sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Com 'T maiúsculo'

“De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo...”

Vinicius de Moraes em Corte na Aldeia



São poucas as madrugadas que estive em casa conversando no msn nestas férias. De fato não sou muito fã do programinha, mas ele ajuda a manter contato com amigos. Em certa hora da madrugada anterior estava eu a conversar com um amigo de msn que chamaremos de Dee Dee. Há tempos não conversávamos e entre ‘sds’ e ‘bjs’ ele começou a me contar sua aventura do dia anterior com o cara da teve a cabo. Seria um perfeito roteiro de filme pornô e com uma riqueza de detalhes que ele contou dificilmente aquilo era mentira. Isso porque na semana passada transou com o ex depois de uma briga. Não o ex dele, um ex meu. Ok, talvez não sejamos tão amigos assim.

Mas onde está a surpresa ate aí? É ate comum ouvirmos este tipo de historia. O sexo casual é tão difundido e gays já são culturalmente ligados a ele que historias como a de DeeDee não são incomuns, na verdade são ate esperados. Pode parecer um comentário moralista, mas não é, porque isso ficou na minha cabeça por um tempo. Não porque fantasiasse com o cara da teve a cabo, mas justamente por causa a festa parecia acontecer sem mim. Ok, eu confesso. A historia não foi o único motivo. Talvez por que ate hoje eu só fiz sexo com namorados depois de uma certa intimidade ou talvez porque que minha ultima vez ter sido com meu último namorado e já faça um tempinho que não acontece. O fato era eu estava subindo pelas paredes. E ao ouvir a historia de DeeDee eu parei para pensar que éramos igualmente jovens e bonitos e estávamos na mesma cidade, então porque raios eu estava com minha cama fria naquela noite enquanto o resto do mundo transava? Me senti Nicole Kidman e Tom Cruise em ‘De olhos bem fechados’: “Temos de conversar, mas antes precisamos fazer sexo.”

Fecho o computador e deito na cama, imaginando as possibilidades. O toque da pele quente, os sentidos se aguçando e pronto, já estava com tesão. Nesta hora a mão coça [oi!?] para ligar para este ou aquele número que você sabe que vai ficar feliz em resolver o seu problema.


JACKPOT!

Mariana me liga no meio da madrugada. Temos este costume. Aproveitei e contei o acontecido, de estar da historia do DeeDee ao final de pau na mão. Ela ficou em silêncio por dois minutos e disse: ‘Olha, eu não entendo muito [de homem], mas não sei se transar com um estranho é a solução. Seria só gozar e isso você pode fazer sozinho, não? Ok, é muito legal ver filmes em que os personagens vão trepando com todo mundo e no final vivem felizes para sempre com o grande amor que achou na esquina de casa, mas assim, não sei como te dizer, mas sexo deveria ser uma coisa meio intima para ser mais valorizada. Sei lá, para mim chegar ao ponto de fazer sexo preciso ter algum sentimento e ter sentimentos significa, que no dia seguinte não posso trepar com uma pessoa diferente como se nada tivesse acontecido. Preciso pelo menos me importar com ela.’

Não era bem a resposta que eu esperava, mas também não via algo errado porque comigo as coisas eram assim tambem. Minha imagem de sexo perfeito eram os áureos tempos do A em que ficávamos o dia inteiro no motel, em que tudo era intenso e apaixonado. E sabia que ao contrario dos filmes eu não ia encontrar aquilo de novo na esquina. Acho que certas coisas não acontecem com você porque não é da sua natureza e não adianta forçar, acabaria odiando tudo. Tenho de aceitar que sou um menino a moda antiga., sexo só com amor. Odeio essas condicionais, especialmentepara o sexo, mas acho que se pode trabalhar as possibilidades...


É apenas um beijinho doce...


Acho que vou ligar pro João...






Luis Carlos tem 20 anos e não quer fazer parte do Jonas Brothers.



Para ouvir depois de ler:
Goldfrapp - Crystalline Green

sábado, 24 de janeiro de 2009

Paranóia [ Why are you so PARANOID? ]

“Mal se encontraram, logo se olharam;
mal se olharam, logo se amaram;
mal se amaram, logo suspiraram;
mal suspiraram perguntaram o motivo de o haverem feito;
mal souberam a razão, logo procuraram o remédio.”

Shakespeare em Como Gostais, Ato V



É uma semana incomum para mim. Normalmente não tenho o costume de sair duas vezes na mesma semana, mas se não o fizesse nas férias provavelmente nunca faria. Para não perder o costume escolhemos uma festa do Grupo Paranoid, o mesmo que produz a Ultra Love Cats. Mas desta vez estávamos na Lapa, berço da boêmia carioca.

Henrique e Fabio já me esperavam na porta, olhando os relógios e batendo os pezinhos. Tomamos a primeira rodada do lado de fora e observamos os habitues e visitantes na fila. Dava pra apontar quem estava indo pela primeira vez e quem já estava cansado de ir para lá. ‘Nem fiquem olhando muito, meninas, porque as duas estão comprometidas esta noite!’, disse Henrique cortando o nosso barato. Da festa de segunda-feira, eu e Fabio terminamos acompanhados por garotos bonitos do Grajaú. Os dois viriam juntos e nos encontrariam mais tarde, dentro da festa.

Fa, Lu e Rique. XD

Estávamos na frente do Cine Lapa quando encontramos Felipe, um amigo que trabalha com telemarketing nas proximidades da Lapa. Logo ele não agüentava o lugar. Ele tinha um grupo de conhecidos do trabalho que se juntaram a nós, mas não quiseram sociabilizar. “Odeio esse lugar. Ainda mais porque encontrei esse fulano na fila...“, Felipe começava a praguejar antes da primeira tequila. Perguntamos quem era fulano e ele contou uma historia triste de um relacionamento de 7 meses as escondidas no trabalho em que eles acabaram por se separar. O fulano chegou a dizer que não entraria na mesma festa que ele porque iria se magoar se o visse ficando com alguém. ‘Você tem certeza de que ele falou isso?’, indaguei inocentemente. “Claro que sim, por quê?”. “ Bem...porque ele ta dando em cima de mim...” Nesta hora todos viram e o fulano esta ficando vermelho-roxo ao perceber que todos sacaram as olhadinhas dele. Com isso, Felipe entrou na festa conosco. Fulano ficou do lado de fora.

A festa era ‘Surububa’, comemoração do aniversario do DJ Buba. No primeiro andar rock alternativo e no segundo trash pop. Encontramos Guilherme e João, os bonitos do Grajaú, já no lado de dentro e sentamos perto do bar em cadeiras que lembravam de cinema. Conversas e bebidas e reparei o quanto Fabio parecia satisfeito ao lado de Guilherme. Era no sorriso dele que estava a contradição de quem havia dito que amor não existe. E no meu a confirmação de que ele poderia existir. João é o tipo tímido-mas-que-pode-surpreender que eu adoro. Passamos a noite toda entre ambientes, conversando e beijando. E por mais que olhares esticados de semi-conhecidos e ex esperançosos cruzassem o meu caminho, nos braços dele conseguia ficar satisfeito. E assim a noite rolou em clima de romance para mim. Alias, eu estava precisando.



Lá pelas tantas da madrugada, esbarro com Henrique e Felipe cansados da caçada. Fabio havia ido embora, porque Guilherme estava reclamando de algumas dores e, como cavalheiro, ele foi levar o menino em casa. Entre uma suspeita de dengue ou bebedeira mesmo, Fabio não acreditou muito na historia do garoto o que fez só aumentar sua raiva pois já tinha perdido a festa. Deixou ele são e salvo e foi para casa. Antes de se deitar ainda pensou o quanto estava cansado de sempre acontecer a mesma coisa em seus relacionamentos, em que o cara faz uma besteira que estraga tudo que pensava estar sendo construído. ‘Homem não presta.’

Mas assim são os encontros e desencontros amorosos. Alguns não sabem o que procuram e se jogam na massa de corações partidos, como Henrique sempre a colocar defeitos em seus pretendentes. Outros acham e perdem e vivem tentando achar outra vez o que já tinham, como Felipe e Fulano tentando esquecer um ao outro. Uns não se satisfazem com pessoas falhas e vivem a sorrindo em negação, assim como Fábio e o recente fim de seu affair. Mais outros ainda, diante de uma possibilidade real depois de tantas possibilidades frustradas se enchem de insegurança e esperança em uma contradição difícil de se prever.

“ Vê se não estraga tudo dessa vez com esse garoto, Luis. Ele parece ser um cara legal. ”, aconselhou Henrique quando voltávamos pra casa.

Eu vou tentar, eu vou tentar.







Para ouvir depois de ler: Kanye West ft. Mr Hudson - Paranoid

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Prêmio Dardos

Bem, decidi dar uma parada para agradecer a indicação da Paula do blog Rapazes de Fino Trato, a qual admiro bastante, ao premio Dardos.
Fico feliz com a indicação pois quando comecei a escrever não tinha nenhuma pretensão e ao ver este tipo de reconhecimento de colegas tão legais me faz ter vontade de continuar.


"Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, étnicos, literários, pessoais, etc. Que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."

Regras:

1. Exiba a imagem do Prêmio
2. Poste o link do blog pelo qual recebeu o Prêmio
3. Escolha outros 15 blogs para você entregar o Prêmio.
4. Avise seus escolhidos.


Ainda vou escolher os meus blogs para receber o premio, mas desde já fica registrado o meu agradecimento.

LC.

Pokerface ou o filho pródigo a casa retorna

'This used to be a funhouse
But now it's full of evil clowns
It's time to start the countdown
I'm gonna burn it down, down, down
I'm gonna burn it down
9 8 7 6 5 4 3 2 1 fun'

Pink - Funhouse


A idéia de terminar todos os affairs pareceu fácil e bonita naquela manha, mas sua execução não foi nem um pouco. Mas precisava colocar as cartas na mesa. Jonas agiu com extremo desdém. ‘Você está há duas semanas sem falar comigo. Não sei nem porque se importou em vir me dizer isso.’ Eu já sabia que ia receber uma destas. Carlos, por outro lado, pareceu decepcionado. ‘Sabe, eu queria que fossemos juntos pra Barcelona no final do ano. É uma pena que você queira terminar as coisas assim.’ Antes que possam me xingar, podem ter certeza que me senti idiota o suficiente por estar dispensando caras legais por mero capricho. Entendam, a finalidade do desapego amoroso é deixar a cabeça livre para o resto da minha vida, que é mais importante pra mim neste momento.

O telefone tocou, ‘André chamando’. Ate o ultimo momento tive dúvidas com relação a ele. Ele queria me ver e disse que teria uma festa naquela noite. Uma Ultra Love Cats. Não acreditei. Era um final quase poético. Naquele palco de lágrimas e risos só haveria duas opções para nós: ou sairíamos juntos ou nunca mais ficaríamos. Por sorte, meus amigos também iam para lá, o que deixou tudo mais divertido.



Não tenho o costume de sair na segunda-feira, o que foi estranho considerando que o lugar encheu como nunca. Mas foi só entrar para o cheiro de bebida e cigarro trazer de volta as lembranças da boêmia.

Fabio assim que entrou foi atrás de um copo de absinto. E acabou a noite com um garoto baixinho que conheceu na fila. Alias, tenho a impressão de que ele gosta de homens baixinhos. Bem, pelo menos nunca vamos brigar por homem. Matias, ex de Henrique que estava conosco, se entregou ao pseudo-queijo no meio da pista e aos braços da população dançante. Por não beber, Henrique ficou na posição de babá do grupo. Uma babá meio aérea, mas ainda assim ele me levou em casa com segurança. Conhecemos um gringo na fila que queria ser Britney Spears, e descobrimos que mais da metade da festa faz letras na faculdade. Era um começo divertido.

Em meio a cabeças balançando e coreografias de grupo, eu caminhava com meus amigos ao ritmo do som. Esbarramos com André, que estava sozinho na festa e logo ele já tinha se enturmado com todos. Por mais que a cena possa parecer bonita escrevendo agora, no momento não foi. Existem coisas como ordens de importância para mim. Para ele, o mais importante era não ficar sozinho ali. Para mim, era me divertir — e isso necessariamente não incluía ele. Satisfazendo-se em dançar conosco e me deixando de lado, André sorria como um bobo. ‘Amado, vai em cima dele!’, disse Fabio ao meu ouvido, me empurrando em direção a ele. Nos beijamos em um beijo vazio e meio sem contexto. Ele queria dançar e eu também. Então sem dores, deixei que a pista terminasse de separar a gente enquanto eu me dirigia ao bar. Não foi necessária nenhuma palavra para saber qual final teríamos.

A noite era eterna no lugar e sua mágica estava no encontro de pessoas diferentes e a separação dos que eram iguais. Ao zerar meu coração antes das duas da manhã, estava aberto a novas possibilidades. E ao raiar do dia, já estava com outras cartas de possibilidades nas mãos. Ainda não ganhei o grande premio neste jogo, mas acho difícil parar de jogar...







Para ouvir depois de ler: Lady Gaga – Poker Face

sábado, 17 de janeiro de 2009

Alvorada pessoal

Distância é uma faca de dois gumes. Ela faz perdoar os inimigos, ela intensifica as lembranças e cicatriza feridas que não deviam fechar. Estar longe pode deixar as idéias mais claras ou afundar na escuridão. Quando deixamos algo para trás — e sempre deixamos — ao olhar o quadro geral muitas vezes veremos apenas aquilo que gostaríamos de ver. Mas quando as peças se juntas e as distancias desaparecem, é fácil perceber para onde seguir.

O telefone toca. É meio dia e ainda estou na cama. Tateio por entre a bagunça que virou o meu quarto depois da milésima reforma e acho o barulhento dentro da caixa de revistas. Katarina, a sino canadense, acabava de voltar de uma viagenzinha em que fora visitar seus parentes norte americanos e estava vindo ao Rio para me ver. ‘Ótimo!’, pensei, ‘ Preciso mesmo sair daqui’.
Uma hora mais tarde, eu já estava dentro de uma piscina em um condomínio na Barra e com um drink na mão. Era o tipo de vida besta que eu gostaria de ter, mas não tinha. Mesmo só tendo pego o fim da tarde ainda consegui ficar bronzeado [na verdade, vermelho, porque eu já não fico mais bronzeado – saco]. Conversas, martinis e camisetas da Gap depois decidimos almoçar no shopping e ver um filme.

Katarina é muito espirituosa. Falou da sua faculdade de veterinária, de que maconha não deveria ser considerada droga, da moda americana decadente, de Marley e ela e, finalmente, de Maurice, assunto que não poderia faltar. Ele estava congelando o traseiro em uma montanha no Colorado em um Work Experience furado.
Não pude deixar de sentir pena. Então ela começa a relembrar das nossas escapadas, de como éramos um casal bonito e tudo mais. Tinha de concordar. Lembrei dele dançando pra mim escondido na sala dos professores. Foi uma coisa boa. Espera. Foi uma coisa boa? Como em um vomito de tanto beber, coisas e momentos ruins de nós começam a aparecer apagando a memória fofa e bonitinha que tivemos. Maurice foi um cara legal, mas ele me sacaneou e eu merecia coisa melhor. Isso tudo foi antes dos traillers começarem. O caso era que ainda não estava bem comigo mesmo. Eram ainda os fantasmas do final do ano, mas não que fossem me abater agora. Só me deixavam apático para sentimentalismos baratos.

Acendem as luzes. O filme foi uma bosta. Não importa. O dia seguiu com o clima divertido de reencontro. Ela queria ver bolsas e eu, livros. A livraria Travessa era mais perto então a carreguei para dentro. E estou no meu paraíso. Pego uns vinte livros as quais não vou levar nenhum e me sento com ela no café para continuar as conversas e beber cappuccino. Não lembro se falávamos de Fernanda Young ou Saramago, quando uma mão pousou sobre meu ombro. Inexplicavelmente Ale estava em pé ao meu lado terminando uma ligação. Por dentro, tremi da cabeça aos pés. Por fora, estava mais feliz e bem resolvido que nunca.

‘Vou buscar mais um capuccino para nós. Você quer um também, amigo?, Kat oferece para A enquanto eu a fuzilo com o olhar. ‘Não, obrigado.’ Apresento os dois e ela foge para o balcão, mesmo tendo garçons no local. Por mais de um ano ansiei por este primeiro encontro. Não por causa dele, mas para saber como eu iria reagir. Seria sarcástico e ferino? Daria a louca e faria um barraco? Me declararia perdidamente apaixonado e sairíamos juntos felizes para sempre? E a resposta foi nenhuma das anteriores. Nós conversamos sobre a minha faculdade, sobre trabalhos dele, sobre viagens. Sorrimos e acenamos e apertamos as mãos. Fomos casuais, cordiais. Fomos estranhos um ao outro. Exatamente o que eu não havia planejado. Mas entre o convite para sentar e o aperto de mão de despedida, vi o mesmo processo de ‘desconstrução de ex’ que aconteceu com Maurice na hora do almoço acontecer. ‘A estava gordo. A era teimoso. A desistiu de mim. Por que fiquei pensando nele?’




Tempos depois quando cheguei em casa ainda com esses pensamentos rodeando a minha cabeça pude ver o quadro geral com clareza.
‘André, Jonas e Carlos não iriam me esperar para sempre. Eu não amava nenhum deles, mas poderia. Eu não estava com nenhum deles, estava este tempo todo com uma lembrança que nem existia de fato. ‘
Claro como o dia isso me apareceu. E eu sabia exatamente o que fazer.


Para ouvir depois de ler: Keri Hilson - Energy

domingo, 11 de janeiro de 2009

Universos em movimento

Rodrigo Malaquias, 27 anos, era professor de português em um dos mais caros colégios do Rio de Janeiro. Sua aula é uma das mais engraçadas e mais produtivas de todo o curso. A fofoca que rola nos corredores é que ele é apaixonado pela professora [casada] de redação e que teriam um tórrido romance. Mas depois da terceira vez que esbarrei com ele em uma boate vi que quem provavelmente tinha espalhado o tal boato era ele [o que explicaria talvez o porque da tal professora ter se mudado para São Paulo]. Talvez por ele ter sido meu professor ou por eu ter ouvido tais conversas fora de sala, sempre que nos víamos rolava um momento estranho do tipo ‘eu-sei-que-você-me-conhece-mas-finge-que-não’. E que voltou a acontecer pela milésima vez no primeiro final de semana do ano.

A 1140 é uma boate relativamente antiga que fica na praça seca, zona norte do Rio. Foi a primeira vez que fui ao local e me surpreendi com a quantidade de ambientes diferentes, apesar de não curtir muito os locais e o preço da cerveja. Estávamos em quatro e, andando entre andares, bebemos, dançamos e causamos nas pistas do local. A certa altura da madrugada, Fabio pediu para que por favor mudássemos de ambiente, Henrique estava em um sofazinho lateral dando um amasso em seu futuro namorado da semana, Bernardo tava em seu momento ‘i’m Britney, bitch’ e eu implorei para que antes parássemos no banheiro por que o álcool já estava fazendo efeito. Deixamos Henrique onde estava porque sabíamos que não ia sair de lá e começamos a circular. Ao sair do banheiro vejo o Professor Malaquias subindo as escadas. Saco, não quero fazer cara de paisagem pra ele. Nessa hora fico estrategicamente parado atrás de Fabio, meio escondido, meio flertando com o cara da bebida.
‘Meu bem, o que você ta fazendo ae atrás de mim?!?’
‘Ai, fica parado ai... Olha, tá vendo aquele moreno alto de camisa “mamãe-to-forte” preta? É meu professor, Malaquias...Uoh, não quero vê-lo...’

‘Pera! Malaquias?!? Rodrigo Malaquias? Ele está aqui?!?’, vira e se esconde atrás de mim, segundos antes do professor virar, me ver e esticar um sorriso amarelo que respondo com uma levantada de sombrancelha. Odeio fazer isso.

Mudamos de ambiente e encosto Fabio na parede.
‘Da onde você conhece ele?!? Conta tudo a-go-ra!’
‘Ah, a gente sai de vez em quando... ele é um pouco violento, sabe, mas eu até gosto... vou até mandar uma mensagem pra ele...’, olhinhos brilhando debaixo do celular.

last night a DJ save my life


Puta mundo pequeno. Meu melhor amigo transando com meu professor. Rolou um pouco de ciúme, não pelo professor, por quem não tenho um pingo de atração, mas pelo meu amigo, que era de um ‘universo amigo’ que nunca pensei que fosse se encontrar com o ‘universo acadêmico’. O mundo gay [carioca, pelo menos] consegue ser tão pequeno e ao mesmo tempo tão abrangente que praticamente todo mundo conhece alguém que pega alguém, sendo impossível escapar das coincidências. E essas eu conheço bem. E que o ano comece...


Para ouvir depois de ler: Whitney Houston -It's Not Right But It's Ok