Não lembro se falávamos de Fernanda Young ou Saramago, quando uma mão pousou sobre meu ombro. Inexplicavelmente Ale estava em pé ao meu lado terminando uma ligação. Por dentro, tremi da cabeça aos pés. Por fora, estava mais feliz e bem resolvido que nunca.

‘Vou buscar mais um capuccino para nós. Você quer um também, amigo?, Kat oferece para A enquanto eu a fuzilo com o olhar. ‘Não, obrigado.’ Apresento os dois e ela foge para o balcão, mesmo tendo garçons no local. Por mais de um ano ansiei por este primeiro encontro. Não por causa dele, mas para saber como eu iria reagir. Seria sarcástico e ferino? Daria a louca e faria um barraco? Me declararia perdidamente apaixonado e sairíamos juntos felizes para sempre? E a resposta foi nenhuma das anteriores. Nós conversamos sobre a minha faculdade, sobre trabalhos dele, sobre viagens. Sorrimos e acenamos e apertamos as mãos. Fomos casuais, cordiais. Fomos estranhos um ao outro. Exatamente o que eu não havia planejado. Mas entre o convite para sentar e o aperto de mão de despedida, vi o mesmo processo de ‘desconstrução de ex’ que aconteceu com Maurice na hora do almoço acontecer. ‘A estava gordo. A era teimoso. A desistiu de mim. Por que fiquei pensando nele?’




Tempos depois quando cheguei em casa ainda com esses pensamentos rodeando a minha cabeça pude ver o quadro geral com clareza.
‘André, Jonas e Carlos não iriam me esperar para sempre. Eu não amava nenhum deles, mas poderia. Eu não estava com nenhum deles, estava este tempo todo com uma lembrança que nem existia de fato. ‘
Claro como o dia isso me apareceu. E eu sabia exatamente o que fazer.


Para ouvir depois de ler: Keri Hilson - Energy

4 comentários:

  1. Não sei nem como falar, mas o final do post mexeu comigo. "‘André, Jonas e Carlos não iriam me esperar para sempre. Eu não amava nenhum deles, mas poderia. Eu não estava com nenhum deles, estava este tempo todo com uma lembrança que nem existia de fato. ‘
    Claro como o dia isso me apareceu. E eu sabia exatamente o que fazer.".

    Só que eu ainda não percebi o que tenho que fazer.

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  2. hum...

    as vezes a solidão eh a menor companheira p se esquecer alguem

    axo q jah aprendi isso... naum fikr cm ngm pq estou sozinho e existem pessoas q kerem fkr cmg

    pensa nisso
    eu me arrependi, vc pode se arrpender tb e magoar alguem

    xx

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  3. aqui, eu acho q eu ja passei tempo demais vivendo na espera de algo acontecer cmg.

    e a distancia ja me impediu de fazer varias coisas.

    tempao q nao vinha aqui.

    bração!

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  4. acho q sei onde isso vai terminar...

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