segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Certezas e Possibilidades




“All this time you was pretending,
So much for my happy ending”
Avril Lavigne’s Happy ending


Era apenas uma sala de espera. A contagem do relógio era acompanhada na televisão junto com a lista de embarques e desembarques. Com as passagens em uma mão e a mala fechada na outra, a minha atenção se dividia entre olhar o numero do meu vôo subir na lista e a ansiedade de que a qualquer momento alguém fosse entrar. Que ele fosse entrar. E enquanto a minha ansiedade com relação a tudo aumentava, só conseguia pensar que este era um daqueles momentos em que tudo podia acontecer, mas em geral nada acontecia.

Minha viagem era a trabalho. Tudo começou com um e-mail. Alguém viu uma foto que havia tirado em um evento e me chamava para cobrir outros em São Paulo. Hotel, transporte e alimentação alem do salário. Sou fotografo freelance, o que significa que entre um trabalho e outro é ou um marasmo ou correria para o próximo. Tinha um pouco de receio de São Paulo, a cidade que tudo acontece, mais pela certeza de que este trabalho podia se tornar um fixo e eu me mudar. No Rio tenho a faculdade, a família e os amigos. Lá teria de recomeçar tudo, não tem como não ter medo. O prazo para confirmar era ate segunda e estava na sexta.

O telefone toca e eu não acredito em quem é.

“Thi? É o Edu. Estou na faculdade e queria te ver. Você pode vir? To aqui em baixo já.”

“Eu ainda to em casa. Vou demorar um pouco, você me espera?”

“Claro”

Esperou 40 minutos. Ele não perguntou quanto ia demorar, apenas esperou. E esperou sorrindo. Sentamos no bar perto e conversamos sobre vida e projetos e contei para ele da viagem. Não sei definir a opinião dele quando perguntei o que achava, apenas achei ótimo estar ali de novo com ele fazendo planos. Ele pareceu bem curioso sobre como eu ia, os preços e tudo mais. Ficamos algumas horas conversando ate ele se despedir de mim para ir ao banco com um beijo. Na bochecha. Assim que ele subiu no ônibus, recebo uma mensagem dele dizendo que “queria ter ficado mais e ainda mexia com ele”. Nem consegui ir a aula.

Foram quatro meses juntos, dois separados trocando mensagens e a pouco mais de um mês ele estava com esse garoto novo. Não sei o que me levou a terminar e querer de volta. A única certeza que tinha era que com ele eu poderia construir uma vida. Costumávamos fazer exatamente o que fizemos naquela tarde, sentar e pensar no que faríamos e como faríamos. Agora pensando acho que é isso que sinto falta, o Edu companheiro.

A noite tinha uma festa de despedida de um amigo que ia fazer intercambio. Ele separou a casa e encheu a piscina de gelo e cerveja. Lá pelas tantas da madrugada, já devidamente alcoolizado resolvo brincar com o perigo. Sim, o famoso drink and dial. Liguei para o Edu, que estava em uma outra festa não muito longe dali. Rimos bêbados e provocamos um ao outro e ele terminou dizendo que iria fazer de tudo para ir para São Paulo comigo. Minha cabeça girou nessa hora e tudo que podia falar era que queria vê-lo no dia seguinte para combinarmos melhor. Fui dormir embriagado por uma vodka russa e pela possibilidade de terminar tudo bem. Com o cara e o emprego o que mais eu poderia querer?

No dia seguinte, ele sumiu. Não ligou nem atendeu o telefone. Tinha minha ressaca para curar e ele provavelmente a dele, mas nada era pior do que a impressão de que tudo aquilo ontem – a conversa na faculdade, o telefonema e a promessa – não significasse para ele metade do que significou pra mim. E na minha cabeça passou de tudo. Talvez poderia ter acontecido algo com ele que o impediu, talvez ele quisesse me torturar. Só sei que aquele dia passou da esperança a raiva em longas horas. Apenas no domingo consegui contato com ele, por MSN [que não uso mais, alias] e pude perguntar o que tinha acontecido. Nada, ele disse. E a sexta de madrugada também fora nada?

“Foi o álcool, ne.”

...

Já se sentiu estúpido, como se sua inteligência tivesse te pregado uma peça e em alguns segundos revisitasse as ultimas horas, dias e meses a procura do instante em que pressupôs o que te levou praquela armadilha? Foi o álcool que disse que me amava e que ia viajar comigo. E o pior é que o jogo todo estava virado para ele. Edu tinha namorado e um bom emprego e tudo o que eu tinha eram possibilidades e projeções. Nenhum fato nos unia e lentamente senti algo se quebrando. Era a projeção de nós dois, era o sentimento de nostalgia distorcida, era a confiança mutua, que seja. Apenas não queria estar mais ali. Finalmente fiz o que devia ter feito a muito tempo: me desliguei. Ao mesmo tempo que apagava suas fotos, perfis e contatos, confirmava que ia aceitar o trabalho em São Paulo e comprava as passagens. Fora com o velho e abria as novas possibilidades. Foi aí que entendi que o quanto o ato de escolher nos faz adulto. Temos a certeza que crescemos quando não deixamos outros escolherem por nós e principalmente por aceitar as conseqüências do que escolhemos. Talvez São Paulo não dê certo ou dê e eu nunca mais volte. Talvez Eduardo não estivesse feliz com o namorado e o emprego e quisesse voltar ou talvez isso nunca passou pela cabeça dele. Acho que simplesmente eu nunca fui o tipo de cara que espera por alguém ou que gosta de ficar em segundo lugar. Deveria tentar lutar por ele? Talvez, mas estava cansado demais para isso. Certeza mesmo era que o segundo sinal para o meu embarque me chama e agora não tem volta.


[continua]

3 comentários:

  1. continue mesmo q eu já tow tenso esperando pra saber como termina...

    ResponderExcluir
  2. Penso que o melhor é decidir-se por si como tu fez.
    Mas espero noticias de SP.
    Ou seja, daqui.

    Beijao

    ResponderExcluir
  3. Refletindo ainda mais, decidir-se por si as vezes é a única coisa que nos resta.

    ResponderExcluir