“There is a man playing a violin
And the strings are the nerves in his own arm”
— James O’Barr, The Crow
Já era mais do que noite. As ruas escuras e vazias se acendem com a iluminação das festas enquanto todos dormem. Duas e trinta e cinco. As cortinas da varanda se mexem lentamente atrás de mim enquanto termino o cigarro e a garrafa de gin. São tudo o que preciso para esquecer o quanto essa época de fim de ano me deprime. São esses momentos sozinhos comigo que consigo colocar em ordem o começo e o fim do que faço. E o que eu faço? O que eu quero fazer? Faz tempo em que não tenho certeza do que eu quero da vida. E sempre tem alguém que pergunta. Nessas horas me lembro do meu chefe, gordo na superioridade da sua cadeira reclinável achando que todas as minhas reações são passiveis de análise e explicação. Fico sempre esperando ele virar pra mim e dizer que estou demitido. Por uma vez apenas queria ter a coragem de responder pra ele e pra quem mais perguntasse que eu não sei o que eu quero da vida ou se eu quero pensar em algo alem do meu próximo copo que vai me fazer esquecer que tenho de escolher alguma coisa pra mim. O mais escroto disso tudo é saber que por mais que odeie como essa coisa de chefe-funcionário funciona com bajulações e falsas compensações, eu ainda quero fazer parte dela. Digo, ainda quero ter dinheiro pra não me preocupar em ter dinheiro. Não ficar em hotéis vagabundos como este seria um começo. Melhor, já que é pra almejar, eu queria fazer duas viagens inúteis ao ano para ter fotos pra esfregar na cara de gente que só se interessa pelo que acham que sabem de mim. Ou pra tirar onda de bacana e bancar algo incrivelmente estúpido só para aparecer em uma revista e me chamarem de visionário, como aqueles riquinhos metidos a artista. Coisa de gente branca, diria Sofia. Um carro quebra o silencio da madrugada coincidentemente na hora em que meu copo é só gelo com água. É um sinal, devia estar tentando dormir.
Um último cigarro sentado na cama. A luz da rua fazia sombras sobre os lençóis que se movimentavam com a respiração dele. Não sei por quanto tempo o fiquei olhando. Armando ou Antonio. Não tenho certeza do nome. O triste é que nem precisei de muito para que fosse ate ali comigo. Se despir hoje em dia é fácil. Ser interessante por mais de uma foda é que está difícil. Era o caso dele. Uma típica boa foda e péssima conversa. E aquele ritual já era conhecido. De manhã ele pediria meu telefone. Eu diria que não tinha, mas que ele me desse o dele. E pede que ligue para marcarmos mais um encontro como este e eu nunca ia ligar. Eu nunca ligo. A previsibilidade era a parte apática de tudo. Mais algumas horas e seria um novo ano. Um ano novo, uma chance de recomeçar como alguém diferente. Gostava de pensar q na segunda feira depois do porre do ano novo eliminaria meus vícios, seria presenteado pela sorte e a partir daí tudo estaria esquematizado na minha vida para dar certo. Só que eu tinha 25 e pro meu plano dar certo deveria ter começado aos 18. Foda-se. São apenas números.
Planos quase sempre não seguem nosso cronograma.
ResponderExcluirO melhor a se fazer é lembrar que sempre há tempo pra recomeçar um projeto, um sonho, um desejo.
As vezes é assim, a gente começa a correr do meio da corrida, mas temos de persistir.
Abração!
"Uma típica boa foda e péssima conversa."
ResponderExcluiracho q isso virou um clichê, de tal forma, q mta gente usa isso atualmente como desculpa...
não acha?
a pessoa tinha uma ótima conversa, era uma pessoa incrivel, mas mta gente usa isso como desculpa para não ser visto como aquele q só quer uma foda mesmo.
ou eu tow ficando maluco?