sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mesure your life in love


“No girl should ever forget that
she doesn’t need anyone
who doesn’t need her.”

Marilyn Monroe








Um amigo que lê o blog me ligou e disse que recomeçar falando que ia recomeçar era uma puta sacanagem. E é. Mas as coisas aqui ainda não estão no seu devido no lugar. Sobram papéis espalhados, cartas sem remetente, desenhos sem rostos; nunca que em um mês eu colocaria tudo em dia. Com um ultimo trabalho para fechar o período, eu resolvi me trancar na minha bagunça particular para fechar pelo menos esta pendência. Mas como é solitário o mundo dos livros. Um romance de vez em quando anima os espíritos, mas pesquisas maçantes, analises rasas e desinteressantes são tudo o que você não quer para o final de semana. Vinte minutos depois de fechar a porta do quarto já estava tacando um livro pela janela.


[meu tipo de pesquisa]

E quando toda a pesquisa parece enfadonha apela-se para o guru da falta do que fazer: Orkut. Felizmente para mim, Fabio tinha deixado um recado pedindo para ligar para ele. Apesar de no momento em que escrevo aqui já faz duas semanas que não nos falamos, considero Fabio Braum um bom amigo. Nos conhecemos há um pouco mais de um ano quando ele namorou Henrique, meu melhor amigo. O namoro durou uma semana e quatro dias, mas ele entrou para o grupo desde então. E o tempo só trouxe mais intimidade para falarmos de nossos casos. No caso, ele ainda estava mal por ter acabado o seu relacionamento com Marcos, o jornalista niteroiense. Na minha sincera e cruel opinião o menino era, de longe, o espécime mais desprovido de beleza a passar pelo currículo amoroso de Braum, mas eles pareciam se entender e Marcos conversava bem. O caso deles ia para segunda semana, a semana decisiva para o Fabio, quando em uma festa ele recebeu um presente de dia dos namorados atrasado de um ex que não sabia que era ex. Marcos obviamente ficou puto, deixando a festa para não brigar com o namorado e deixou também o caminho livre para o outro, que acabou sendo mais um idiota-querendo-impressionar-um-cara-com-dinheiro. Antes de mais nada devo pontuar que não tenho nada contra caras com dinheiro querendo se mostrar, mas daí a achar que com um drinque e uma caixa de ferreiro rocher podem nos levar para cama estão muito enganados. É preciso pedir por favor. [Mentira, não é tão fácil assim] Moral da historia: Marcos viajou para Campinas para esquecer Fábio e está lá ate hoje. Fabio por sua vez se voltou para a única coisa que era fiel a ele: o seu trabalho. Passou pela fase “odeio todos os homens”, “o que eu fiz de errado” e “bem feito pelo diploma dele não valer de porra nenhuma” nos primeiros cinco minutos de “All by myself”, que ele sempre coloca como um ritual Bridget Jones pessoal, sendo que a personagem do livro tinha 30 e tantos anos e ele, 18. O drama não durou muito também, porque depois disto sua chefe encheu a mesa com a programação do Viradão Carioca que queria dizer que para terminar tudo aquilo a tempo ele teria que fazer um viradão no trabalho.

Na mesma hora em que chorava lagrimas e venenos com Braum, Eduardo, meu namorado, estava em um restaurante com Sabrina, sua melhor amiga desde o fundamental. Sabrina era uma dessas novas lésbicas, que tem os dois pés bem firmes no armário, na cabeça os sonhos de ‘felizes para sempre’ com o primeiro caso de balada e o discurso de que ‘ainda pode ficar com homens’, mesmo já tendo abolido da vida esta possibilidade. Ela bebe um gole de chopp e segura a mão do amigo. Falava da ironia da vida em voltar para o mesmo ponto, de que ninguém queria nada com nada, que ia cair na putaria e blarblarblar. Como todo mundo que se descobre mas não quer sair do armário, Sabrina era adepta das salas de bate papo. Foi lá que ela conheceu Augusta. Depois de dois encontros em festas de meninas e lugares duvidosos, elas começaram a namorar. Nós quatro já havíamos almoçado juntos e no segundo que coloquei os olhos na outra eu pensei que aquilo não ia acabar bem. Sabrina era elegante, inteligente e estava deslumbrada com a primeira namorada. A outra era uma caminhoneira bronca, desbocada e tinha aquele problema de auto afirmação de que precisava dizer aos quatro ventos que era sapatão. Eu não via nada de casal ali, mas preferi não comentar. Afinal, era amiga do Edu. Semanas depois desse almoço, Augusta pediu um tempo porque estava chateada com ela sem motivo aparente e porque estava tendo problemas em casa também. E assim que desligou o telefone decidiu que ir para a The Week com os amigos era o que precisava para afogar as magoas. Tudo bem que se ela foi para a The Week mesmo ela não ficou com ninguém, pois alem dela não ser muito atraente aquele lugar é conhecido por ter 25 homens gays descamisados para uma mulher que invariavelmente era a garçonete. Mas a sacanagem estava feita. Então Sabrina chorava com Eduardo o triste fato de se ver novamente solteira e sozinha e o amigo nada podia fazer para consola-la a não ser pedir mais uma porção de batatas.

No fim do dia, depois de concluir a minha pesquisa, encontrei com Edu em um bar na praia. Ele me contou que estava preocupado com Sabrina pelo seu pessimismo com a vida, que parecia para ela que a solteirice era sinônimo de solidão. O que me fez lembrar da ligação de Fabio e das mensagens posteriores dizendo o quanto estava se sentindo sozinho. Os dois eram bonitos, inteligentes e absolutos, mas então porque estavam tão assombrados com o fantasma da solidão? Porque gays tem tanto medo de ficar sozinho? “Luis, é complicado. Meu medo é de chegar aos 60, 70 anos e me ver sem familia ou amigos. E família já é difícil já que naturalmente não temos filhos e muitos dos gays são excluídos das suas famílias.”, disse Edu dando a sua opinião. Eu achei aquilo furada. Se o gay é excluído da família então a família não o ama como ele é. Não que seja uma situação fácil ou confortável para todos aceitarem, mas onde existe amor existe compreensão e, quem sabe, um final feliz. E ter filhos hoje não é nenhum problema [mérito que preferimos não entrar porque já tínhamos discutido tudo sobre nossos filhos quando eu fiquei “grávido”]. Posso estar sendo radical, mas para mim você deve sentir medo da solidão quando você não ama as pessoas. É o tal equilíbrio. Para ser amado, é preciso amar e com isso não quero dizer apenas ao seu companheiro, mas sua família, seus amigos e todos os que cruzarem sua vida. Amar sem esperar nada em troca. Então a conversa começa a esquentar. Ele diz que teve amigos que investiu muito e quando souberam de sua opção lhe viraram as costas. Eu digo que eles não estavam prontos e não sabiam amar, mas que um dia poderiam e perceberiam o quanto perderam. E a conversa vira debate e o debate, discussão. Ate que eu paro, seguro o rosto dele e digo “Olha, seu cabeça dura, eu amo você” E o beijo no meio do bar.

“Amor, nossa eu acho que tenho de casar com você. Eu ouço palmas quando a gente se beija.”

“Eu também, mas acho que não é porque nos beijamos. É a mesa no outro canto do restaurante, ta vendo?”

“Ah, então ta, eu tiro o pedido de casamento. Mas será que as palmas foram para nós?”

“Não deve ser aniversário de um deles.”

As palmas e assobios eram para nós. A mesa tinha umas seis pessoas, a maioria homens. Eduardo fechou a cara achando que eram homofobos zoando “os viadinhos no canto”.

“Amor, relaxa. E se for? Deixe eles... Deixe os urubus passeando a tarde inteira entre os girassóis.”


Ele se acalmou e eu saí para ir ao banheiro. Eu tinha acalmado ele, mas não concordava muito. Não estava perto da Farme, mas era Ipanema, não precisava me preocupar. Certo? Não. Era ruim demais o pensamento de que pessoas te odeiam deliberadamente sem te conhecer e podem faze-lo livremente na internet, na igreja, na rua, naquele bar ou em qualquer lugar. Lavei o rosto e me olhei no espelho pensando em toda aquela conversa e os assobios. É ruim o bastante já termos medo da solidão, medo que assumo que já tive, mas pior ainda é temer quando já não estamos sozinhos. É muito difícil para o mundo entender dois caras que se amam? E no final a gente ainda tem que ‘escolher’ entre ficar sozinho e triste ou junto e escondido?!? Não mesmo! Eu sou lindo, absoluto, tenho um namorado gato e não devo nada a ninguém. Quem me ama sabe quem eu sou e os que não me conhecem tem mesmo é de bater palmas para mim. Ajeito o cabelo e saio pisando firme com o meu ego lá em cima para não dar chance para os “homofobos”. Até porque para chegar na minha mesa eu tinha que passar pela mesa deles.

Eis que quando eu passei um deles me chamou, meio escondido, meio envergonhado.

“Olha, só queríamos falar que vocês dois são muito bonitos juntos. E ainda se beijando em publico! Parabéns!”, disse um senhor atrás de seus óculos de aro grosso. Logo todos os outros da mesa vieram me cumprimentar. Falaram que acharam demais, tiraram fotos, pediram e-mail. Eduardo, percebendo que eu não voltava foi atrás de mim e ao chegar naquele grupo tão alegre ficou desconcertado por achá-los homófobicos. Eu ria de nervoso, também não esperava por aquilo. O grupo era de sua maioria gay e se reuniam todos os domingos naquele bar para conversar e falar besteira. Inclusive nos chamaram para nos unir a eles. A gente já estava de saída, mas deixamos o nosso contato para sairmos uma próxima vez. E saimos rindo, sem medos do que estava por vir. E de Crossfox.




*Queria aproveitar e agradecer a galera que comenta, a galera que não comenta mas segue e a galera que não comenta nem segue, mas sempre vem dar uma olhadinha aqui. Ainda to me organizando, mas daqui a pouco volto com força total respondendo os recados de vocês. beijos, L.C. *


Para ouvir depois de ler: Little Boots – New in town

6 comentários:

  1. Lindos, absolutos e de Crossfox, que tudo!! haha.

    Eu não imagino se reagiria diferente na mesma situação, ser aplaudido por beijar o seu amado (ai que sacrifício... hehe)
    Beijos e sigo acompanhando!

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  2. muitos assuntos para comentar, mas vou me concentrar na fala do seu namorado:

    “Luis, é complicado. Meu medo é de chegar aos 60, 70 anos e me ver sem familia ou amigos. E família já é difícil já que naturalmente não temos filhos e muitos dos gays são excluídos das suas famílias.”

    ai vc fala que se a família exclui então é pq não o ama, aí eu digo: se sua mãe/pai não te ama, porque um desconhecido vai amar?

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  3. menino, eu nem consegui prestar atenção direito ao resto do post pq fikei cm essa frase martelando na minha cabeça

    “Luis, é complicado. Meu medo é de chegar aos 60, 70 anos e me ver sem familia ou amigos. E família já é difícil já que naturalmente não temos filhos e muitos dos gays são excluídos das suas famílias.”


    nao sei nem o q pensar
    xx

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  4. Cara, Boa Noite.

    Muito legal o seu Blog, deu água na boca.

    Espero ter mais dessas delicias nos seus posts.

    Espero tb trocar mais algumas ideias contigo.



    Um forte abraço.



    William Mourão - Brasilia/DF

    Blog: http://pegasusdiversidade.blogspot.com/

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  5. meu deeus! tem partes que eu super imagino sua voz contando isso! ai que saudade!
    Sim, vc é lindo, é absoluto e tem um namorado gato! to de prova que vcs formam o casal mais lindo e que ele faz super bem pra vc.
    esse post foi maravilhoso!
    e fico toda feliz de ver vc alegre assim, sabe pq?
    pq eu te amo!
    nunca tenha medo de ficar sozinho ok?
    =*

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  6. Muitas coisas para comentar... rs...

    Mas a frase que me chamou a atenção foi: "Amar sem esperar nada em troca."

    Isso é tão difícil!
    Fico pensando se existe!

    adorei a crônica!!!

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