Eu devia aprender a dizer não em certas ocasiões... Me meteria em bem menos situações embaraçosas simplesmente exercitasse mais a minha falta de sociabilidade. Mas seguindo a máxima do Jim Carrey, dizer não pra tudo quer dizer não viver as opções que tem pra se viver. E foi justamente em um desses momentos em que eu queria muito ter dito não, é que inspiração para começar a escrever me veio.
Era uma lanchonete meio engraçada esta. Tinha uma decoração meio mambembe e infelizmente, não tinha serviço. Sentado na minha frente estava Eduardo, tentando fazer um garoto de quatro anos ficar parado por cinco minutos, como se fosse possível. O garoto corria e mexia nas coisas com aquela típica curiosidade infantil. Com a brincadeira, o menino deixa o catchup cair da mesa e sujar tudo. Então ele dá a volta para ficar de frente a sua obra de arte, me olha com seus olhos azuis gigantes e mostrando seus dentes de leite dá aquele sorriso desconcertante de quem sabia que tinha feito besteira. Eduardo limpa o menino de um jeito quase paternal e diz para ele ir atrás do ‘tio Lu’.
“Desculpe, esse menino sempre faz bagunça”, disse ele meio sem graça enquanto tentava achar alguém para limpar a sujeira.
“Ah, não, não tem problema... Criança é assim mesmo e não me sujou.[...] Ele se parece bastante com você...”
Ele riu largamente como se tivesse ouvido algo que sempre dizem pra ele. “ah, bom pra ele. Ainda bem que não é bom ser parecido com os pais, aí sim seria ruim... RS... eu sou só o padrinho, a mãe dele está vindo buscá-lo...”
“ah, desculpe, eu só...” não deveria nem ter vindo, pensei... “er, eles estão demorando não?”
“é, acho que foram fabricar a bebida. [...] Como você e o Luis se conheceram?”
Havia pouco tempo que conhecia Luis. Ou muito tempo. Sabe, eu e ele já tínhamos estudados juntos em um colégio religioso, mas por sermos de séries diferentes nunca nos falamos apenas ficávamos nos esbarrando e olhando um para o outro com aquela cara de ‘já-te-vi-em-algum-lugar’ até começarmos a nos esbarrar na faculdade e aí sim começarmos a conversar. De certa forma acho que esta história toda não ia interessar a ele então me limitei a dizer “de vista na faculdade... rs”
“Não sabia que estudava lá... Estou quase me formando. Mas qual o seu curso?”
“Pelo tempo que a gente esperou na fila esta bebida tem de estar realmente boa”, disse Bruno chegando com as bebidas junto com Luis, antes que eu pudesse responder.
Com os quatro sentados começaram as conversas completamente aleatórias, na qual me contive a sorrir e virar copos. Não tinha idéia de porque tinha sido arrastado para ali, mas estava achando aquela situação o cúmulo do bizarro. Eu explico.
Há pouco mais de um mês, eu e Bruno estávamos juntos. Até que ele decide que não devemos ficar mais por motivos aleatórios que ainda não consegui entender e terminamos. Íamos fazer um ano e quatro meses e estávamos fazendo planos. Tínhamos um pouco desgaste, é claro, mas não se pode esperar que seja primeiro mês de namoro pra sempre, não? Aí eu fico na merda, sofro um pouco, vejo filmes depressivos e volto à vida normal. Então, no meio de uma semana de aula daquelas Luis diz que precisa da minha ajuda e pede para eu encontrá-lo ali onde o meu ex e o ex dele, que agora eram namorados, marcaram de se encontrar como se todos fossem velhos amigos. Isso definitivamente era perturbador na minha cabeça.
O bom é que eu realmente não precisava falar nada já que com meia dose de qualquer coisa o Lu consegue falar por uma mesa inteira. Mas a situação não deixava de ser incomoda. A conversa girava em volta de uma viagem a Curitiba que – mais uma coincidência – todos íamos fazer em julho, mas em semanas diferentes. E no meio das historias de bebidas que esquentam e o que se pode usar com polainas, eu me afundava cada vez mais esperando a deixa para sair dali.
“Marcos, tem algum problema? Você ta tão quieto...”
“Não, eu... Desculpem, mas acho que eu vou partir... Tenho algumas coisas pra fazer e...”
“Eu vou com você!”, se precipitou Luis.
Nessa hora tive certeza de que aquele encontro era tão bizarro pra ele quanto estava sendo pra mim.
“É melhor todos irmos também, meu bem...”, disse Eduardo para Bruno, sacando o celular para tentar encontrar a mãe do menino. “a Karine já devia estar aqui para levar ele...”
Vendo as despedidas, o garotinho sai correndo e se aperta nas pernas do Luis. E ficou abraçado como se tivesse se despedindo eternamente. Foi meio triste na verdade, então Luis percebendo se abaixou para falar com ele.
E então eu pude encará-lo. Não sabia o que deveria sentir ou dizer ou fazer, mas me pareceu natural procurar os olhos do Bruno. Onde foram parar aqueles olhos que me deram esperança? Não, não procurava o cara que esteve comigo no ultimo ano, mas qualquer coisa, qualquer pista que pudesse me relacionar. E não sei explicitar o que vi, mas tive a impressão que ele também estava procurando essa esperança. Foi então que percebi. Por mais que meus sentimentos por ele ainda estivessem ali, não havia ação a ser tomada. Não havia palavra de consolo boa para me fazer esquece-lo, não havia declaração apaixonada capaz de trazer o passado de volta. Não éramos as mesmas pessoas que tinham se apaixonado. Não sei o que levou ele a não querer lutar mais por nós, e mesmo que tudo o que ele tenha me dito sobre isso seja falso, ele já tinha decidido seguir em frente com Eduardo.
Não sei se isso te parece confuso ou se deveria me explicar mais, mas no segundo em que nossos olhos se encontraram - e que pude ver que o mesmo aconteceu com Eduardo ao telefone e Luis com o garoto - percebi a ironia de nós quatro naquele lugar, desejando algo que não vai voltar. E sinceramente, este carrossel de emoções não é o que eu quero pra mim.
‘I was so blind
I could not see
Your paradise
Is not for me’
Paradise (not For Me)
Recomeço é o meu tema aqui no Crônicas. Ainda não sei se vou aderir as temporadas como o Luis fazia, mas certamente terão algumas novidades por aqui. Meu dia de postar é sempre às sextas-feiras e queria saber de você não só o que a achou do texto, mas o que acha do blog em si, coisas legais, coisas que podiam mudar, enfim obrigado pelos comentários e até a próxima semana!
Marc
Particularmente eu adoro o Crônicas e é muito interessante ler essas histórias, que são reflexões as minhas e a de muitas pessoas aqui.
ResponderExcluirSão poucas postagens mas tô sempre ansioso por voltar aqui e ver a nova.
Abração Mark!
Estava com saudades desse blog ser atualizado. E, mesmo mudando de autor, os textos continuam ótimos.
ResponderExcluirOi Querido,
ResponderExcluirSeja bem vindo, o blog é uma delícia desde da época do Luis e agora como essa nova fase é perceptivel que vai ficar cade vez mais interessante. Os textos são perfeitos, inteligentíssimos.
PS : Sou produtor e estudo a possibilidade de fazer alguma coisa de voçês integrado ao cenário audiovisual. Quem sabe uma série seguindo a linha de Farme 40 e Cariocas. Continue nesse caminho.
Adorei o texto!
ResponderExcluirTempão que eu não aparecia por aqui. tempão que eu não aparecia no meu blog.
ResponderExcluirMas hj a inspiração veio e fui visitando minha lista de favoritos e me deparei com um Marc no lugar do Luís.
E me apaixonei pela forma como Marc escreve. O que sugerir? Que continue a contar suas histórias. Já sei que minhas sextas feiras serão mais interessantes a partir de agora.
;-)
Um abraço e seja bem vindo!
gostei do texto cara..
ResponderExcluirachei o blog legal..
vou voltar mais vezes..
abração
Gostei bastante... O estilo n mudou muito.(dinamico, jovem, romantico e inteligente)
ResponderExcluirEstava com saudade do diário do Luís!Agora vou ler o seu...
P.S. To chocado!Luís e eduardo terminaram?! Foi isso o q eu entendi. Achava tao bonitinho...