"Reality doesn't matter,
What matters is the illusion"
Whatever Happened to Dulce Veiga?
by Caio Fernando Abreu
Rubem estava na segunda faculdade, fazia cursos extras através das bolsas que conseguia e a cada novo estudo se apaixonava por algo novo. Já havia tentado tinta óleo, aquarela, marcenaria, litografia, trigonometria, dança contemporânea e mais cinco ou seis coisas que misturavam tudo e não acabam em nada a não ser experimentalismo. Há pouco mais de três anos estava casado com um cara e morando junto com sua mãe, viúva. Ele era a razão de continuar tentando mais do que só pagar as contas do mês. Nessa hora, seus olhos brilhavam babacamente ao falar do marido, o que me deu uma certa inveja. Rubem fez questão de contar que quando o viu pela primeira vez o achou o homem mais lindo que já vira e, ao contrario do senso comum, decidiu que ele precisava saber disso. A teoria de Rubem era de que se xingamos um desconhecido na rua a plenos pulmões por pisar no nosso pé, deveríamos também ter coragem de dizer no mesmo tom que achamos bonito um estranho na rua. Algo como um equilíbrio cármico, espalhar o bem ou algo assim. Então ele andou ate a fila do pão, meio tímido, meio canalha, tocou o ombro do rapaz e disse ‘você é lindo’, assim a queima roupa. Um minuto de silêncio constrangedor e o cara achou que ele era maluco. Pagou sua conta, sorriu amarelo e saiu andando. Meses depois se esbarraram em uma festa de um conhecido em comum e riram sobre o episodio. A festa durou 6 horas, mas a conversa deles durou por três anos, disse fechando com mais um dos sorrisos babaco-apaixonados. A moral da história é que amor podia estar em qualquer lugar, até na fila de pão. Que seja, pensei. Pagamos a conta e trocamos contato para montar uma exposição conjunta.
Cinco meses depois Rubem e o rapaz se separaram. ‘Tinhamos interesses diferentes’, ele disse. Eu também não voltei a pintar.
uau!
ResponderExcluirq texto foda!
mas foda mesmo!
uau!
Magnífico.
ResponderExcluirTem coisas na vida que são assim, vem e vão embora.
Faz parte do ciclo.
O que não pode ir embora com os ciclos são os nossos sonhos, nossa alegria e nossa alegria de viver.
Abração!