Chuvia a duas horas. Quase três. O barulho da janela era o único som dentro do quarto assim como os trovões eram a única luz. Sentada no chão ao pé da cama ela tira fotos da janela. Falta de eletricidade a entediava. A cada flash de fora, um flash lá dentro. Não sabia o que sua ação procurava, mas iluminar a escuridão do seu quarto por alguns segundos era parecia uma resposta a altura. A cada pressão do botão, uma nova imagem aparecia no vidro da janela. A cada vez que fazia força no dedo, mais força fazia para que saísse dela apenas a luz. Estava cansada de chover. Mas sempre que fotografava, lembrava. Eram pensamentos invasivos das coisas bonitas que ficaram. Das coisas idiotas que podia ter remendado. De saudades e carências que nem imaginava que teria. Quatro anos não se lavam depois de apenas uma noite de chuva. Começou a sentir a maquina pesar sem perceber. Começou a pensar nele sem perceber. Começou tudo de novo sem perceber.
Arrastou-se a cama e abraçou as pernas procurando calor. Fechou os olhos procurando silencio. Reviveu o ultimo dia procurando explicação. E na noite escura e úmida, desejou. Primeiro para si, depois em voz alta. E percebeu que palavras, estas malditas palavras, condensam uma vez ditas. E são levadas pelo vento não importava para onde desde que fosse pra fora de si. Então gritou suas histórias para cada gota que caia. Gritou todas em plenos pulmões. Todas que lembrava e as que não lembrava. Gritou seu amor, sua loucura, seu êxtase, seu remorso, sua vingança, sua solidão. Queimou fotos, arquivos, cartas, sorrisos, pingentes, tardes ensolaradas, mensagens no espelho, palavras falsas de amor eterno, noites de sexo confusos, os cheiro e gostos que nunca mais teria, o olhar que me deu quando disse adeus. Quebrou copos e estantes desejando que fosse a ele a cair e se espatifar. Amaldiçoou cada dia que esteve ao seu lado para logo após agradecer o tempo que teve para amá-lo. Dormiu cansada com raiva de si e a certeza de que não acordaria.
Mas acordou. Acordou com a luz do dia. Acordou e se pos de pé, quando achou que não poderia. E no meio dos pedaços de destroços dentro dela, ela acordou. E já não sabia mais porque sentia dor.
[ Desafio Literário. um escritor desafia outro a escrever uma visão sobre seu trabalho. Crônica Masculina desafia: Hey, Mercedes ]
como assim uma visão sobre seu trabalho?
ResponderExcluirusar o tema principal e a linguagem do blog desafiado e escrever um conto sobre ele. Se anima a entrar no desafio?
ResponderExcluiryes!
ResponderExcluirdesafio aceito e desafio respondido. foxx, você deveria escrever também.
é porrada literária, véiiii
Gente, muito bacana!
ResponderExcluirAcabei por passar nela pra conhecer, super!