sexta-feira, 13 de março de 2009

Pontos de discórdia entre pessoas cordiais

"I want to be alone.
I think I have never been so tired in my life."

Greta Garbo





Quando comecei o namoro com Edu tive uma preocupação com relação aos meus amigos. O que acontece naturalmente depois que se começa a namorar é querer momentos sozinhos com o seu amado, o que acaba criando uma distância com aqueles que sempre estiveram com você. Fabio e Henrique, meus melhores amigos, conheceram o Edu na mesma noite em que ficamos a primeira vez e sempre torceram bastante por nós. Mas a verdade é que apesar da saudade deles eu não estava mais animado para baladas e madrugas de bater cabelo. Como ponto de concordância para que pudéssemos nos ver e saber das ultimas noticias depois de três semanas sem se ver marquei um happy hour. O lugar escolhido foi o ‘Um oito oito um’, charmoso restaurante no coração comercial do Rio. É certo que também queria fugir dos 40° C que fez a semana toda e beber uma gelada. Sendo assim, liguei para o Edu e disse que ia ter uma noite com os meninos.

Fábio é o primeiro a chegar. Atrasado, claro. Entra apressado no restaurante com um óculos gigante e desaba na cadeira ao chegar à mesa.

“Desculpa a demora. Ok, vamos falar. O que acontece com este calor? São 18 horas e eu estou su-an-do!”

“Infelizmente, meu bem, sudorese faz parte do charme carioca. Mas se acalme que já estamos no ar condicionado.”

“Santo foi o inventor desta maravilha moderna! Já pediu a primeira rodada?”


Junto com o primeiro copo ele me contou o verdadeiro final da saga de X. E o final, o verdadeiro final, aconteceu depois do episodio do copo na boate, onde os dois já sóbrios, limpos e com menos raiva um do outro sentaram para conversar. X vinha de um relacionamento difícil e queria liberdade, mas ao mesmo tempo estava bem só com Fabio. “E também se namorássemos provavelmente ia traí-lo por tédio, sabe. A falta de compromisso mantém a emoção”, finalizou. Naquela altura não sabia se incentivava, falava para ele mudar ou não comentava nada. Por sorte, Henrique adentra naquela hora e me poupa de uma decisão depois da terceira cerveja.

“Está atrasado, hein...”

“Desculpa, desculpa. Passei o dia na praia de Ipanema com amigos e tinha de passar em casa para trocar de roupa antes de vir pra cá... o que estão tomando?”

Outro ponto que preferi não me pronunciar na hora: a Praia. Antes de mais nada eu digo que sou avesso a elas, especialmente as cariocas. Não porque elas sejam feias – na verdade o por do sol mais lindo é em Ipanema - mas é que todas as praias tem famílias barulhentas e crianças cagando na areia e as áreas reservadas ditas ‘gays’ tem sempre um quê de social-depois-de-balada. Detesto famílias suburbanas na praia. Detesto sorrir e acenar para pessoas que querem apenas mostrar seu biceps. Detesto areia na sunga também. Por isso mantenho minha cor de nada com proteção fator 50 e meu velho wayfarer.




Fabio fecha a cara para Henrique quando ouve ele dizer Ipanema.

“Está acontecendo algo que eu não to sabendo?”, pergunto.

Era a quinta cerveja quando ele explodiu: “Ai, muita coisa. To com muita coisa na cabeça. Alem do meu ficante ser um idiota que parece ter 15 anos, do meu salário não ter previsão de sair e eu estar trabalhando sem receber nada para poder garantir meu emprego, os meus ‘amigos’ [fez aspas com os dedos] me deixaram sozinho tomando conta de uma barraca de praia com as coisas deles, enquanto eles ficaram 2h fora, brincando e se divertindo.”

“O quê? Ainda isso? Eu já pedi desculpas!”, Henrique bate na mesa.

“Conta essa historia direito...”

“Fomos a praia na minha folga ontem, eu, Henrique, Rogério e Alan.”

“Quem?”, ta a historia começa já com personagens novos que eu não tinha idéia quem eram.

“A moça sentada a minha direita [Henrique], o namorado dele, e um ex meu que vive sem nada para fazer e eu chamei para ir...”

“Você está namorando?!?”, minha memória seletiva a la Dori excluiu o resto e focou na informação faltante. Porque eu era o único a não saber de nada? E principalmente porque eu pareço ser o único que trabalha durante a semana toda?!?

Henrique sorri amarelo e diz “Surpresa! Bem, eu comecei anteontem na balada... e ”

“Ah, Luis, você continua não sabendo de nada..." interrompeu Fabio "deixa eu continuar... Enfim, o que aconteceu foi o famoso "vamos ali, é rápido." E eles voltaram acho que... 2h depois. E eu lá sozinho. Aí a mulherzinha que estava na minha frente, puxou papo porque viu que eu tava sozinho. Oh que legal. Um belo jeito de se curtir uma praia com os amigos, me abandonaram com uma gorda de biquíni!!”

“Pêra, quem é essezinho que está namorando? Como se conheceram?”

“Você o conheceu também... ele é aquele ex do Fabio que caiu de paraquedas na festa...”


“Odeio quando vocês trocam ex e não me atualizam... e porque deixaram o Fa sozinho na praia?”

“Foi apenas um mal entendido fomos no posto porque o Alan queria ir ao banheiro.”, justificou esfregando as mãos culposamente.

“Não podia ir na praia?”

“Não, não para o que ele queria...”

“E porque foram vocês dois com ele? Ele precisava de ajuda?”

“Ah, não podia perder a chance de um banheirão com o Rogério... namoro recente, sabe como é...”

“urrr...Acabei de vomitar um pouco na minha boca só de pensar nessa visão... A conta por favor!!!!”



Sou Amy-casa-de-vinho




Saímos de lá para outro bar porque o nível alcoólico é inversamente proporcional à salubridade do lugar em que estamos bebendo. Logo, saímos de lá e caímos na Lapa. Já era noite, mas o movimento ainda era pouco. Passamos o depósito, o arco íris e finalmente chegamos ao local: Sal e Pimenta. Lembro que só entrei no lugar porque eles disseram que havia videokê e eu poderia cantar Maysa. Acabei com Vambora da Calcanhoto, porque não tinha Amy no repertório. Em horas como essa que vejo que quando bebo eu não faço o mínimo sentido. Mas estava me divertindo. Terminei minha musica sem levar tomate ou qualquer outro vegetal, então tava bem. Continuei a explorar o lugar, que não era tão ruim afinal.





Quando era meia noite, saímos do lugar cantando e mexendo com as pessoas na rua. Normalmente sou bem tímido, mas como o A. costumava dizer “Luis, quando você bebe você vira Amaury Jr.” Então como ninguém queria voltar para casa, pegamos um ônibus e fomos parar em uma boate da vida, que juro que não lembro o nome. E não, eu não deixei meu batom no cinzeiro como na musica da Gaga. Na verdade eu estava resistindo um pouco à idéia de entrar no lugar. Era a cena. Era a musica bate estaca e a luz negra. Eram as travas e os paetês. Era o vazio emocional de uma pistade dança cheia que eu queria evitar. Mas eu entrei, por eles. Eram amigos e eu já tinha pagado o mico da noite. Entramos e ficamos a dançar perto do bar. Semi-conhecidos começaram a aparecer. O que eu estava fazendo ali? “Nossa, você ta sumido, hein...”, “Você não mudou nada...”. Era um pesadelo de pessoas que se achavam intimas. Fui ao banheiro fugir daquilo tudo. Lavei o rosto e como um fantasma atrás de mim Gabriel, um ex namorado meu, aparece. Ele não acredita ter me achado ‘naquele lugar aleatório’. Eu sorrio amarelo fingindo não ter morrido de susto com ele parado atrás de mim. Começamos uma conversa desinteressante e nem sei o que falo, só balanço a cabeça sem reparar no que ele esta dizendo. Eu só queria sair dali. Com um aceno eu tento sair fingindo que alguém me chama, mas ele segura o meu braço. ‘Não, deixa eu te pagar uma bebida!” e me puxa para o caixa. Eu puxo o braço de volta. Na hora, como se Mr. Hyde assumisse o lugar do Dr. Jekyll, o rosto dele se distorce em uma expressão de sarcasmo e ele diz:

“Jogo duro, você? É, eu bem que ouvi por ae que você estava namorando serio... Cadê ele mesmo?”

Eu senti asgo do ser desprezível que achava que eu era um qualquer da noite. Mas ele estava errado?, falou o grilo falante. De qualquer jeito dei um soco na cara dele e saí da festa. Já tinha bastado da noite para mim. Mas saí culpado. Realmente estava na festa e Edu nem imaginava. Me senti a pessoa mais escrota do mundo não sabendo me controlar tanto por ter ido lá como por ter agredido o imbecil na boate. Como por reflexo, puxei o telefone e liguei para o ele. Bebida e celular, uma combinação perigosa. Mas se era para contarem para ele algo distorcido, contava eu a verdade. Eu estava nervoso também, não sou de bater nas pessoas.

Comecei a falar e falar e falar e ele:

[Ele, preocupado]“Amor, tudo bem, não tem problema... você falou que ia sair... me diz onde você está agora?”

[Eu, Bêbado e gritando ]“Eu to no meio da rua de... sei lá... só que eu precisava te contar... [repete a historia]

“Lu, pelamordedeus ai é perigoso! Podem te assaltar!”


“Foda-se ninguém vai me roubar! Roubar o que? Esse celular é velho mesmo!! E vem vindo um táxi, vou me jogar na frente para ele parar...”

“Luis Carlos, não faz isso!”

“Não, ele parou antes nem precisei me jogar...” [troca as pernas-cai do salto]


“Garoto, me liga assim que colocar os pés em casa.”, desligou.

Acabou que eu estava a duas quadras da minha casa. Entrei liguei para todos que não ficassem preocupados e me joguei na cama. Conciliar amigos e namorado requer recursos alem do que o meu espírito possui. E as coisas terminam como a gente imagina? Claro que não. Maldito Murphy.

Mas não queria mais pensar. Não queria mais pensar em nada ate a tarde da semana seguinte.








Para ouvir depois de ler: Shakira – Estoy Aquí

5 comentários:

  1. Vou ser sincero... ser deixado duas horas tomando conta de barraca? Não teriam me achado, depois, pode acreditar!

    Beijos!

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  2. hummmm

    eu achei q vc soube lidar direitinho com seus amigos, mas uma dica é incluir programas de casal, afinal estão todos namorando, não é?


    agora: talvez tenha sido impressão minha, mas... seu problema não foi conciliar o namorado e o ex não?

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  3. Tenho que dizer novamente (Tô ficando repetitiva), mas Lapa é o lugar ideal pra quem quer fazer esse tipo de coisa.

    E as lembranças da minha pessoa bêbada não são das melhores (ao menos as lembranças que se encontram na minha memória, as que evaporaram com o álcool já eram).

    Abraço Lu, bom domingo.

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  4. Pois é Bob...
    E assim foi aquele feriado e todos os programas tristes com casais felizes.

    Incrível como tenho que te atualizar de tantas coisas que estão acontecendo.
    Acredito eu que nem saiba mais meu nome, posto que após alguns dias de reflexão resolvi trocar de identidade e sumir pelo mundo afora.

    Inclusive, não esqueça de ratificar que todos VOCÊS estão namorando... Eu não. [ fikdik ]
    Por isso ando evitando de sair com os casais.
    Minha vida anda meio complicadinha para um simples "felizes por enquanto" de novela das 8h.

    Arrumei um mal intento, problemas financeiros e continuo bebendo mais do que nunca. Agora inclusive começo as jornadas na 3ª feira.

    Há algo de errado comigo?

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  5. eu acho que conciliar amigos com qualquer coisa é difícil! rs

    eles dão trabalho demais!!!

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